A pol�mica possibilidade de superoferta de leitos de hot�is em Belo Horizonte, pesadelo que ronda os investidores do ramo e tem como �ltimo efeito a redu��o for�ada no pre�o das di�rias, pode sacudir o mercado hoteleiro da cidade e regi�o metropolitana antes mesmo do esperado. J� h� quem diga que h� chances de esse cen�rio, inicialmente previsto para o per�odo p�s-Copa do Mundo, em 2014, ser realidade na capital mineira j� no ano que vem, depois da Copa das Confedera��es. “Se todos os hoteis licenciados forem de fato erguidos, a superoferta vai ser um problema para este mercado j� em 2013”, diz Silvana Capanema, vice-presidente da Associa��o Brasileira da Ind�stria de Hot�is em Belo Horizonte (ABIH).
Na avalia��o de Capanema, a atual capacidade hoteleira da cidade precisa de incremento de 20% para que supra a demanda dos eventos esportivos de porte internacional e garanta ocupa��o sustent�vel para os neg�cios no intervalo entre os torneios e depois que os torcedores deixarem os est�dios em 2014. “Imagino que as pessoas ter�o bom senso e n�o iniciar�o novas obras. O que j� est� em constru��o j� modificar� o mercado. A proposta, com todos os licenciamentos, � de que a atual capacidade seja expandida de maneira absurda, impratic�vel em qualquer lugar do mundo”, defende.
Lan�amento
Na contram�o dessa avalia��o, o grupo Maio/ Paranasa e o grupo Accor anunciaram ontem a constru��o de mais um hotel na Savassi, Regi�o Centro-Sul de Belo Horizonte. O empreendimento ter� a bandeira Ibis Budget - nova marca mundial da Accor para os hot�is de categoria superecon�mica, antiga Formule 1. O empreendimento ser� constru�do de frente ao encontro das avenidas Get�lio Vargas com Contorno, ao lado do Novotel, j� anunciado pelas duas empresas. O investimento total ser� de R$ 140 milh�es. Confiante no sucesso do neg�cio, o diretor de empreendimentos do Grupo Maio/Paranasa, J�nio Valeriano descarta a sobreoferta de leitos em Belo Horizonte.

“O PIB de BH est� crescendo mais do que a m�dia nacional. Isso significa que as pessoas est�o vindo � cidade para fechar neg�cios. Por outro lado, o turismo de eventos tamb�m vem crescendo na capital mineira”, afirma o executivo. Valeriano argumenta ainda que ningu�m sabe ao certo quantos hot�is ser�o viabilizados na cidade. “Uma coisa � projeto aprovado, a outra coisa � hotel viabilizado.”
Alerta
O �ltimo levantamento do F�rum dos Operadores Hoteleiros do Brasil (FOHB) deu cart�o vermelho para os projetos de hotelaria em Belo Horizonte. A capital � uma das oito cidades sedes da Copa do Mundo em que o risco de superoferta � considerado alto ap�s o evento. Segundo o Placar da Hotelaria 2015 do FOHB, a atual taxa de ocupa��o m�dia da rede hoteleira de BH, de 74%, cair� para 52% no p�s-Copa. Haver� avan�o de 78,4% no n�mero de leitos, enquanto a demanda deve subir apenas 24,4%. “Quem pode se dar mal com isso � o investidor, que vai apostar alto em um empreendimento cuja viabilidade de lucro �, no m�nimo, question�vel”, sinaliza Capanema. Nos bastidores, est� em jogo a briga entre os novos empreendimentos, muitos deles de grandes redes internacionais, e o mercado local.
O erro de planejar os investimentos apenas para a Copa passa pelas obras de infraestrutura e tamb�m pela hotelaria, na opini�o de Hugo Ferreira Braga Tadeu, professor de log�stica da Faculdade IBS/ FGV: “As grandes redes consideram que teremos crescimento, com adendo de 1 milh�o de turistas durante a Copa do Mundo. S� que Belo Horizonte n�o � uma cidade tur�stica. Os dados s�o muito claros: teremos superoferta de leitos j� depois da Copa das Confedera��es”. Ele cita conversa que teve com um investidor: “Perguntei qual era a expectativa para antes e depois da Copa e ele estava bem consciente de que o pre�o investido deve cair 40% no p�s-evento, por conta da pouca demanda”.
Braga Tadeu acredita que mesmo a euforia com o que chama de “senhora ocupa��o” durante os eventos esportivos pode n�o ser t�o certeira assim: “Pelo que percebemos de atraso em obras de infraestrutura e mobilidade, pode ser que as pessoas nem consigam chegar at� esses hoteis, que t�m chance de n�o encher tanto assim nem mesmo enquanto os eventos estiverem sendo realizados”. O alerta � para que investimentos correlatos n�o se percam de vista.
CAPACIDADE Por meio da assessoria de imprensa, o Comit� da Copa, da Prefeitura de Belo Horizonte, confirma que a capacidade hoteleira da cidade, atualmente em 18 mil leitos, deve dobrar at� 2014. Na RMBH, s�o 30.194 leitos. Para a prefeitura, a taxa de ocupa��o m�dia � de 80%, mas de ter�a a quinta-feira chega a 100%. Para 2014, projeta-se um total de 50.919 leitos para a regi�o de BH.
A prefeitura explica que “a Fifa n�o exige n�mero m�nimo de quartos e leitos para a Copa do Mundo. O que existe s�o estat�sticas de mercado mostrando que a demanda de leitos em cidades sede, durante o torneio, � de um ter�o da lota��o do est�dio – isso, num raio de 100 quil�metros. No caso de BH, o Mineir�o ter� a capacidade para 64 mil torcedores, o que significa que a demanda ser� de 22 mil leitos, aproximadamente. O que existe hoje j� atende � demanda de mercado; mas faltava maior oferta de hot�is de alto padr�o. Com os novos empreendimentos, atenderemos tamb�m a essa demanda”.
Assunto divide empres�rios
O tema da superoferta de leitos � espinhoso e cutuca com vara curta investimentos milion�rios no setor. Dentro da mesma associa��o, a Associa��o Brasileira da Ind�stria de Hot�is (ABIH), h� posicionamentos distintos. O presidente nacional, Enrico Fermi Torquato, acredita que “um investimento em hotelaria se dilui em 10, 20 anos. Ningu�m � louco de apostar em algo que s� render� bem durante 40 dias. N�o estamos falando s� em turismo internacional. Trinta milh�es de brasileiros passaram a consumir turismo nos �ltimos 10 anos”. “At� 2020, ser�o 80 milh�es. A superoferta n�o vai existir porque temos um mercado interno crescente”, avalia.
� a mesma aposta do Comit� da Copa, da prefeitura. Na nota encaminhada � reportagem, o comit� aposta que “Belo Horizonte vem se firmando como um dos principais destinos do turismo de neg�cios. Os principais espa�os para congressos e feiras, como Expominas e Minascentro, t�m taxa de ocupa��o m�dia de 80%, chegando, em alguns meses, a 100%”. Ainda segundo o Comit�, “para cada quarto de hotel constru�do estima-se que sejam gerados em m�dia quatro empregos diretos. Isso significa que, at� a Copa em 2014, somente o setor hoteleiro vai gerar cerca de 60 mil empregos em Minas. Al�m do impacto no com�rcio local, essa cadeia produtiva envolve muitos setores, como t�xtil, moveleiro, tecnologia da informa��o, telefonia, jardinagem, tradu��o”.
Para a diretora da Belotur Stella de Moura Kleinrath, a prefeitura n�o pode trabalhar com um n�mero ideal de licenciamentos: “A prefeitura n�o tem controle sobre o n�mero ideal, essa � uma quest�o de mercado”. Segundo ela, o esfor�o � trabalhar para preparar a cidade rumo � internacionaliza��o e atua��o no turismo nacional tamb�m de maneira mais incisiva. Para os que alertam quanto ao risco de superoferta, o est�mulo dado pela prefeitura para atra��o de investimentos na constru��o de novos hoteis, com o aumento da propor��o da �rea constru�da em terrenos que abrigariam hoteis, foi definitivo. O comit� se defende, via assessoria de imprensa, lembrando que a opera��o especial, aprovada pelo Conselho Municipal do Meio Ambiente (Comam), foi v�lida apenas para os empreendimentos cujos projetos foram protocolados para aprova��o at� 31 de julho de 2011. (FB)