"Um agricultor nunca passa fome", exclama com orgulho o jovem C�sar Teixeira enquanto colhe lim�es nas colinas de Amarante, regi�o do norte de Portugal onde, em resposta � crise, muitas pessoas se associaram para produzir frutos, legumes e, principalmente, cogumelos.
"Meu objetivo � criar meu pr�prio emprego e, quando minha planta��o atingir todo o seu potencial, abandonarei meu outro emprego para ser agricultor em tempo integral", diz o homem, de 25 anos, convencido de que sua gera��o "vai saber tirar o m�ximo da agricultura para fazer dela um meio de subsist�ncia para Portugal".
No setor da constru��o civil e hotelaria, que impulsionavam a economia local, "os caminhos est�o fechados para os jovens", explica este campon�s cheio de entusiasmo, que pensa em se somar a outros produtores para se lan�ar no setor de exporta��o.
Aos 36 anos, Pedro Cat�o tamb�m acaba de descobrir uma voca��o agr�cola. Atingido em cheio pelo cancelamento de grandes obras p�blicas, consequ�ncia da pol�tica de austeridade seguida pelo governo, em troca de uma ajuda financeira da UE e do FMI, este empreendedor precisou abandonar seu neg�cio de atacadista de material de constru��o.
Se ele ainda guarda, "principalmente por motivos sentimentais", a loja de ferramentas e ferragens, herdada do pai, seu futuro profissional passar� pela produ��o de 'champignons', cogumelos.
Com as variedades 'pleurotes' e 'shitakes' que ele pensa vender para Espanha, Fran�a e Alemanha, Pedro Cat�o calcula um lucro anual de 10 mil a 12.000 euros at� 2015, que vai garantir a ele "um rendimento suplementar" e criar tantos empregos quanto os que foram suprimidos na regi�o.
"A crise se abateu sobre n�s de improviso, mas a constru��o civil nunca mais ser� a mesma", afirmou.
Num contexto de recess�o econ�mica e de esgotamento do cr�dito banc�rio, este novo caminho para a agricultura seria imposs�vel sem a ajuda europeia que permite aos novos agricultores investir at� 75.000 euros, praticamente sem capital pr�prio.
Desde maio de 2008, 5.200 novos projetos de jovens agricultores foram criados em Portugal. Na regi�o de Amarante, "o n�mero de produtores teve um aumento de cerca de 20% no ano passado, e n�s ajudamos a criar 30 novos projetos, seguindo o exemplo dos cogumelos", precisou Lourdes Cardoso, engenheira agr�cola da Associa��o dos Agricultores de Riba Douro.
"As pessoas est�o desesperadas, principalmente os jovens ou os casais desempregados, disse. Ent�o, voltam-se para a agricultura, para a qual s� � preciso um pequeno peda�o de terra, al�m de ser o �nico setor que ainda se beneficia das ajudas p�blicas."
No momento em que as taxas de desemprego atingiram no final de 2011 um n�vel recorde de 14%, e mais de 35% entre os portugueses de 15 a 24 anos, os exemplos de C�sar Teixeira e Pedro Cat�o fazem sonhar.
"Constantemente solicitada por pessoas que procuram uma sa�da para a crise", Lourdes Cardoso organizou um servi�o de informa��o nas depend�ncias da associa��o. Mais de 20 candidatos responderam ao chamado.
Eletricista desempregado h� dois anos, Nuno Pereira, 25 anos, veio com a namorada, In�s Alves, animadora cultural que, aos 24 anos, nunca trabalhou. "N�s ouvimos dizer que os cogumelos iam bem por aqui", explicou Nuno.
"N�o encontro trabalho e n�o tenho nenhuma perspectiva, afirmou. Como meu pai tem um pequeno lote de terra, quero aproveitar para me lan�ar na produ��o de 'champignons' e tentar construir alguma cois para mim."