Em meio a cr�ticas e diante de um mercado que aposta contra a queda dos juros, o presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, foi � Comiss�o de Assuntos Econ�micos do Senado (CAE), ontem, para tentar debelar a descren�a que recai sobre a pol�tica monet�ria. Ele defendeu os cortes na taxa b�sica de juros (Selic) e deixou evidente a preocupa��o do governo com a expans�o do pa�s, com o derretimento do d�lar e com o elevado custo das opera��es de cr�dito. Sem meias palavras, afirmou que o Brasil cresce abaixo do potencial e por isso passa por um processo de afrouxamento monet�rio.

Tombini ainda se defendeu dos cr�ticos que o acusam de ter abandonado o sistema de metas de infla��o. “Temos cumprido por 18 anos tudo o que diz respeito �s metas de infla��o”, disse. Ele tamb�m garantiu aos senadores da comiss�o que a corrida de pre�os est� em defla��o e tentou ancorar as expectativas do mercado com frases duras. "Vem ocorrendo de fato um processo de desinfla��o forte”, disse. “Os participantes do mercado estimam uma infla��o na faixa de 5,11% em 2012, ou seja, afastado do centro da meta. N�o vi proje��es para os outros pa�ses, mas 5,11% n�o nos satisfaz, buscamos os 4,5%", garantiu.
Juros em queda Para o mercado, a fala de Tombini foi ainda mais uma tentativa de convencer os investidores a n�o apostar contra a queda dos juros no pa�s. Em cerca de 30 minutos de apresenta��o, o presidente do BC colocou todos os elementos que justificam a continuidade da queda dos juros no Brasil e a perman�ncia dela em um patamar baixo por um per�odo longo. "A taxa de crescimento da economia brasileira tem vindo abaixo do potencial nos �ltimos tr�s trimestres, n�o por outra raz�o o BC vem flexibilizando sua pol�tica monet�ria", disse Tombini para justificar o processo de corte na taxa b�sica (Selic) iniciado em agosto de 2011 e que deve durar pelo menos at� abril, quando a Selic chegar� efetivamente em um d�gito.
"O BC quer que o mercado tamb�m corte os juros. Est� criando uma s�rie de argumentos que apontam para uma redu��o da taxa e mostrando para o mercado que seria razo�vel trabalhar em patamares mais baixos", observou Andr� Perfeito, economista-chefe da corretora Gradual Investimento. "Eu estou convencendo o pessoal a ficar vendido em juros, a taxa vai cair", disse.
Segundo Perfeito, o discurso de Tombini frisou a queda do custo de financiamento do setor p�blico, a diminui��o do Risco Brasil, que apenas ontem caiu 4 pontos, e a fragilidade da economia internacional como condi��es para juros menores no pa�s. A apresenta��o do presidente do BC mostrou ainda que o Brasil � um dos poucos a ter uma taxa nominal t�o elevada, sobretudo em um mundo onde as economias maduras operam com juros reais negativos.
O mercado, apesar dos esfor�os da autoridade monet�ria, n�o comprou o discurso e, na vis�o de In�s Filipa, economista-chefe da corretora Icap Brasil, Tombini saiu do Senado sem ancorar as expectativas. As proje��es para infla��o e crescimento, na avalia��o dela, continuam dispersas, mesmo ap�s a fala do presidente. "Ele n�o agregou informa��o que pudesse provocar qualquer mudan�a no cen�rio", criticou.
Mais calote e menos cr�dito
A inadimpl�ncia m�dia nas opera��es de cr�dito com recursos do empr�stimo livre (sem destina��o espec�fica) subiu em janeiro para 5,6%, ante 5,5% de dezembro, segundo dados divulgados ontem pelo Banco Central (BC). O aumento do n�vel de inadimpl�ncia no m�s passado se deu exclusivamente nas opera��es para pessoas f�sicas, cuja taxa subiu para 7,6% em janeiro, ante 7,4% de dezembro de 2011. Nas opera��es para pessoas jur�dicas, a inadimpl�ncia recuou de 3,9% para 3,7% no mesmo per�odo. Pelo conceito do BC, s�o considerados inadimplentes os consumidores que atrasam pagamentos de d�vidas em mais de 90 dias.
O aumento no calote levou o custo do cr�dito a subir no in�cio do ano, apesar da queda na taxa b�sica de juros e da tentativa do governo de usar os bancos p�blicos novamente para baratear os empr�stimos. A taxa m�dia de juros cobrada dos consumidores e empresas subiu para 38% ao ano em janeiro, maior valor em tr�s meses. Dados parciais para fevereiro mostram nova alta, para 38,3%. O aumento dos juros se deve � alta do spread banc�rio, diferen�a entre o custo do dinheiro para os bancos e o percentual cobrado dos clientes. De acordo com o BC, o problema hoje est� ligado, principalmente � inadimpl�ncia, um dos fatores que mais pesam no c�lculo do spread.
Empr�stimos O Banco Central tamb�m informou que o recuo de 0,2% no estoque de cr�dito entre dezembro e janeiro foi sazonal, com o arrefecimento da demanda por parte do setor produtivo. O recuo reflete, tamb�m, a queda de 7,3% do d�lar no m�s, que reduziu os valores das d�vidas em moeda estrangeira. "Uma modera��o que � normal nessa �poca. Esse ano, um pouco mais significativa, e que deve ser atribu�da, al�m da sazonalidade, a uma varia��o cambial maior, que impacta os ativos financeiros referenciados em moeda estrangeira. Quando o d�lar caiu houve uma redu��o nesse estoque de ativos. Foi um comportamento pontual", disse o chefe do Departamento Econ�mico do Banco Central, Tulio Maciel.