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Estado de Minas

Mis�ria ainda � o maior problema no sert�o mineiro

"Aquela gente depunha que t�o aturada de todas as pobrezas e desgra�as. Haviam de vir, junto, � mansa for�a. Isso era perversidades? Mais longe de mim-que eu pretendia era retirar aqueles, todos, destorcidos de suas mis�rias"


postado em 31/03/2012 07:59

A secretária de Educação de Japonvar, Raquel Soares (D), e os alunos do 7º ano da Escola Municipal São José posam para foto em frente ao bar que virou sala de aula(foto: Alexandre Guzanshe/EM/D.A.Press)
A secret�ria de Educa��o de Japonvar, Raquel Soares (D), e os alunos do 7� ano da Escola Municipal S�o Jos� posam para foto em frente ao bar que virou sala de aula (foto: Alexandre Guzanshe/EM/D.A.Press)

 

Japonvar e Buritizeiro – Sessenta anos depois da viagem que Guimar�es Rosa fez pelo interior para escrever Grande sert�o: veredas, a desigualdade social ainda impera no Norte de Minas, �rea conhecida a fundo por Riobaldo Tatarana, autor da frase no alto desta p�gina, destacada do romance em que o personagem arrebanha sertanejos que vivem na mis�ria para seu bando. O Norte do estado concentra 13 das 20 cidades mineiras com menor renda per capita mensal, segundo estudo da Funda��o Jo�o Pinheiro (FJP), com base em dados de 2010. Enquanto S�o Jo�o das Miss�es registrou R$ 238,60, a menor cifra no estado, Montes Claros, chamada de capital do Norte, apurou valor quase tr�s vezes maior (R$ 674,92).

A desigualdade social � tema da �ltima reportagem da s�rie Sert�o grande, que o Estado de Minas publica desde domingo em alus�o aos 60 anos da viagem que Guimar�es Rosa fez na companhia do lend�rio Manuelz�o e outros vaqueiros. Ao longo da semana, foram mostradas as mudan�as econ�micas ocorridas na regi�o percorrida pelo escritor e seus personagens, como o avan�o da ind�stria e o salto de empregos no com�rcio e na fruticultura. Depois de percorrer 4,2 mil quil�metros e visitar 25 localidades, o EM apurou que o desenvolvimento chegou a muitas cidades do Norte, mas v�rias ainda t�m problemas t�o graves quanto os narrados por Rosa em seu romance.

Em Japonvar, uma das 20 cidades com a menor renda per capita mensal no estado (R$ 294,23), 16 alunos do 7º ano da Escola Municipal S�o Jos� assistem �s aulas num im�vel improvisado como anexo da institui��o. “Aqui funcionava um boteco”, diz Amanda Ferreira, de 12 anos. A constru��o n�o � apropriada para receber os professores e os adolescentes. Na aus�ncia de janelas, a imensa porta de ferro precisa ficar aberta para garantir a prec�ria ventila��o. H� outro problema: o im�vel est� em uma rua de terra, onde a poeira levantada por carros e �nibus invade a “sala”. O barulho dos motores de ve�culos e conversas de pedestres que passam por l� atrapalham ainda mais o aprendizado. A secret�ria municipal de Educa��o, Raquel Soares, explica que a prefeitura negocia uma solu��o com o governo do estado. “Firmamos acordo para que o estado amplie a Escola S�o Jos�. Em troca, continuamos cedendo para o estado o im�vel onde j� funciona a Escola Estadual Castelo Branco, de 1ª a 5ª s�rie”, disse Raquel.

A vida tamb�m � prec�ria na �rea rural de Buritizeiro, com renda per capita mensal de R$ 382,80. A cidade n�o faz parte dos 20 munic�pios que integram o chamado bols�o da mis�ria em Minas, mas moradores de Pared�o de Minas, um dos distritos mais famosos de Buritizeiro, lamentam a falta de asfalto em nove das 10 ruas do povoado. O primeiro desafio para chegar at� l� � vencer os 80 quil�metros de estrada de ch�o.

“Houve dias piores. A energia el�trica s� chegou aqui na d�cada de 1990”, conta Ant�nio Ramos, de 66. No m�s passado, depois de economizar boa parte da aposentadoria de um sal�rio m�nimo (R$ 622), ele pagou R$ 300 por uma imensa antena de televis�o. Para os moradores de l�, a antena n�o � luxo. “Em Pared�o, casa que n�o tem esse tipo de aparelho s� tem acesso ao sinal de uma emissora”, disse o homem, que ainda n�o sabe quando conseguir� juntar dinheiro suficiente para refor�ar as paredes de barro e trocar o desgastado telhado de casa.

O estudo da Funda��o Jo�o Pinheiro mostrou que, assim como 13 das 20 cidades com menor renda est�o no Norte de Minas, 13 dos 20 munic�pios que atingiram o maior crescimento no mesmo indicador – na compara��o entre 2010 e 2000 – tamb�m s�o daquela regi�o. Novamente Japonvar est� no grupo: a renda per capita mensal passou de R$ 119,25, em 2000, para R$ 294,23, em 2010, o que mostra uma taxa m�dia anual de crescimento de 9,45%. As cidades que apresentaram crescimento expressivo, por�m, o conseguiram porque tinham uma base baixa a ser comparada.

“� f�cil crescer quando a base � pequena. Isso (o aumento da renda nesse grupo de 20 cidades) se deve, por exemplo, a programas sociais, como o Bolsa Fam�lia. N�o quer dizer que a renda tenha melhorado muito. Al�m disso, a popula��o de muitos munic�pios tem crescido pouco e deve ser lembrado que a renda per capita � a divis�o do valor pela popula��o”, explicou o economista Olinto Nogueira, coordenador de Desenvolvimento Humano da FJP.

Os governos federal e estadual v�m se esfor�ando para reduzir a desigualdade social no Norte do estado. Al�m dos programas sociais, beneficiam com redu��o ou isen��o de impostos grandes empresas interessadas em investir na regi�o. Se estivesse vivo, certamente Guimar�es Rosa faria um apelo: desenvolver o Norte sem matar as veredas.


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