Um dia depois de a presidente argentina Cristina Kirchner anunciar o confisco de 57,4% das a��es da YPF, de propriedade da espanhola Repsol, apareceram as faturas do que pode se transformar em um grande embate internacional. O presidente da Repsol, Antonio Brufau, disse que cobrar� US$ 10,5 bilh�es em indeniza��es. “Esses atos n�o ficar�o impunes”, alertou. J� o vice-ministro argentino da Economia, Axel Kicillof, um dos art�fices da reestatiza��o, assegurou que o seu governo s� est� cobrando uma d�vida de US$ 9 bilh�es que a companhia espanhola se recusava a pagar.
A disputa que varreu o mundo colocou no centro das aten��es dois pa�ses que enfrentam crises econ�micas grav�ssimas e est�o com a credibilidade arranhada. A Argentina v� o seu crescimento despencar, dificultando a pol�tica populista de Cristina Kirchner. A Espanha mergulhou novamente na recess�o, ao tombar 0,3% no primeiro trimestre. No governo do primeiro-ministro espanhol, Mariano Rajoy, teme-se que o golpe imposto � Repsol acabe se estendendo a outras empresas com presen�a maci�a na Am�rica Latina.
O temor foi refor�ado pelas declara��es de Antonio Brufau. Ele contou que, na segunda-feira, as autoridades argentinas entraram de forma truculenta nas instala��es da Repsol-YPF “sob amparo de lei da ditadura”. Interventores, liderados por Kicillof e pelo ministro do Planejamento, Julio De Vido, invadiram gabinetes dos s�cios na empresa. “Essa atua��o n�o � pr�pria de pa�s moderno”, disse Brufau. As a��es da Repsol, colocada sob perspectiva negativa pela ag�ncia de classifica��o de risco Fitch, ontem despencaram 6,49% na Bolsa de Madri e as da YPF, 6,9% em Buenos Aires.
No Brasil, o ministro de Minas e Energia, Edison Lob�o, disse que a decis�o n�o vai afetar as a��es da Petrobras no pa�s vizinho. Apesar da confian�a do governo brasileiro, especialistas apontam que os investimentos na Argentina devem ser reavaliados porque tiveram seu risco potencialziado. “A Petrobras � um acionista minorit�rio da Repsol YPF e tamb�m foi expropriada. O pa�s tem um hist�rico perdedor em epis�dios similares, que j� ocorreram na Am�rica Latina, e deveria reavaliar seus investimentos onde o Estado de direito � sitiado”, critica Ricardo Correa, analista-chefe da Ativa Corretora. “A expropria��o tira a credibilidade do pa�s em um momento que a Argentina vai precisar do capital estrangeiro para atuar em novos campos”, avalia Alberto Machado, coordenador do MBA em gest�o de neg�cios em petr�leo e g�s da Funda��o Getulio Vargas.
Para justificar a expropria��o das a��es em poder da empresa espanhola, Cristina Kirchner alegou, no projeto de lei encaminhado ao Congresso, que a opera��o era de “de utilidade p�blica”. Ela pediu que a reestatiza��o da YPF, privatizada nos anos 1990 pelo governo de Carlos Menem, seja aprovada at� a pr�xima semana. Apesar da gritaria contr�ria no exterior, at� integrantes da oposi��o, entre eles Menem, disseram que votar�o a favor do governo. Nas ruas, parte da popula��o mostrou apoio � Casa Rosada.
O primeiro-ministro espanhol, Mariano Rajoy, chegou ontem ao M�xico e disse que “a decis�o argentina rompe o bom entendimento existente anteriormente entre os dois pa�ses”. Para Thomas Helbling, do Fundo Monet�rio Internacional (FMI), a reestatiza��o da YPF � prejudicial para a estabilidade econ�mica do pa�s. “A decis�o da Argentina � decepcionante”, disse o presidente da Comiss�o Europeia, Jos� Manuel Dur�o Barroso. A postura argentina teve apoio externo declarado s� do presidente venezuelano, Hugo Ch�vez. (Com ag�ncias)