
Enquanto a folha real (descontada a infla��o) dos sal�rios da ind�stria mineira aumentou 57,2% na �ltima d�cada at� mar�o, a produtividade cresceu 17,8%, conforme estudo feito pelo analista Ant�nio Braz de Oliveira e Silva, do escrit�rio regional do Instituto Brasileiro de Geografia e Estat�stica (IBGE). Na ind�stria de transforma��o, os n�meros foram ainda mais t�midos, uma expans�o 14,8%, frente � eleva��o de 55,4% dos sal�rios. A rigor, n�o se trata de um fen�meno nas empresas de Minas.
A ind�stria brasileira est� 20,6% mais eficiente rela��o ao come�o da d�cada (2002), ao passo em que a folha de sal�rios ficou 28% mais cara. No cen�rio atual de queda da produ��o industrial e de escassez de m�o de obra qualificada, � pouco prov�vel que esses movimentos mudem de trajet�ria. “N�o h� nenhuma indica��o de que a valoriza��o dos sal�rios vai arrefecer. Num ambiente de produ��o industrial estagnada e emprego ainda crescente, para aumentar a produtividade as ind�strias ter�o de adotar inova��o e tecnologia”, diz Ant�nio Braz.
O levantamento dos indicadores foi feito com base nos dados da produ��o f�sica da ind�stria dividida pela popula��o ocupada na atividade, usando estat�sticas regularmente publicadas pelo IBGE, assim como a evolu��o da folha de pagamento. O tema da produtividade n�o s� � importante para a ind�stria, mas interessa ao pa�s, tendo em vista que ela reflete a capacidade de toda a economia competir no mercado internacional, destaca Guilherme Veloso Le�o, gerente de estudos econ�micos da Federa��o das Ind�strias de Minas Gerais (Fiemg). “Se o trabalhador produz mais valor num bem ou servi�o, isso significa gera��o de renda, empregos e de tributos, aumentando a condi��o do pa�s de investir. S�o reflexos essenciais no crescimento econ�mico”, afirma.
A busca de efici�ncia preocupa mais em Minas, porque al�m dos n�veis menores da produtividade, em compara��o ao desempenho da m�dia nacional, as taxas de crescimento est�o longe de acompanhar a performance das economias desenvolvidas. Analisando dados de uma s�rie de fontes de pesquisa, a Fiemg verificou que a produtividade da ind�stria brasileira evoluiu a taxas de 2,2%, em m�dia, ao ano, de 2002 a 2011. Em Minas, a varia��o foi de 1,45% anual, quando a ind�stria coreana apresentou varia��o de 7,8% anuais e as empresas norte-americanas do setor experimentaram um crescimento de 5,75% ao ano, tamb�m na m�dia, no mesmo per�odo.
Mais que as diferen�as no ritmo de expans�o da produtividade, preocupa o fato de o Brasil ter sofrido um retrocesso, observado pela Fiemg. Considerando todo o mercado de trabalho no pa�s, em 1970, o trabalhador brasileiro produzia 21% da gera��o de valor do trabalho dos norte-americanos, percentual que baixou para 18,6% em 2010. Na compara��o com os trabalhadores coreanos, a propor��o baixou de 117% no in�cio da d�cada de 70 para 31% em 2010. Guilherme Veloso, da Fiemg, pondera o fato de que as estat�sticas levantadas nesses pa�ses incluem indicadores da economia informal, que inflam as taxas de produtividade. Isso n�o invalida, no entanto, a condi��o desfavor�vel n�o s� da ind�stria de Minas e do Brasil, como da economia brasileira.
Cen�rio inst�vel
Bombardeada pela concorr�ncia internacional no mercado brasileiro e nas exporta��es, a ind�stria de m�quinas e equipamentos enfrenta um desafio adicional para melhorar os n�veis de produtividade, uma vez que o setor depende da disposi��o de investimentos de outros segmentos que s�o seus clientes. � o caso das ind�strias da minera��o, siderurgia e petroqu�micas. As mineradoras t�m mantido um ritmo razo�vel de explora��o, assim como a produ��o de petr�leo, diferentemente do cen�rio de instabilidade do consumo de a�o, avalia Petr�nio Machado Zica, s�cio-propriet�rio do grupo Delp Engenharia e vice-presidente da Fiemg.
“A atualiza��o tecnol�gica da ind�stria � cara, o que agrava a busca por produtividade. Os juros mais baixos para os investimentos no Brasil (medida recente estimulada pelo governo) animam, mas a demanda pelos nossos produtos ainda est� fraca”, afirma o industrial. O setor trabalha em Minas com uma ociosidade de 25% a 30%. O balan�o da produtividade indica as ind�strias automotiva, de papel e celulose e a metal�rgica como as mais produtivas. As confec��es est�o entre os segmentos que mais necessitam correr atr�s de �ndices maiores.
Falta de trabalhadores afeta competitividade
A escassez de m�o de obra, que contribuiu com a eleva��o dos sal�rios nas f�bricas, dificulta o caminho da ind�stria em dire��o a taxas mais alentadas de efici�ncia na produ��o. Al�m de trabalhar na melhora da qualifica��o dos seus empregados, as empresas precisam oferecer incentivos para reter o pessoal, lembra H�lder Mendon�a, presidente da Forno de Minas, fabricante de alimentos congelados, entre eles o p�o de queijo exportado para pa�ses das Am�ricas e da Europa. “Outra dificuldade � que a ind�stria brasileira recebe trabalhadores mal preparados diante do baixo investimento do pa�s na escolaridade da popula��o”, diz o industrial.
Da f�brica de Contagem, na Grande Belo Horizonte, H�lder Mendon�a comanda uma pol�tica constante de treinamento, conjugada a incentivos para os trabalhadores fortalecerem a forma��o escolar. A empresa paga at� 100% das despesas do trabalhador com educa��o, por meio de um programa de bolsa ensino, desde que ele cumpra metas de assiduidade e desempenho na escola. Benef�cios como seguro de vida e Participa��o nos Lucros ou Resultados (PLR) se destacam na estrat�gia de reten��o da m�o de obra, sobretudo a masculina, a mais escassa.
Ant�nio Braz Silva, do IBGE, chama a aten��o para o reflexo da valoriza��o do sal�rio m�nimo nos �ltimos anos sobre o crescimento dos sal�rios no Brasil, efeito potencializado pelo crescimento econ�mico desde 2007, s� interrompido pela queda de 2009 da soma da produ��o de bens e servi�os, medida pelo Produto Interno Bruto (PIB). “Os reajustes do sal�rio m�nimo acabaram se tornando piso para a corre��o salarial das categorias profissionais mais valorizadas”, afirma.
Os trabalhadores ganharam, embora uma parte da ind�stria esteja demitindo empregados com mais tempo de casa para contratar m�o de obra barata, pondera Jo�o Alves de Almeida, presidente do Sindicato dos Metal�rgicos de Betim, Igarap� e S�o Joaquim de Bicas, na Grande Belo Horizonte. “N�o vamos nos esquecer que a produtividade se mant�m elevada. A escassez de m�o de obra dever� continuar com o aquecimento da minera��o e da constru��o civil, que atraem a m�o de obra empregada na ind�stria”, afirma.
A eleva��o dos sal�rios tende a permanecer, mas acomodada em n�veis menores, na avalia��o de Henrique Almeida, presidente interino do Sindicato dos Metal�rgicos de Juiz de Fora, na Zona da Mata mineira. Esse movimento deve caminhar em paralelo aos programas de qualifica��o de m�o de obra, que, para o sindicalista, devem ser mais debatidos com os trabalhadores. “O Plano Brasil Maior (programa do governo Dilma Rousseff criado como incentivo � ind�stria brasileira) apoia investimentos em tecnologia, inova��o e qualifica��o de m�o de obra”, lembra o sindicalista.
