
No mapa, o munic�pio est� encravado na Regi�o Sudeste, quase na linha que divide Minas e S�o Paulo. Quem passa por ali, no entanto, se sente mais no sert�o nordestino. E n�o � s� pelo calor arretado, que se assemelha e muito ao do Pol�gono da Seca, onde est� localizada a pequena Concei��o, de onde o forasteiro, sua fam�lia e milhares de outros parentes e amigos sa�ram com destino a Minas. Fronteira � a cidade mineira com maior n�mero de moradores que n�o nasceram no estado. Ao lado de Delta, tamb�m na regi�o do Tri�ngulo, s�o as duas �nicas em que mais da metade da popula��o vem de fora de Minas Gerais, segundo dados do censo demogr�fico elaborado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estat�stica (IBGE) (veja quadro). O estudo mostra que Minas tem 33 munic�pios com mais da metade de sua popula��o composta por indiv�duos naturais de outras cidades.
Nos dois casos, a principal atra��o � a ind�stria sucroalcooleira. Ainda na d�cada de 1940, se instalava na regi�o a primeira usina de cana, mas somente mais de tr�s d�cadas depois se iniciou o boom da produ��o, com o Programa Nacional de �lcool. Nordestinos chegaram dispostos a encarar o trabalho degradante em troco de sal�rios que beiravam o m�nimo. O pr�prio Pinheiro veio para Minas exercer o of�cio que aprendeu ainda crian�a. Mas, passados dois anos, abandonou a lavoura, comprou um barrac�o e passou a alugar para os nordestinos que chegavam � cidade. Na outra parte do terreno, montou um bar, com sinuca, que acabou se tornando a divers�o preferida dos forasteiros nos raros momentos de folga.
A prosperidade do pequeno com�rcio logo garantiu a compra de outros quatro barracos e at� de um carro zero quil�metro e o sucesso atraiu a parentada toda. Hoje s�o mais de 100 com sobrenome Figueiredo, fora os outros tantos amigos de Concei��o do Pianc�, que, se somadas �s demais fam�lias, “invadiram” Fronteira. Dos quase 15 mil moradores, mais de 8 mil s�o nordestinos, que, na maioria das vezes, se questionados se pretendem um dia voltar, s�o sucintos em responder: “Voltar para fazer o que l�?“, resume Pinheiro, rodeado da m�e e do pai e de sete dos nove irm�os que, da Para�ba, s� mant�m o sotaque.
Enquanto em Fronteira a maior parte dos visitantes vem da Para�ba, em Delta, distante aproximadamente 200 quil�metros, a maior parte dos forasteiros s�o maranhenses de S�o Jo�o Batista. “Mineiro mesmo se acha pouco”, diz o usineiro Domigos Santos Costa, de 44, que est� h� tr�s anos na cidade com a esposa, Maria Ribamar, e a filha, Kaila. Apesar dos dias melhores em Minas, ele � obrigado a repensar sua perman�ncia. A ind�stria da cana est� em baixa e a mulher n�o consegue emprego. Al�m disso, a saudade � grande. “A vontade � voltar. Mas l� s� tem para a comida mesmo. Ent�o, para n�o andar pelado a gente vem para c�”, afirma Domingos.
Condom�nios mudam o perfil do trabalho
Se a cana-de-a��car foi o principal atrativo para os forasteiros nordestinos em meados das d�cadas de 1980 e 1990, na �ltima d�cada outro fator arrastou candidatos a emprego a Fronteira, no Tri�ngulo Mineiro. Com a usina de a��car desativada e a mecaniza��o das lavouras, boa parte dos moradores da cidade foram absorvidos pelos condom�nios de luxo constru�dos �s margens do Rio Grande. Os moradores v�m, em sua maioria, de Uberl�ndia, Uberaba e Ribeir�o Preto (SP), e � preciso contratar jardineiros, pedreiros, caseiros e at� funcion�rios para cuidar de lanchas e jet skis.
Com sal�rios melhores e empregos menos desgastantes, a popula��o da cidade cresceu a taxas de 4,52% ao ano de 2000 at� 2010 – das maiores do estado –, passando de 9.024 para 14.041 habitantes e atraindo inclusive os vizinhos paulistas. S�o 13 loteamentos que totalizam quase 2 mil im�veis. S�bados, domingos e feriados, chega a haver congestionamento nas ruas da cidades. O adolescente Lucas Nunes Garcia, de 16 anos, veio com o pai e dois irm�os de Bebedouro (SP) h� quatro anos. Juntos, eles fazem de tudo em seis casas de condom�nio, de cortar a grama a preparar a lancha. “Aqui tem mais emprego e ainda d� para estudar”, diz Lucas.
Antes, com o encerramento da safra, a cidade ficava deserta. Nos �ltimos anos, a estabilidade fez com que os nordestinos criassem ra�zes no Tri�ngulo. “O Nordeste � migrat�rio. O pai vai, o tio vai e o primo… Mas hoje ele n�o � mais temporal. �s vezes, n�o faz fortuna, mas cria condi��es melhores que as de l�”, afirma o prefeito de Fronteira, S�rgio Campos (PSDB).
Enquanto isso, em Delta, a rotatividade ainda � alta. Eles v�m e v�o a cada safra. O lavrador Domigo Costa Vieira, de 31, se fixou na cidade, mas deixou tr�s filhos com a av� para seguir os passos do irm�o, Luiz. “Se o Poderoso ajudar, consigo trazer os meninos.”