Lisboa, Porto e Aveiro —O quadro � de desola��o — ainda que uma ponta de esperan�a comece a se desenhar no horizonte de Portugal. Depois de um longo per�odo no atoleiro, tornou-se motivo de comemora��o pa�s afora a queda de 0,1% do Produto Interno Bruto (PIB) nos primeiros tr�s meses deste ano. Apesar de negativo, o n�mero foi melhor do que previam os especialistas. Satisfa��o � parte, os portugueses t�m a exata no��o de que ainda ter�o tempos dif�ceis pela frente. O choque de realidade � vis�vel onde quer que se olhe. Mesmo entre os mais velhos, que cortaram um dobrado no per�odo de austeridade da ditadura salazarista e enfrentaram o isolamento econ�mico e social em rela��o ao restante da Europa, poucos imaginavam que a vida pudesse voltar a ser t�o dura depois da bonan�a trazida pela democracia.
O Portugal de hoje convive com desemprego elevad�ssimo — a taxa deve fechar este ano em 15,5% da popula��o economicamente ativa (PEA) —, greves constantes, combatidas com viol�ncia pela pol�cia, e empresas fechando num piscar de olhos. Parte da riqueza constru�da ap�s a integra��o � Uni�o Europeia est� se esvaindo. A entrada no bloco econ�mico, por sinal, deu ao pa�s reconhecimento, status entre as na��es locais. Tamb�m passou a ser candidato sempre bem aceito a recursos baratos e, em alguns casos, n�o retorn�veis, de fundos europeus. Dinheiro que recuperou edif�cios monumentais e ajudou a construir outros tantos.
Em 1998, antes da entrada plena na Zona do Euro (2000), Portugal j� vivia um boom de investimentos. Os portugueses, outrora t�o apegados a suas sardinhas e ao bacalhau, passaram a valorizar as cozinhas italiana e japonesa. Come�aram a viajar mais. Pessoas de todas as idades adotaram roupas e cortes de cabelos que n�o os diferenciam do resto do mundo. A maioria dos portugueses, durante as quatro d�cadas da ditadura salazaristas nem sequer sonhava com casa pr�pria. Ter um carro era impens�vel. Eles trabalhavam de sol a sol — como se dizia — e poupavam tudo o que podiam.
Com a democracia, vieram governos que, independentemente de partidos, incentivaram o consumo da popula��o, porque tamb�m queriam gastar para trazer Portugal ao s�culo 21. Mas a fatura de hoje � um pa�s em frangalhos, em recess�o, com as fam�lias superendividadas, um setor p�blico com a corda no pesco�o e um cabresto conduzido com rigor pelos credores, a troica, formada pela Comiss�o Europeia, pelo Banco Central Europeu (BCE) e pelo Fundo Monet�rio Internacional (FMI), que evitou o pior.
Vizinho
A decis�o da vizinha Espanha de pedir socorro para salvar seus bancos foi recebida com al�vio e euforia pelos portugueses. N�o sem raz�o. Os espanh�is s�o os principais consumidores de produtos de Portugal. E tamb�m respondem pelo maior fluxo de turismo. Em crise, tanto os neg�cios entre as duas na��es quanto as viagens de lazer come�aram a minguar. O resgate da Espanha, por�m, n�o diminui a preocupa��o para este ver�o, quando comerciantes esperam por receitas extras.