Fundada em 1968, a loja mais antiga em atividade na tradicional Pra�a ABC, oficialmente batizada de Pra�a Coronel Benjamin Guimar�es, fechou ontem suas portas no nobre endere�o, cortado pelas avenidas Afonso Pena e Get�lio Vargas, no Bairro Funcion�rios, Regi�o Centro-Sul de Belo Horizonte. O estabelecimento, que ocupava um im�vel de 100 metros quadrados, ser� reaberto, na segunda-feira, em um espa�o menor no quarteir�o da Rua Alagoas entre Crist�v�o Colombo e Inconfidentes, tamb�m na �rea da Savassi. A transfer�ncia de ponto se deve ao reajuste de aluguel, decidido por senten�a judicial.

“A batalha jur�dica durou 17 anos. Pagava R$ 4 mil mensais de aluguel e o juiz determinou reajust�-lo para R$ 9 mil. N�o tenho condi��es de arcar com o valor e decidi entregar o ponto. O dono do im�vel, por�m, vai pedir ainda mais ao novo inquilino: calculo algo entre R$ 20 mil e R$ 30 mil”, disse o dono da Rei dos Brinquedos, Noel Charnizon, de 75 anos, esquivando-se de revelar outras informa��es acerca do processo judicial. Procurado, o dono do im�vel, que faz parte de um pr�dio onde h� outras lojas e apartamentos, n�o retornou o pedido de entrevista do Estado de Minas.
A transfer�ncia de endere�o da Rei dos Brinquedos � o exemplo cl�ssico do que ocorre com v�rias lojas tradicionais em BH. N�o � s� o reajuste do aluguel, um entrave enfrentado por v�rios empres�rios do varejo da capital, a causa da mudan�a do estabelecimento. A forte concorr�ncia com shoppings e a invas�o de mercadorias asi�ticas, principalmente chinesas, tamb�m afetaram o faturamento tanto da Rei dos Brinquedos quanto de outros pontos de vendas. Para ter ideia, “seu” Noel Charnizon, mineiro descendente de romenos, chegou a ter sete filiais na cidade.
“Vendo poucos produtos importados. Sou de um tempo mais antigo, trabalho basicamente com brinquedos nacionais”, afirmou o empres�rio enquanto observava alguns funcion�rios embalarem as mercadorias e desarmarem as prateleiras. O semblante triste era uma confirma��o de que o im�vel vazio lhe do�a como a perda de um ente querido: “A Rei dos Brinquedos fazia parte da paisagem da Pra�a ABC. Tive clientes que, hoje, s�o av�s e v�m, aqui, comprar presentes para os netos. Muitos pedestres pararam em frente � loja e perguntaram se eu estava fechando as portas”.
Um deles foi o publicit�rio S�rgio Pinto J�nior, de 46 anos, que n�o escondeu o saudosismo. “� um peda�o da inf�ncia da gente que parece ir embora. Quantas vezes, quando pequeno, estive aqui. Desde que me conhe�o por gente, essa loja faz parte de minha hist�ria”, comparou o homem, que mora alguns quarteir�es atr�s do estabelecimento. “Poxa! � uma perda para a pra�a”, exclamou uma jovem logo depois de receber de Noel a informa��o de que o im�vel seria entregue ao dono.

O destino do espa�o � incerto. A �nica certeza � a de que, num per�odo de dois anos, os dois estabelecimentos mais antigos da ABC fecharam suas portas. Em 2010, a Padaria ABC, inaugurada em 1959 e respons�vel pelo apelido da pra�a, encerrou suas atividades, depois de uma disputa entre os herdeiros do falecido dono do empreendimento. Depois de um acordo, o im�vel foi entregue, em regime de permuta, a uma construtora, que j� ergue no local um moderno edif�cio comercial. O pr�dio, que ter� 20 pavimentos, deve ser conclu�do em 2014. Estima-se que o metro quadrado seja avaliado em pelo menos R$ 12 mil. O projeto original prev� ainda quatro andares de garagem no subsolo.