Que o segundo semestre ser� melhor que o primeiro para a economia brasileira, nem governo nem especialistas duvidam. A intensidade desta recupera��o � que volta a colocar Banco Central (BC) e economistas de mercado em lados opostos da mesa – assim como ocorreu h� pouco menos de um ano, quando a autoridade monet�ria deu in�cio ao corte da Selic, contrariando as expectativas do mercado, que ainda via a escalada da infla��o como empecilho.

Enquanto o BC, por meio do presidente Alexandre Tombini, aposta em um Produto Interno Bruto (PIB) de 3,5% para este ano, analistas ouvidos pelo pr�prio Banco Central revisaram, pela sexta semana seguida, o resultado. Antes em 2,53%, o PIB foi estimado em 2,3% para 2012 segundo dados divulgados pelo Relat�rio Focus. A �ltima vez que esteve acima de 3%, foi h� um m�s (veja quadro), quando ainda n�o se sabia o desempenho da economia nacional no primeiro trimestre, que decepcionou ao registrar alta de 0,2% em rela��o aos �ltimos tr�s meses de 2011. O dinamismo para o pr�ximo ano tamb�m perdeu f�lego, passando de 4,30% para 4,25%. Para a infla��o deste ano, a estimativa caiu de 5,03% para 5%
Em entrevista ao Estado de Minas, na edi��o de domingo, Tombini foi enf�tico ao afirmar que o mercado reagir� � pol�tica monet�ria e econ�mica implantada h� 10 meses. “Desde o fim de agosto, estamos dando est�mulos � economia, ajustando a pol�tica monet�ria para fazer frente a essa nova realidade. H� ainda os est�mulos na �rea tribut�ria, que foram colocados no terceiro e quarto trimestres do ano passado”, afirmou.
Mas nenhuma das provid�ncias tomadas at� agora parece convencer o mercado de que a recupera��o nos pr�ximos seis meses ser� suficiente para alavancar o crescimento do PIB a ponto de romper a barreira dos 3%. “A diferen�a entre as duas previs�es est� no impacto dessas medidas e se ser�o suficientes para estimular a economia”, observa o professor de economia do Insper Daniel Motta. Para o especialista, a f�rmula j� est� esgotada. “O atual n�vel de endividamento n�o a torna t�o eficaz como era antigamente. Novas ofertas de cr�dito n�o estimulam essas fam�lias a se endividarem”, avalia Motta.
Para o coordenador do departamento de Economia do Ibmec M�rcio Salvato, h� outras vari�veis a serem consideradas, entre elas, o cen�rio externo. “N�o temos um quadro bem montado. Tivemos elei��es recentes na Gr�cia e � preciso esperar para ver se o pa�s manter� a pol�tica de ajuste fiscal”, observa o especialista que ainda completa: “N�o acho que seja uma vis�o (do presidente Tombini) que considere o momento atual, mas sim um cen�rio que vislumbra o futuro e novas atua��es do Banco Central”, avalia.
Para Salvato, a postura otimista de Tombini pode significar uma atua��o mais forte na pr�xima reuni�o do Comit� de Pol�tica Monet�ria (Copom) em julho. “Enquanto o mercado estima o que ele vai fazer, ele j� sabe”, pondera. O economista da FGV/IBS Mauro Rochlin refor�a o grupo de economistas que veem o PIB mais pr�ximo de 2,3% do que de 3%. “Uma surpresa seria eleva��o de 2,7% ou 2,8%”, acrescenta.
Mais para 2% Em relat�rio divulgado para o mercado, o banco Ita� � ainda mais pessimista nas proje��es. A acelera��o da atividade nos pr�ximos seis meses n�o deve ser suficiente para sustentar crescimento do PIB que supere 2,1%. “N�s subestimamos o impacto da crise do setor industrial, que � uma crise global e afeta at� mesmo a China, com a contra��o do mercado europeu, no conjunto da economia. A desacelera��o do investimento tem muito a ver com isso”, afirmou o economista Oct�vio de Barros. O banco avalia que a recupera��o dos investimentos ocorrer� gradualmente no curto prazo, diante da capacidade ociosa na ind�stria.
Mas para Motta, por�m, falta otimismo do empresariado. “O que as empresas fazem quando a taxa de juros est� baixa ou quando h� expectativa de retorno. Hoje a vari�vel para fechar essa equa��o est� em otimismo maior com a economia”, pondera. Sem grandes expectativas de recupera��o da ind�stria, a alternativa fica a cargo do governo e do consumo interno. “A �nica pol�tica de curto prazo que ainda tem na manga � gastar mais”, pondera Motta. Manuten��o do emprego e expans�o gradual da renda devem consolidar o trip� de sustenta��o do PIB at� o fim do ano.
Emergentes v�o criar fundo
San Jos� de los Cabos, M�xico – O ataque especulativo em cima da Espanha e da It�lia, mesmo depois de os resultados das elei��es mostrarem que a Gr�cia deve permanecer na Zona do Euro, levou ontem o G-20, grupo das 19 maiores economias do mundo e a Uni�o Europeia, a dar um firme recado aos investidores: “Estamos prontos para adotar as medidas necess�rias no sentido de refor�ar o crescimento global e retomar a confian�a de consumidores e empres�rios”, segundo o rascunho do documento final da reuni�o de c�pula que termina hoje.
Para o G-20, “caso a situa��o econ�mica se deteriore ainda mais, os pa�ses com suficiente margem de manobra no or�amento estar�o prontos para coordenar e implantar as medidas or�ament�rias apropriadas para apoiar a demanda interna”. Ou seja, injetar mais recursos em suas economias. O primeiro sinal efetivo de que os l�deres globais est�o dispostos a superar a recess�o que amea�a o planeta partiu dos Brics, que agrega Brasil, R�ssia, �ndia, China e �frica do Sul. O grupo vai injetar entre US$ 60 bilh�es e US$ 70 bilh�es no caixa do Fundo Monet�rio Internacional (FMI) para socorrer economias em dificuldade. Esse apoio est� condicionado, por�m, a um maior poder desses pa�ses nas decis�es da institui��o.
O Brics tamb�m decidiu criar um Fundo Virtual de Reservas, para ajuda m�tua em momentos de crise. Segundo o ministro da Fazenda, Guido Mantega, esse instrumento � uma antecipa��o das principais economias emergentes a um poss�vel agravamento da crise mundial. Os pa�ses do Brics temem enfrentar desequil�brios nas contas externas, que poderiam fazer disparar a valoriza��o do d�lar em rela��o �s suas moedas, impactando fortemente a infla��o. Em caso de escassez de recursos estrangeiros, essas na��es poder�o recorrer ao fundo para irrigar os mercados.
Trata-se de uma “nova bala na agulha” a ser disparada, se necess�rio, afirmou Mantega. O Brics det�m reservas internacionais superiores a US$ 3 trilh�es. “Essa iniciativa vai no sentido do aumento da confian�a, o elemento que se deteriorou nesta crise. Estabelecemos a solidariedade financeira entre n�s (Brics)”, disse o ministro. “� importante ter uma regi�o din�mica para ajudar a estimular as economias avan�adas a fazer as reformas necess�rias, a aumentar os seus investimentos e a crescer”, acrescentou. O novo fundo seguir� o modelo da Iniciativa Chiang Mai, mecanismo multilateral criado em 2000 que permitia a troca de moedas entre a China, o Jap�o, a Coreia do Sul e os pa�ses da Associa��o das Na��es do Sudeste Asi�tico (Asean).
A crise da Europa dominou o primeiro dia de reuni�o de c�pula do G-20. E todos os l�deres concordaram que os graves problemas na Zona do Euro s�o uma amea�a ao sistema financeiro internacional e � estabilidade econ�mica global. Por isso, pediram mais a��es aos l�deres europeus, que j� aprovaram uma linha de socorro de at� 100 bilh�es de euros para a Espanha salvar seus bancos. No entender do presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, passos importantes foram dados, mas � preciso mais. Ele ressaltou que ficou “animado” com os planos europeus para sair da crise econ�mica, ap�s conversar com a chanceler alem�, Angela Merkel.