
A decis�o foi un�nime. Ao final da reuni�o, o Banco Central deixou clara a influ�ncia da situa��o inflacion�ria na revis�o da taxa. “O Copom considera que, neste momento, permanecem limitados os riscos para a trajet�ria da infla��o. O Comit� nota ainda que, at� agora, dada a fragilidade da economia global, a contribui��o do setor externo tem sido desinflacion�ria.”
Segundo proje��es do banco Bradesco, considerados os indicadores de atividade da economia citados, o IBC-BR (estimativa mensal do PIB divulgada pelo Banco Central) registrar� queda de 0,9% no m�s de maio. Caso o resultado, que ser� divulgado hoje, se confirme, a proje��o de 0,5% de expans�o do Produto Interno Bruto no segundo semestre dever� ser revisada para baixo. Para Octavio de Barros, diretor de Pesquisas e Estudos Econ�micos do banco, a retra��o da Selic n�o deve reverter este cen�rio. “As medidas s�o todas positivas, mas n�o impedir�o uma queda da produ��o industrial em 2012 da ordem de 1,5%. Os cortes ser�o transmitidos � atividade econ�mica t�o logo a crise de confian�a global se dissipe”, avalia.
O s�cio-diretor da Global Financial Advisor Miguel Daoud, n�o aposta em PIB superior a 1,5% este ano. “A quest�o do crescimento hoje n�o est� atrelada tanto a juros, mas sim aos custos de produ��o e �s defici�ncias estruturais do pa�s, que s�o muitas”, avalia o especialista que ainda acrescenta: “Temos que investir, mas infelizmente, neste momento, n�o h� est�mulos diante dos altos custos”, pondera.
As incertezas no cen�rio internacional, principalmente em rela��o ao crescimento da economia chinesa, tamb�m minam uma retomada mais efetiva da ind�stria. “O mundo vive uma sobreoferta de produtos manufaturados com a crise de demanda nas economias maduras”, avalia Octavio de Barros. Para o setor, a redu��o dos juros s� deve ter efeito em pelo menos seis meses.
Os efeitos reais mais tang�veis da queda da Selic, segundo avalia��o do especialista do Bradesco est� na mudan�a do cen�rio da taxa de c�mbio, agora mais depreciada diante da fuga de capitais. “Reduz ainda endividamento das fam�lias e empresas e tamb�m as distor��es hist�ricas de Selic e TJLP (Taxa de Juros de Longo Prazo), o que abre novas perspectivas para o papel do BNDES a m�dio prazo”, analisa Barros.
Barreira Apesar da falta de dinamismo da economia, mesmo diante dos esfor�os do governo, a continuidade da queda da Selic esbarra em uma dificuldade. “Um processo r�pido de redu��o pode aumentar a concentra��o banc�ria j� que as institui��es ter�o que aumentar o seu esfor�o de capta��o. Os pequenos e m�dios n�o aguentam”, observa o diretor presidente do Instituto de Pesquisas Fractal Celso Grisi ao citar, como exemplo, a recente joint-venture entre BMG e Ita�. “Como essa, vir�o outras”, acrescenta Grisi.
Ganhos e taxas caem
Nos rendimentos da poupan�a, as consequ�ncias do corte de 0,5 ponto percentual na taxa b�sica de juros ser�o instant�neas. Pelas novas regras, a rentabilidade da tradicional caderneta ser� de 70% da Selic. Com a taxa em 8% ao ano, o retorno ser� de 0,46% ao m�s. At� ontem, a varia��o era de 0,48%. Se o Banco Central decidir manter os juros b�sicos nesse n�vel at� julho de 2013, por exemplo, o rendimento total do per�odo ser� de 5,60%. A proje��o do mercado, por�m, � de que a Selic caia mais 0,50 ponto percentual na pr�xima reuni�o em agosto, para 7,5% ao ano, o que, caso se confirme, ir� reduzir o ganho da poupan�a para 0,43% mensal e 5,25% anual.
Ganhos na ponta do consumo, tamb�m s�o sentidos, por�m, com mais lentid�o. Assim que a decis�o do Copom foi anunciada, o Banco do Brasil reduziu os custos para linha de cr�dito de uma faixa de 2,23% a 3,82% ao m�s, para intervalo de 2,21% a 3,79%. Segundo c�lculos da Associa��o Nacional dos Executivos de Finan�as, Administra��o e Contabilidade (Anefac), a taxa m�dia dos financiamentos cair� menos de 1 ponto percentual no ano, passando de 105,32% (com a Selic em 8,5%) para os atuais 104,39%. A sutileza na redu��o n�o deve ser o �nico impeditivo para elevar a demanda por cr�dito e consequentemente as compras. “Apesar do impacto para os juros de consumo, as pessoas j� compraram o que podiam. As fam�lias est�o muito endividadas”, pondera o professor de finan�as da Funda��o Getulio Vargas (FGV), Samy Dana.
Esta � a principal justificativa para que a retra��o dos juros na ponta seja mais morosa e n�o alcance a mesma dimens�o dos cortes feitos pelo Copom. Nicola Tingas, economista-chefe da Associa��o Nacional das Institui��es de Cr�dito, Financiamento e Investimento (Acrefi), explica que a Selic � s� um dos elementos que pesam sobre o custo do dinheiro.
A inadimpl�ncia, os dep�sitos compuls�rios (percentual que os bancos s�o obrigados a guardar no Banco Central) e custos administrativos, tamb�m t�m grande peso na forma��o das taxas. “� preciso ver o custo de funding de cada institui��o. As taxas v�o depender de quanto o banco paga para captar recursos”, avalia. “Para reduzir o custo dos financiamentos no Brasil verdadeiramente, � preciso primeiro criar um mercado de capta��o de longo prazo. O que existe � muito incipiente”, acrescenta.
Foi diante da interven��o do governo federal no in�cio do ano – quando o Pal�cio do Planalto mandou os bancos p�blicos baixarem as taxas para pressionar a concorr�ncia privada a fazer o mesmo – que os consumidores finalmente puderam ver resultados mais imediatos e com maior impacto no bolso. Segundo c�lculos de Miguel Oliveira, vice-presidente da Anefac, enquanto a Selic caiu 4,5 pontos percentuais de julho de 2011 at� ontem, os juros ao consumidor reduziram 14 pontos. (PT com Victor Martins)