Diante da confirma��o de que o Brasil n�o cresceu em maio na compara��o com abril, a presidente Dilma Rousseff declarou em discurso, na IX Confer�ncia dos Direitos da Crian�a e do Adolescente, que um pa�s n�o deve ser medido pelo seu Produto Interno Bruto (PIB). “Uma grande na��o deve ser medida por aquilo que faz pelas suas crian�as e seus adolescentes”, declarou. A verdade � que o Brasil nunca fez tanto por seu PIB. Somente no primeiro semestre, o governo j� desembolsou R$ 102 bilh�es com o an�ncio de oito pacotes que inclu�ram desonera��o fiscal e redu��o de custos na folha de pagamento de diversos setores produtivos. Todo o esfor�o com o claro objetivo de alavancar a retra�da atividade econ�mica brasileira.
Mas nada parece surtir grandes efeitos. O Banco Central divulgou ontem que o indicador que serve de pr�via para o crescimento do PIB recuou 0,02% de abril para maio, mostrando clara estagna��o da economia. Apesar de fraco, o resultado poderia ser ainda pior se consideradas as expectativas do mercado, que giravam em torno de 0,5%. No ano, o �ndice de Atividade Econ�mica (IBC-Br) acumula crescimento de 0,4% e de 1,27% nos �ltimos 12 meses. O desempenho pode comprometer o resultado do segundo trimestre e impedir que 2012 registre uma taxa de expans�o acima de 2%.
As expectativas agora se voltam para junho, m�s que carrega a expectativa de ser o in�cio da retomada e que, se apresentar um bom resultado, pode garantir uma expans�o at� 0,5% para o segundo trimestre do ano – n�meros que, se confirmados, ser�o motivo de comemora��o no Pal�cio do Planalto.
Conforme os dados de atividade s�o divulgados, especialistas alertam que fica mais evidente a fragilidade do pa�s comparado a outras economias, que, mesmo em crise, v�o crescer mais que o Brasil. Enquanto aqui o teto das proje��es est� em 2% para 2012 – com apostas cada vez pr�ximas de 1,5% – , nos Estados Unidos, que enfrenta desemprego e s�rios problemas de consumo, a expectativa � de uma expans�o entre 2,2% e 2,7%. “Isso com uma infla��o de 2% ao ano por l�”, observou Fl�vio Serrano, economista do Esp�rito Santo Investment Bank. “Como um pa�s que n�o cresce, como o Brasil, tem uma infla��o acima de 4,5%?”, questionou.
Eduardo Velho, economista-chefe da corretora PlannerProsper, calcula que, se o pa�s avan�ar 1% em junho e crescer a uma taxa m�dia de 0,5% nos meses seguintes, ainda assim o PIB do ano chegaria apenas a 2%. “Um cen�rio, na nossa avalia��o, que tem baixa possibilidade de ocorrer”, disse.
Amortecedor
Para Luiz Fernando Pires, presidente do Sindicato da Ind�stria da Constru��o Civil de Minas Gerais (Sinduscon-MG), as medidas anunciadas pelo governo impediram uma retra��o maior no ritmo de crescimento do pa�s. “Sem elas, a retra��o seria mais acentuada, mas � pouco prov�vel que estimular�o grande dinamismo. Para isso, seriam necess�rias medidas mais profundas”, observa.
Na avalia��o de economistas, as medidas de est�mulo tamb�m conseguiram zerar os elevados estoques da ind�stria, que desde o fim do ano passado seguia em marcha lenta devido � dificuldade na venda. “Os indicadores de junho j� sugerem melhora, o que pode significar um PIB de 0,5% no segundo trimestre”, ponderou Fernanda Consorte, economista do Santander.
Resultados mais efetivos esbarram no alto comprometimento da renda das fam�lias e na falta de perspectivas positivas para a ind�stria. “Para que os empres�rios invistam, � preciso vislumbrar o retorno que ter� sobre o capital. Se os ambientes interno e externo n�o favorecem, aumenta o receio”, avalia a professora de economia da FGV/IBS Virene Roxo Matesco.
L� fora, incertezas quanto ao crescimento da China e cont�gio da crise europeia se encarregam de esfriar os �nimos por aqui. “O mercado l� fora est� demandando menos das empresas nacionais e, por aqui, as fam�lias est�o com a renda muito comprometida, o que cria um cen�rio de recuo nas expectativas das fam�lias e empresas”, avalia o gerente de economia da Federa��o das Ind�strias do Estado de Minas Gerais Guilherme Le�o.
De acordo com o BC, o endividamento das fam�lias alcan�ou o seu maior n�vel, com 43,3% da renda acumulada nos �ltimos 12 meses at� maio comprometida com o pagamento de d�vidas. Em n�meros absolutos, os brasileiros devem R$ 81,7 bilh�es, conta que tem impedido as fam�lias e empresas de aproveitar as redu��es da Selic e os benef�cios tribut�rios para a aquisi��o de ve�culos e outros bens.
Recorde tamb�m de cheques sem fundos
Consumo menor, inadimpl�ncia e d�vidas maiores. E mais cheques sem fundos devolvidos na pra�a. Esse � o cen�rio vivido pelo varejo nos �ltimos meses, apesar das estrat�gias do governo para estimular o consumo por meio do cr�dito mais f�cil. No primeiro semestre deste ano foram devolvidos 2,07% dos cheques em todo o pa�s, segundo o Indicador Serasa Experian de Cheques Sem Fundos. Foi o maior volume de devolu��es para o acumulado de janeiro a junho desde 2009, quando foram retornados 2,30% dos cheques.
Do total de 458,17 milh�es de cheques compensados, 9,48 milh�es foram devolvidos no primeiro semestre deste ano. “A inadimpl�ncia com cheques vem subindo junto com o endividamento do consumidor”, analisa Carlos Henrique de Almeida, economista da Serasa Experian. Na hora de receber o cheque pr�-datado, diz, que � uma forma de cr�dito, o varejista costuma conferir apenas a carteira de identidade do consumidor, sem fazer an�lise cadastral mais profunda.
Se for considerada a rela��o entre os cheques compensados no primeiro semestre de 2012 e em igual per�odo de 2011, h� uma queda de 10%, e nos cheques sem fundos de 3,6%. Ou seja, o volume de cheques sem fundos despejados na pra�a caiu bem menos, o que prova que os cheques est�o perdendo qualidade.
O levantamento de cheques sem fundos, segundo Almeida, segue a linha de queda das vendas no varejo e aumento na inadimpl�ncia do consumidor, divulgados nesta semana pela Serasa e pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estat�stica (IBGE). No primeiro semestre deste ano, a inadimpl�ncia teve alta de 19,1% em rela��o ao mesmo per�odo de 2011, segundo a Serasa. � a maior alta desde o primeiro semestre de 2002. As vendas no com�rcio varejista registraram queda de 0,7% em maio, na compara��o com abril, segundo o IBGE. � a maior retra��o desde novembro de 2008.
Queda
A partir do segundo semestre, a Serasa espera que a inadimpl�ncia do consumidor caia gradualmente e que o volume de cheques sem fundos tamb�m tenha redu��o. O aumento do consumo da classe C e a inser��o das classes D e E no mercado de cr�dito ajudaram a elevar a taxa de inadimpl�ncia, na avalia��o da Serasa. “S�o consumidores que n�o t�m viv�ncia no financiamento. Mas n�o d� para falar de bolha de consumo”, analisa Almeida.