H� um s�culo, com o nascimento do produtor rural An�sio Santiago (1912-2002), poucos poderiam imaginar a representatividade que o nome Salinas poderia ter. At� ent�o, tratava-se apenas do nome de uma cidade situada no Norte de Minas. Mas o in�cio da formaliza��o da produ��o de aguardente na fazenda Havana (que tamb�m seria o nome de uma das marcas mais tradicionais) nos anos 1940 garantiu novo tratamento ao substantivo. De l� para c�, outros produtores de cacha�a artesanal tamb�m criaram suas marcas e a regi�o passou a ser refer�ncia nos r�tulos das garrafas das melhores pingas do pa�s. Ontem, um novo cap�tulo da hist�ria come�ou a ser escrito: o Instituto Nacional da Propriedade Industrial (Inpi) concedeu o t�tulo de indica��o geogr�fica � cacha�a produzida nos alambiques de Salinas.
O simbolismo do t�tulo � a oportunidade de os produtores iniciarem uma verdadeira revolu��o na produ��o, iniciada por An�sio h� mais de meio s�culo. Atualmente, somente dois dos 25 integrantes da Associa��o dos Produtores Artesanais de Cacha�a de Salinas exportam o produto. A ideia � aproveitar o reconhecimento para multiplicar o volume nos pr�ximos anos. “O selo vai possibilitar distinguir a aut�ntica cacha�a de Salinas e abre as portas para os Estados Unidos e, principalmente, para a Europa”, afirma o presidente da associa��o, Nivaldo Gon�alves das Neves.
E ampliar a produ��o n�o significa industrializa��o do item artesanal. Nivaldo explica que hoje a capacidade instalada de fabrica��o est� aqu�m das possibilidades. Ele afirma que, a cada hectare de cana de a��car, � poss�vel produzir anualmente at� 13 mil litros, mas, atualmente, n�o passa de 7 mil litros. “Os alambiques funcionam de junho a setembro, mas, com maior demanda, pode se estender at� novembro”, afirma.
A partir da indica��o geogr�fica, os produtores que desejarem obter o selo, devem se enquadrar numa s�rie de normas que qualificam o produto como artesenal. Entre elas, a fermenta��o natural da cana; a mat�ria-prima n�o poder ser queimada; o uso alambique de cobre e dorna de a�o inox no processo de destila��o da pinga; e a principal � a obrigatoriedade de toda a produ��o ser a 2,5 mil quil�metros quadrados na Regi�o de Salinas.
Para isso, a associa��o deve fiscalizar rigorosamente todo o processo e pode acionar a Justi�a caso algum produtor indique, de forma enganosa, na sua garrafa que o produto � origin�rio de Salinas. “A indica��o geogr�fica � uma forma de evitar que outras marcas tomem carona em um nome famoso. No caso da cacha�a, trata-se um r�tulo propriamente brasileiro, mas a de Salinas fica duplamente qualificada”, afirma o coordenador do Setor de Indica��o Geogr�fica do Inpi, Luiz Cl�udio Dupim.
O t�tulo atribu�do � cacha�a de Salinas n�o � o primeiro concedido ao produto. Pioneira na produ��o nacional, Paraty, no interior fluminense, tamb�m j� havia conquistado a certifica��o. Em Minas, al�m da pinga, outros cinco produtos j� obtiveram o mesmo status: caf� do cerrado mineiro e da Serra da Mantiqueira, queijo Minas do Serro e da Serra da Canastra e as pe�as artesanais de estanho de S�o Jo�o del-Rei. Isso coloca o estado na primeira posi��o com mais produtos certificados, ao lado do Rio Grande do Sul. E pode ser o primeiro isolado se os biscoitos de S�o Tiago obtiverem tamb�m o reconhecimento.
Preconceito vencido Rotulada como uma bebida das classes mais pobres, a cacha�a ganhou ares sofisticados ao terem marcas produzidas artesanalmente. Al�m disso, por ser a principal mat�ria-prima da caipirinha, conquistou turistas dos quatro cantos do mundo. Agora pode “invadir” de vez mercados exigentes, como Estados Unidos e Europa. Mesmo com uma capacidade de produ��o de 1,2 bilh�o de litros, menos de 1% da cacha�a produzida anualmente � exportada. No caso de Minas, a proposta n�o � apenas crescer o volume vendido. “O que n�s temos que buscar � uma posi��o da cacha�a de alambique diferenciada da cacha�a industrial”, afirma Neves.
E o potencial � promissor. Bastou a canetada do presidente norte-americano, Barack Obama, que reconheceu a bebida como genuinamente brasileira, para que a procura pelo produto tivesse aumento da demanda. No primeiro semestre desse ano, a exporta��o de cacha�a para os EUA aumentou 12,62%, se comparado com igual per�odo do ano passado. E a tend�ncia � que o mercado se expanda ainda mais com o advento da Copa do Mundo e com a certifica��o.