
Nem s� de luxo vive o com�rcio do Belvedere. Considerado um dos mais sofisticados de Belo Horizonte, o bairro vive a contradi��o de ter na Avenida Luiz Paulo Franco um com�rcio de rua que mescla neg�cios finos e populares, que se assemelham �s lojas dos corredores movimentados do Centro da capital. Isso porque os propriet�rios dos estabelecimentos atendem diariamente funcion�rios de pr�dios vizinhos, do shopping, trabalhadores dos canteiros de obras da regi�o, bab�s e empregadas dom�sticas, que surgem como p�blico-alvo do com�rcio local.
A moderniza��o do bairro, que ocorre h� 12 anos, � apontada como fator determinante para a chegada dos novos com�rcios. Restaurantes, lanchonetes, lojas de roupas e ag�ncias banc�rias se instalaram dispostos a atender a demanda dos trabalhadores por alimenta��o, conveni�ncia e entretenimento no intervalo do almo�o. A partir de ent�o, a oferta de produtos mais baratos se tornou recorrente. Refei��o � o destaque. Pratos feitos custam de R$ 5,99 a R$ 9. H� ainda self-service sem balan�a, que cobra R$ 7,50. Entretanto, em restaurantes com maior oferta de pratos quentes e saladas, o pre�o do quilo da comida varia de R$ 23 a R$ 50. Lojas de roupas de moda feminina, de beb� e at� de artigos importados tamb�m s�o encontradas no local.
Funcionando h� mais de sete anos, a Cantina Tseknu Yaveh atrai centenas de clientes todos os dias. De acordo com o s�cio-propriet�rio Chan Wang, que vende comida mineira e chinesa ao pre�o de R$ 23 o quilo ou R$ 9 o prato feito, o Belvedere � um espa�o para todos os tipos de neg�cios. “Vendo principalmente para os trabalhadores da regi�o, que t�m t�quete m�dio que varia entre R$ 10 e R$ 12 por dia”, explica. “Os neg�cios de alimenta��o crescem aqui porque dificilmente eles fariam uma refei��o pelo mesmo valor dentro do shopping, todos os dias”, acrescenta.
Ainda de acordo com Wang, a regi�o tem atra�do novos estabelecimentos comerciais, principalmente restaurantes e lanchonetes, porque o perfil do consumidor mudou. Segundo ele, a ascens�o da classe m�dia permitiu que as pessoas almo�assem em restaurantes mais vezes na semana. “Antes, os trabalhadores traziam uma marmita de casa, mas agora, com sal�rios melhores, acabam almo�ando mais vezes nos restaurantes e isso acabou atraindo a aten��o de novos empres�rios que vieram para o bairro em busca desse p�blico”, completa.
Todas as tribos
Instalada na Avenida Luiz Paulo Franco h� oito meses, a loja Mercado das Modas est� tendo sucesso ao vender roupas com um pre�o mais acess�vel. A empres�ria Stefanie Sousa Vieira, o marido e um s�cio, que j� tinham uma loja de moda masculina em um shopping popular do Centro, resolveram comprar o ponto do Belvedere para diversificar os neg�cios. L�, encontraram uma demanda a ser suprida. “Vendo mais para as mulheres que trabalham nos pr�dios comerciais, para as bab�s e empregadas, que v�o pouco ao shopping”, conta Stefanie. “Foi uma mudan�a brusca porque � uma regi�o nobre, mas vi que aqui, curiosamente, tem espa�o para o que � mais barato tamb�m”, refor�a.
Prova de que os clientes aprovam os neg�cios mais populares instalados na avenida � a assiduidade da dom�stica Dirc�lia Luiza de Almeida, que trabalha h� mais de seis anos no bairro, na loja. “Tenho uma hora e meia de almo�o, ent�o venho ver as novidades. Essa semana comprei uma cal�a e agora estou procurando uma blusa”, afirma. Ela garante que possibilidade de fazer suas compras a um pre�o mais acess�vel � aproveitada por todos os trabalhadores do bairro. “O Belvedere � mais afastado e se n�o tiv�ssemos variedade de lojas aqui ter�amos que ir ao Centro resolver nossas coisas”.
Movimento justifica pre�o do aluguel
As lojas populares se instalam na regi�o que possui um dos metros quadrados para loca��o comercial mais caros da cidade, cerca de R$ 37 – valor que fica entre os R$ 27,75 e R$ 42 –, segundo a Funda��o Instituto de Pesquisas Econ�micas Administrativas e Cont�beis de Minas Gerais (Ipead). Hoje, s� na Avenida Luiz Paulo Franco s�o mais de 40 pontos comerciais, al�m de nove ag�ncias banc�rias abertas. Outros 10 pontos comerciais seguem dispon�veis para serem alugados. Por lojas de at� 160 metros quadrados, os empres�rios chegam a pagar alugueis que v�o de R$ 4 mil a R$ 6 mil.
A grande circula��o de pessoas e localiza��o justificam os altos pre�os praticados pelo mercado imobili�rio. “Este empres�rio acaba se aproveitando do movimento gerado pela expans�o do bairro e acaba pagando muito menos que no shopping, que por 40 metros quadrados cobra R$ 20 mil”, explica o corretor de im�veis Fabiano Ara�jo, da Belve Im�veis.
A atratividade da regi�o fez com que a empres�ria Bog�nia Hoffman, que trabalha com alimenta��o h� 55 anos, visse no Belvedere a oportunidade de reerguer o seu neg�cio. Depois de ter o antigo ponto comercial na Savassi solicitado pelos propriet�rios, ela come�ou a pesquisar os pre�os e movimento do Belvedere para inaugurar a lanchonete e doceria Girassol. “Vi a car�ncia de uma lanchonete como a minha e que existia espa�o para oferecer um servi�o de mais qualidade”, conta.
Segundo os empres�rios, durante a semana, o movimento � maior no atendimento de balc�o e aos finais de semana s�o os moradores os principais frequentadores dos estabelecimentos. A advogada Lina Soares acompanha o perfil de quem vive na regi�o. “Uso os servi�os mais espec�ficos como farm�cia, academia, banco e, �s vezes, vou a alguma loja de roupas ou restaurante. Acredito que ainda exista uma divis�o dos tipos de neg�cio para os moradores e os trabalhadores”, afirma.
� exatamente a procura de servi�os mais sofisticados que mant�m o restaurante Graciliano h� mais de 13 anos na Luiz Paulo Franco. “Temos que estar preparados para manter o ritmo imposto pela concorr�ncia. Investimos em promo��es e parcerias com as empresas do entorno”, conta a coordenadora de equipe do restaurante, Mirani Nunes Freitas.
Briga saud�vel
Para a executiva de vendas Raielle Pereira, que almo�a diariamente no bairro, a briga entre os populares e os restaurantes finos, al�m dos restaurantes do shopping, permite que eles tenham op��es e pre�os que caibam no bolso. “O shopping ainda � para poucos e precisamos de op��es de qualidade, higiene e bom pre�o”, diz. “Acredito que o com�rcio ainda tenha muito espa�o para crescer porque a regi�o tamb�m est� crescendo e quanto mais oferta para quem trabalha aqui, melhor”, finaliza.