Aos 20 anos, Roni Peterson perdeu seu primeiro emprego de montador na f�brica da General Motors de S�o Jos� dos Campos (SP), conquistado um ano e meio antes. Era 1998, ano da crise asi�tica, que teve impacto nas economias mundiais. A produ��o da ind�stria automobil�stica, que em 1997 tinha sido a maior da hist�ria, despencou 23%.
Peterson n�o trabalha no setor amea�ado. � funcion�rio da linha de montagem da picape S10, �nica a operar em tr�s turnos no complexo. "Se tiver demiss�o, n�o significa que vai atingir s� o pessoal do setor, mas todo mundo corre risco", diz. "Nos �ltimos dias est� um clima angustiante na f�brica. Ningu�m conversa, ningu�m brinca".
O complexo emprega 7,2 mil funcion�rios em oito f�bricas. A que est� amea�ada � a MVA, que at� o m�s passado produzia os modelos Corsa, Classic, Meriva e Zafira. Hoje, s� resta o sed� Classic, que tamb�m � feito nas f�bricas de S�o Caetano do Sul (SP) e da Argentina, e s� fica atr�s do Celta em vendas.
S�o Jos� � respons�vel por 25% da produ��o do Classic e, segundo a GM, o modelo foi levado para l� para refor�ar a linha dos outros tr�s carros que j� vinham perdendo vendas por serem antigos. A Meriva e a Zafira foram substitu�das pelo Spin, feito em S�o Caetano. O Corsa saiu de linha para dar lugar � fam�lia �nix, que ser� feita em Gravata� (RS) no in�cio de 2013.
As outras unidades do complexo produzem a S10 - e, at� o fim do ano, a nova Blazer -, motores, cabe�otes, transmiss�es, estamparia, pe�as pl�sticas e kits para exporta��o (CKDs).
Os pr�prios funcion�rios avaliam que s� o Classic n�o ser� suficiente para sustentar uma linha e se preparam para ver o fim da produ��o de autom�veis na f�brica que produziu o Chevette - que vendeu 1,6 milh�o de unidades - e o Kadett. No auge da produ��o, em 1997, a f�brica chegou a ter 11 mil funcion�rios.
"Dos 18 anos que estou na f�brica, essa � a pior fase que enfrento", afirma Jos� Monteiro Silva, de 47 anos. Tapeceiro na MVA, ele � da Cipa e, portanto, tem estabilidade no emprego, mas diz que sofre ao ver companheiros contarem que n�o conseguem mais dormir. "Vi um colega chorando de desespero." Na sa�da do primeiro turno na quinta-feira, �s 15h, muitos trabalhadores cruzavam os port�es cabisbaixos. Poucos aceitaram dar entrevistas e a maioria pediu para n�o ter os nomes citados.
Um deles, de 47 anos, est� na GM h� 27. Foi contratado no ano em que a empresa enfrentou uma das mais pol�micas greves, que resultou na ocupa��o da f�brica por grevistas que fizeram 370 funcion�rios ref�ns por 36 horas. "Hoje a situa��o � ainda pior. Se fecharem a MVA, vai ter mais de 1,5 mil demiss�es".
Explica��es. A dire��o da GM foi convocada pelo Minist�rio da Fazenda para dar explica��es na ter�a-feira sobre a amea�a de cortes. Na sexta-feira, a presidente Dilma Rousseff cobrou a manuten��o de empregos dos setores que foram beneficiados pela redu��o do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI).
A GM j� abriu um programa de demiss�o volunt�ria que teve a ades�o de 356 trabalhadores. Alguns alegam terem sido "for�ados" a aderir.
O diretor de rela��es institucionais da GM, Luiz Moan, tem dito que a empresa cumpre o acordo de manuten��o de vagas, pois est� contratando em outras unidades. Neste m�s, abriu 250 vagas em Gravata� e 300 na f�brica de motores que vai inaugurar em Joinville (SC).
No dia 4, a GM, o Sindicato dos Metal�rgicos de S�o Jos� dos Campos, a prefeitura e o Minist�rio do Trabalho voltam a se reunir para analisar propostas que possam evitar as demiss�es ou ao menos, adotar um processo menos traum�tico. "Eu consegui esse emprego h� apenas um ano, tenho muitas d�vidas e, se perd�-lo, ser muito complicado", afirma Rodrigo Alves, funcion�rio da MVA.
Sem acordo. A GM n�o alega problemas de mercado para fechar a f�brica de carros, mas de falta de flexibilidade por parte da dire��o do Sindicato dos Metal�rgicos, com quem tem dificuldades de fechar acordos h� v�rios anos. "A f�brica de S�o Jos� � a �nica que n�o tem banco de horas", exemplifica Moan.
Segundo ele, em raz�o dessas dificuldades, projetos novos foram para outras f�bricas. Com o fim da linha dos modelos mais antigos, n�o h� produtos para substitu�-los. "O �ltimo acordo que fizemos foi em 2008, para a produ��o da nova S10". Segundo a GM, o acordo previa redu��o dos sal�rios para novas contrata��es e trabalho extra quando necess�rio, mas n�o foi renovado pelo sindicato em 2010.
O presidente do sindicato, Antonio Ferreira de Barros, afirma que h� cinco meses busca novas propostas da GM, mas nada foi apresentado. "O sindicato � apontado como a parte radical, o intransigente nas negocia��es, mas o que falta � justamente uma proposta da GM. Queremos acreditar que dia 4 ocorra um avan�o por parte da empresa pois, do ponto de vista econ�mico, n�o h� raz�o para demitir."
No meio automobil�stico, contudo, h� quem acredite que, no longo prazo, a GM poder� fechar todo o complexo.