Bancos brasileiros podem ser "v�timas do pr�prio sucesso", diz FMI

O Fundo Monet�rio Internacional (FMI) avaliou nesta ter�a-feira que o sistema financeiro brasileiro permanece saud�vel e bem regulamentado, mas precisa estar alerta para n�o ser "v�tima do sucesso" das pol�ticas que evitaram os efeitos mais graves da crise internacional.

Em uma avalia��o peri�dica do sistema brasileiro, o Fundo disse que o setor "� est�vel, mas a expans�o acelerada do cr�dito nos �ltimos anos pode gerar riscos" para a economia.

"Existe o risco de que o sistema financeiro se torne v�tima de seu pr�prio sucesso", disse o chefe da miss�o de avalia��o, Dimitri Demekas. "A expans�o acelerada do cr�dito nos �ltimos anos apoiou o crescimento da economia interna e o aumento da inclus�o financeira, mas essa expans�o tamb�m pode gerar vulnerabilidades."

Al�m disso, o pa�s est� "preso" em um cen�rio de taxas de juros elevadas e prazos curtos que prejudicam o financiamento privado de longo prazo, avalia o relat�rio do Programa de Avalia��o do Setor Financeiro (FSAP, na sigla em ingl�s).

Desde 2010, na esteira da crise econ�mica, o FMI estabeleceu que a verifica��o seja obrigatoriamente realizada a cada cinco anos em 25 pa�ses de import�ncia "sist�mica", ou seja, onde uma crise financeira tem o potencial de se espalhar para outros mercados.

Sobre o Brasil, o Fundo avalia que o risco sist�mico � "baixo" por causa de regulamenta��es "s�lidas" e dos colch�es de liquidez obrigat�rios nos bancos. Estas pol�ticas "inteligentes" e as prote��es do sistema fizeram com que pa�s superasse "muito bem" a crise mundial iniciada em 2008, avaliou o Fundo.

Entretanto, olhando para o futuro, o pa�s se beneficiar� de reformas para "suportar uma variada gama de poss�veis choques", nas palavras de Demekas.

A avalia��o dos t�cnicos do Fundo � que, se o sistema financeiro brasileiro foi capaz de suportar com sucesso a crise mais recente, isto n�o indica que teria igual desempenho em uma crise financeira no futuro.

O relat�rio sugere algumas reformas para aumentar a seguran�a do sistema e fortalecer os mecanismos de ajuda aos bancos. Indica tamb�m outras medidas de efeitos mais distantes no horizonte, para "aumentar a contribui��o do setor financeiro para o crescimento do Brasil no longo prazo".

Para o FMI, o governo deve repensar a atua��o do Banco Nacional de Desenvolvimento Econ�mico e Social (BNDES) – que deu uma esp�cie de "quase-est�mulo fiscal" durante o momento mais dif�cil da crise, mas que no longo prazo pode acabar sufocando o desenvolvimento do sistema.

"O BNDES deve mudar na dire��o de apoiar o financiamento com base no mercado e o desenvolvimento do mercado de capitais", avaliam os t�cnicos.

O relat�rio reconhece que o banco � um "pilar" do desenvolvimento brasileiro, mas afirma que � medida que a economia do Brasil cresce, "as restri��es de financiamento v�o limitar cada vez a sua capacidade de ser o �nico financiador dos investimentos de investimentos de longo prazo".

Na avalia��o do FMI, o BNDES pode ajudar a desenvolver o mercado atrav�s de financiamentos conjuntos e de gradual retirada das opera��es de financiamento direto de grandes companhias, como a Petrobras e a Vale, capazes de levantar recursos facilmente no mercado.

Os principais riscos s�o as chamadas "vulnerabilidades dom�sticas" geradas principalmente pelo crescimento do endividamento dos consumidores.

O relat�rio lembra que h� "ind�cios" de tens�o em alguns setores e classes de ativos, com destaque para o endividamento das fam�lias e o r�pido aumento dos pre�os dos im�veis nas principais regi�es metropolitanas, como S�o Paulo e Rio de Janeiro.

Estes riscos s�o mitigados pela ainda baixa propor��o da d�vida em rela��o ao Produto Interno Bruto (PIB) – algo em torno de 50% –, uma "supervis�o banc�ria robusta" e "elevados n�veis de prote��o em termos de capital e liquidez nos bancos".

"Mas � preciso manter a vigil�ncia, aperfei�oar os dados e estar pronto para intervir e controlar essas fontes de aquecimento se necess�rio", recomendou o relat�rio.

A avalia��o aponta que outra "vulnerabilidade dom�stica" poderia vir atrelada � redu��o dos juros.

"� medida que os juros no Brasil continuem a cair e se aproximar de n�veis internacionais, a demanda dos investidores internos por rendimentos mais altos pode levar a uma subestima��o do pre�o do risco e � forma��o de bolhas de pre�o de ativos", disse o relat�rio.

O documento lembrou tamb�m que a economia brasileira est� suscet�vel �s mesmas vulnerabilidades de outros pa�ses emergentes, sobretudo a volatilidade em torno das exporta��es de commodities.

� a primeira vez que o Brasil permite a publica��o das conclus�es do Programa FSAP. Para o FMI, isto reflete a confian�a do pa�s no seu crescimento, seu papel como uma das maiores economias do mundo, e inclusive um "amadurecimento" de sua rela��o com o Fundo.