
A tend�ncia � que esse percentual aumente, porque a Classe C v� a moda como um passaporte para a inclus�o social, uma forma de ser aceita. N�o se trata de consumo leviano, mas do reflexo da melhoria da qualidade de vida. Pesquisa da N. Marinho Marketing apontou que, nesse grupo, a maioria s�o mulheres com n�vel superior completo, acesso � internet, que se inspiram no que usam as celebridades e as protagonistas de novelas. N�o est�o preocupadas com marca. Querem roupa de qualidade, elegante, com bom acabamento, sem gastar muito. Os homens, esses sim, gostam de ostentar etiqueta famosa, de griffe estrangeira. Para Renato Meirelles, presidente do Instituto Data Popular, a compara��o entre vestu�rio e estudo n�o sobrevive fora do contexto hist�rico e social.
“Roupa n�o � sup�rfluo. A Classe C entrou para o mercado de trabalho, 83% t�m carteira assinada e precisam ampliar o guarda-roupa”, opinou Meirelles. Ele ressalta um “certo preconceito” em rela��o � nova classe. � criticada porque compra roupa. Se n�o compra e usa modelo inadequado, esses mesmos que a criticam n�o lhe dar�o emprego ou a taxar�o de brega. Da mesma forma, descarta o discurso de que essa fatia da sociedade n�o poupa para a educa��o dos filhos e que, sem o preparo das Classes A e B, puxa a qualidade do ensino para baixo. “A Classe C ainda carece de g�neros de primeira necessidade. Metade da popula��o brasileira n�o tem m�quina de lavar. Vai para o tanque depois de um cansativo dia de trabalho”, destacou.
O casal formado por Adenilson de Jesus Moura, auxiliar de produ��o em Belo Horizonte, e a cuidadora de idosos Zilneide Ferreira n�o consegue fugir dos gastos com vestu�rio. As despesas pesam no or�amento, mas s�o decisivas na inser��o social. Segundo eles, investir em roupas � uma decis�o que vai al�m da vaidade. “A gente precisa estar bem vestido para trabalhar”, afrima Adenilson, ressaltando que o custo do vestu�rio em sua fam�lia � pelo menos tr�s vezes superior aos gastos com educa��o, mesmo considerando que pagam mensalidade de R$ 100 para o filho de cinco anos estudar em uma escola infantil particular. Zilneide, que tamb�m � m�e de dois adolescentes, com idades entre 16 e 17 anos, conta que os jovens n�o est�o mais frequentando a escola. Com isso, a fatura com roupas supera gastos com livros ou materiais educativos, hoje quase inexistentes. “Adolescentes gostam de marcas cara, uma sa�da para comprar roupas n�o fica por menos de R$ 200”, compara.
Segundo Renato Meirelles, os gastos ainda pequenos da popula��o com educa��o est�o relacionados tamb�m � din�mica do sistema. Ele aponta que, quando ocorre qualquer universaliza��o, o primeiro movimento � de queda de qualidade. Na educa��o, por�m, o fator determinante n�o � o despreparo, mas a quantidade reduzida de bons professores. “O Brasil n�o se preparou. Ou�o gente dizer que o pai teve educa��o melhor. Pode ser. Mas h� 30 anos s� 40% da popula��o tinha o ensino m�dio”, argumenta. Meirelles contesta as ironias lan�adas contra o programa governamental Ci�ncia sem Fronteiras (bolsas de estudo para pesquisa no exterior). “Precisamos escolher onde queremos chegar. � melhor mais doutores sabendo pouco menos, com perspectiva de avan�o, ou uns poucos detendo o saber?”, questionou.
Qualifica��o pode vir a dist�ncia
A nova classe m�dia brasileira investe na apar�ncia, mas tamb�m est� cada vez mais ligada na educa��o. Ela ainda conta, em grande escala, com a escola p�blica – que alivia o or�amento dom�stico –, mas investe tamb�m em tecnologias que melhoram a qualidade do ensino. A classe ascendente tamb�m tem movimentado neg�cios em educa��o espec�ficos para atender a demanda de quem tem or�amento apertado, mas come�a a perceber a import�ncia da qualifica��o. Segundo Marcelo Neri, coordenador do Centro de Pesquisas Sociais da Funda��o Get�lio Vargas, um dos mais brilhante sinais que apontam para um futuro promissor da classe m�dia � que os filhos s�o mais bem educados que os pais.

De olho na necessidade de fam�lias como a de Rosalina e Fl�vio, algumas institui��es brasileiras de ensino superior criaram estrat�gias para a inser��o da classe emergente no mercado de trabalho. A Uni�o Educacional de Bras�lia (Uneb) adotou a educa��o � dist�ncia. A id�ia, segundo o diretor-executivo Marcelino Hermida, � usar tecnologias inovadoras em benef�cio do aluno, sem baixar a qualidade. “Quanto mais investimento em educa��o, maior a empregabilidade e o reconhecimento profissional.”