Pelo segundo ano consecutivo, os motoristas mineiros ser�o obrigados a abastecer com gasolina devido aos altos pre�os do etanol nas bombas. Com a pol�tica de biocombust�veis relegada a segundo plano pelo governo federal, a produ��o da ind�stria de �lcool recuou, apesar do aumento da frota e a consequente necessidade de maior disponibilidade do produto. At� a presidente da Petrobras, Maria das Gra�as Foster, reconheceu nesta semana a import�ncia do etanol para reduzir o volume de combust�vel importado e os custos da companhia, possibilitando a manuten��o do pre�o da gasolina nas bombas. No entanto, os motoristas mineiros devem completar, em setembro, um ciclo de 24 meses em que n�o vale a pena optar pelo etanol na hora de abastecer. Isso porque, para ser vantajoso, o litro do etanol deve custar, no m�ximo, o correspondente a 70% do pre�o do litro da gasolina. Como isso n�o ocorre h� dois anos, a venda do biocombust�vel nos postos retrocedeu a patamar semelhante ao do in�cio de 2007.
At� 2009, o volume de vendas nos postos mineiros vinha crescendo vertiginosamente, acompanhado pelo aumento do n�mero de autom�veis em geral e pela op��o da ind�stria em produzi-los com motores bicombust�vel. De 2007 a 2009, a comercializa��o mais que dobrou, tendo variado 144%. A partir da�, no entanto, a demanda sofreu redu��o dr�stica em fun��o da eleva��o dos pre�os. A revenda do combust�vel feito � base de cana-de-a��car caiu 57,34% e, segundo representantes do setor, a tend�ncia � que essa derrocada continue at� que medidas de incentivo sejam tomadas para retomada da produ��o.
Na verdade, a ind�stria sucroalcooleira n�o possui, atualmente, condi��es sequer para retomar o patamar de mistura de etanol na gasolina, de 25%, diante da baixa produ��o e do insuficiente estoque. O diretor da Ag�ncia Nacional do Petr�leo, G�s e Biocombust�veis (ANP), Alan Kardec, disse ontem que a discuss�o s� deve ser retomada em abril do ano que vem, quando se tiver as primeiras previs�es da safra da cana-de-a��car.
Para abastecer a crescente demanda da frota nacional at� 2020 seria necess�ria a constru��o de 100 usinas, segundo estimativa da Associa��o das Ind�strias Sucroenerg�tica de Minas Gerais (Siamig). No pa�s, h� 413 usinasem opera��o – sendo 41 delas em Minas Gerais. Desde 2010 novas plantas n�o saem do papel. Os investimentos estimados para alavancar o mercado nos pr�ximos oito anos seriam da ordem de R$ 100 bilh�es, mas, a curto prazo, n�o h� recursos previstos para o estado. “O setor est� disposto a investir, mas o produto precisa, antes de mais nada, ter competitividade”, diz Luiz Cust�dio Martins, presidente a Siamig.
Enquanto isso, as importa��es de gasolina est�o batendo no teto. O crescimento vertiginoso da frota, associado � redu��o da disponibilidade do etanol, obriga a Petrobras a produzir mais gasolina, mas as refinarias da empresa tamb�m atingiram o limite. O pa�s abriu 2010 com importa��es de 17 mil barris ao dia e, no fim do mesmo ano, j� importava 45 mil barris ao dia. Atualmente, as importa��es est�o pr�ximas de 80 mil barris ao dia, o que obrigou a presidente Petrobras, Maria das Gra�as Foster, a convocar o setor sucroalcooleiro a retomar os investimentos. “O etanol volta quando os usineiros entenderem que os pre�os justificam os investimentos. O etanol � o perfil do Brasil. Tenho certeza de que o etanol fica e vai trazer resultados. Gasolina e �lcool s�o insepar�veis”, disse ela, em evento para divulga��o de resultados da estatal – que apontaram preju�zo de R$ 1,3 bilh�o no segundo trimestre.
P�s-crise
Desde a crise mundial iniciada com a quebra do banco americano Lehman Brothers, em 2008, o etanol, anunciado pelo governo do ex-presidente Lula como o produto que transformaria o Brasil em uma Ar�bia Saudita verde vem sofrendo sucessivos golpes, deixando o horizonte dos biocombust�veis cada vez mais deserto. A crise de cr�dito, que barrou os investimentos, o pre�o congelado da gasolina, que baliza o valor pago nas bombas pelo etanol, a eleva��o dos custos, a queda da produtividade e, por fim, a descoberta do pr�-sal – que passou a concentrar os investimentos –, estagnaram o combust�vel.
Nos �ltimos dois anos o etanol s� foi vantajoso, e por curtos per�odos, nos estados de Goi�s, Mato Grosso e S�o Paulo, que conta com menor al�quota de ICMS. Em Minas, o uso do etanol atingiu seu auge em 2009, quando chegou a representar 40% do combust�vel utilizado pelos consumidores, considerando as vendas da gasolina C. Em 2010, essa participa��o caiu drasticamente, atingindo 23%. A queda continuou em 2011, quando a participa��o do etanol fechou o ano em 14% do mercado. Em 2012, at� o momento, o etanol representa 11% do consumo de combust�veis. Nem a redu��o da al�quota do ICMS – de 22% para 19% –, v�lida desde 1º de janeiro, contribuiu para alavancar as vendas. “N�o diria que � o fim do etanol. Mas o princ�pio do fim. Um ciclo que acontece para, daqui a tr�s ou cinco anos, ter uma nova ressurrei��o”, prev� Adriano Pires, presidente do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE).
Usineiros querem matriz energ�tica bem definida
Na d�cada de 90, o etanol brasileiro enfrentou per�odos de vacas magras, quando os pre�os da gasolina ficaram competitivos. O combust�vel ganhou impulso no in�cio dos anos 2000, para iniciar, em 2008, o ciclo do sufoco. “O que o pa�s precisa � definir uma pol�tica estrat�gica para o etanol que d� seguran�a aos investimentos. � preciso definir qual ser� a participa��o do etanol na matriz energ�tica nacional”, diz o presidente do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE), Adriano Pires.
Para o consumidor, o desabastecimento pode piorar, j� que, com a alta da cota��o do milho na bolsa de Chicago, o mercado est� mais prop�cio � exporta��o do etanol fabricado a partir da cana-de-a��car do que � importa��o do combust�vel americano. produzido a partir do milho. Com as exporta��es, a pequena oferta para o mercado interno fica ainda menor. “Nada mudou em rela��o ao ano passado. A oferta do etanol � restrita e a frota flex vai continuar desabastecida”, resume Julio Maria Borges, especialista do setor e s�cio-diretor da Job Economia.
Para Luiz Cust�dio Martins, a pol�tica governamental tem privilegiado os combust�veis f�sseis. O etanol est� com custos defasados em R$ 0,40 por litro e, segundo o presidente da Associa��o das Ind�strias Sucroenerg�tica de Minas Gerais (Siamig), o governo demorou a tomar atitude sobre o aumento do percentual da mistura de �lcool � gasolina e uma nova eleva��o do percentual s� dever� ocorrer a partir de abril de 2013. O setor cobra que o governo apresente medidas para tornar o combust�vel competitivo em um mercado de pre�o est�vel para gasolina. (PRF e MC)