
A pouco menos de dois anos para a bola come�ar a rolar pelos est�dios brasileiros no megaevento da Copa do Mundo, o sinal amarelo j� est� acesso em diversos setores que correm o risco de n�o conseguir entregar o servi�o necess�rio para o Mundial: falta m�o de obra na constru��o civil e no segmento de turismo, os aeroportos correm contra o tempo e precisam ampliar o n�mero de funcion�rios para finalizar as obras de expans�o, o n�mero de t�xis que circulam pelas ruas � escasso. E, para completar, come�a a ser ventilado o risco de apag�o no setor de telecomunica��es.
Para tentar suprir o problema da m�o de obra, os organizadores do evento acreditam que vai ser necess�rio reativar os aposentados no mercado de trabalho e contar tamb�m com a ajuda de amigos e familiares nos balc�es de vendas e servi�os. Na constru��o civil, a qualifica��o profissional alcan�ou as mulheres e o trabalho feminino tem sido uma das sa�das encontradas para driblar a escassez de trabalhadores nos canteiros de obra. “O volume de mulheres na compara��o com homens ainda � pequeno na constru��o, mas tornou-se realidade”, afirma Ant�nio Carlos Mendes Gomes, presidente da Comiss�o de Pol�tica de Rela��es Trabalhistas (CPRT) da C�mara Brasileira da Ind�stria da Constru��o (CBIC), que lan�ou um programa para incentivar o sexo feminino a colocar a m�o na massa nos canteiros.
O segmento de turismo deve criar cerca de 5 mil postos de trabalho s� em Belo Horizonte at� a Copa de 2014, segundo estimativas do BH Convention & Visitors Bureau. “Os empregos ser�o criados desde o pipoqueiro at� o dono do hotel cinco estrelas”, afirma Roberto Luciano Fagundes, presidente do Visitors Buerau. Segundo ele, h� perspectiva para a abertura de cerca de 35 hot�is na capital at� o Mundial de futebol, sendo que cada um deve demandar cerca de 30 funcion�rios. “Nossa preocupa��o maior � com a m�o de obra e a dificuldade de conseguir trabalhadores com forma��o espec�fica”, diz Fagundes.
A hotelaria, a alimenta��o fora do lar, os taxistas e os prestadores de servi�o para o p�blico s�o os setores que mais devem sofrer com a falta de trabalhadores, avalia Fagundes. “Acredito que teremos que resolver o problema com improvisa��es. Aposentados e familiares devem ser demandados para trabalhar”, afirma.
Oportunidades
O Minist�rio do Turismo abriu 2,5 mil vagas no Senac de Minas Gerais para cursos com atividades voltadas para a Copa do Mundo, como camareira, recepcionista de meios de hospedagem, gar�om e auxiliar de cozinha. O Senac j� recebeu 330 matr�culas de interessados nos cursos. “A car�ncia de profissionais nessas �reas ocorre desde agora. No curso de gar�om, por exemplo, as pessoas j� saem com oferta de emprego de mais de uma empresa”, afirma Carolina Vieira, gestora do Programa Nacional de Acesso ao Ensino T�cnico e Emprego (Pronatec) no Senac Minas.
De olho na Copa de 2014, Rochelle Maciel est� fazendo o curso de recepcionista de eventos. “Imagino que teremos muitas oportunidades no Mundial, pois vamos receber autoridades e equipes esportivas de todos os pa�ses”, afirma Rochelle, que n�o est� trabalhando atualmente. Ela sabe ingl�s e j� trabalhou como atendente de aeroporto. Na sua avalia��o, o curso vai servir n�o s� para o per�odo da Copa. “Belo Horizonte � uma cidade de turismo de neg�cios. Temos eventos o ano inteiro. E a Copa vai ajudar a mostrar a cidade para o mundo”, diz.
D�ficit na constru��o civil
Na constru��o civil, as empresas querem investir, mas falta m�o de obra. O setor conta hoje com 3,3 milh�es de trabalhadores formais no Brasil, segundo dados da C�mara Brasileira da Ind�stria da Constru��o (CBIC). Nos �ltimos seis anos, esse n�mero dobrou. A entidade estima que vai fechar 2012 com cerca de 200 mil novas vagas na constru��o, aumento de 6% em rela��o a 2011. Na Grande BH, h� atualmente 130 mil trabalhadores da constru��o e um d�ficit de 20 mil pessoas.
“Os trabalhadores est�o migrando para outras profiss�es, como gar�om, vendedor e diarista. Os empres�rios v�o ter que trabalhar para formar a m�o de obra especializada. Acredito que as obras em hot�is e infraestrutura ser�o as mais prejudicadas”, diz Osmir Venuto da Silva, presidente do Sindicato dos Trabalhadores da Constru��o Civil em Belo Horizonte e regi�o metropolitana. Segundo ele, vai ser preciso contratar mais gente. “Caso contr�rio, os cronogramas v�o ser atrasados”, afirma. E, como faltam trabalhadores, a m�o de obra de outros estados, com destaque para o Nordeste, come�a a chegar � capital.
As obras de amplia��o e moderniza��o do terminal 1 no Aeroporto Internacional Tancredo Neves, em Confins, na Grande BH, j� sinalizam a situa��o que muitos empreendimentos podem vivenciar nos pr�ximos meses. Para conseguir terminar os trabalhos no prazo planejado (dezembro de 2013), a Empresa Brasileira de Infraestrutura Aeroportu�ria (Infraero) e o cons�rcio Marquise/Normatel anunciaram que v�o ampliar em 25% (de 200 para 250) o n�mero de trabalhadores no aeroporto.

Se for depender da m�o de obra feminina para ajudar nos canteiros de obra, boa vontade n�o falta a Elis�ngela Alves de Meira, de 31 anos. � com protetor solar, base no rosto, sombra nos olhos, batom e brinco que ela vai diariamente para as obras da construtora MRV. Ela trabalha h� dois anos como sinaleira de grua e conta que � a �nica mulher entre os colegas. “N�o h� nada que os homens fa�am que n�o consigo fazer igual ou melhor. Mas n�o posso perder a feminilidade. Venho trabalhar sempre maquiada”, diz. Ela era faxineira, mas conta que trocou de emprego para ter o 13º sal�rio, f�rias e hor�rio para entrar e sair do servi�o.
APAG�O NA TELECOMUNICA��O A edi��o impressa da revista brit�nica The Economist trouxe recentemente reportagem em que aponta para o risco de apag�o das telecomunica��es no Brasil, em especial nos dois pr�ximos grandes eventos esportivos que o pa�s vai abrigar: a Copa do Mundo, em 2014, e as Olimp�adas, em 2016. Segundo a publica��o, a pane das redes de telefonia pode ocorrer caso n�o sejam feitos investimentos vultosos no setor para responder � demanda crescente por novas linhas.
O quadro do setor n�o � otimista. O governo brasileiro fez o leil�o para o oferecimento de servi�o 4G nas cidades-sede do pr�ximo Mundial sob a condi��o de que tudo esteja pronto um ano antes do evento. Mas as empresas vencedoras s�o, em sua maioria, as mesmas que n�o conseguiram atender � demanda pelo 3G e por servi�os de voz. H� ainda o caso recente da proibi��o da venda de novas linhas pelas empresas Tim, Claro e Oi como outra evid�ncia de que o caos n�o parece estar distante. Apesar de as tr�s operadoras terem concordado em gastar R$ 2 bilh�es a mais, totalizando R$ 20 bilh�es a serem investidos at� 2014, o valor ainda � pouco para a Ag�ncia Nacional de Telecomunica��es (Anatel).
O professor de economia da �rea de concorr�ncia e regula��o da Funda��o Getulio Vargas (FGV) Arthur Barrio Nuevo pondera, no entanto, que o problema no segmento de telecomunica��es n�o acontece s� no Brasil. “O n�mero de linhas est� crescendo, assim como o n�mero de minutos. E o tr�fego aumenta muito rapidamente. � necess�rio continuar a investir para melhorar o servi�o de 3G e oferecer o 4G”, diz. (GC)
daqui para o futuro
Investimento em infraestrutura ser� gol de placa
O sucesso para a organiza��o da Copa do Mundo depende ainda de outro investimento considerado chave para os analistas: o da infraestrutura. A conclus�o � de estudos do N�cleo de Inova��o da Funda��o Dom Cabral, que analisou o comportamento econ�mico do Brasil de 1994 a 2011. “Para que o pa�s cres�a, � urgente o investimento em infraestrutura”, avalia Hugo Ferreira Braga Tadeu, professor associado da FDC, com p�s-doutorado em transportes no Canad�. Ele ressalta que os desembolsos anuais do governo para o setor (incluindo energia el�trica, telecomunica��es, transportes e saneamento b�sico) desde o in�cio do Plano Real se mant�m em cerca de 2% a 2,5% do Produto Interno Bruto (PIB), bem abaixo dos gastos de pa�ses da Organiza��o para a Coopera��o e Desenvolvimento Econ�mico (OCDE), que chegam a 7% do PIB.