O ano para o Brasil come�ou na virada do segundo semestre, diante de uma primeira metade do exerc�cio bastante desaquecida. Decepcionante, o Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro acumulou crescimento de apenas 0,6% nos seis primeiros meses de 2012 na compara��o com o mesmo intervalo de 2011 e de 1,2% em 12 meses. Os patamares s�o os piores para o per�odo desde 2009, quando o pa�s sofria os efeitos da crise financeira norte-americana. Para cravar expans�o de 1,6% – estimativa da Tend�ncias Consultoria –, praticamente metade dos 3% projetados pelo governo, seria necess�rio crescer pelo menos 1,1% no terceiro trimestre e 0,9% no quarto frente aos tr�s meses imediatamente anteriores.
Os patamares est�o bem acima da varia��o positiva de 0,4% registrado pelo PIB no segundo trimestre frente aos tr�s primeiros meses do ano, segundo dados das Contas Nacionais divulgados ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estat�stica (IBGE), na s�rie com ajuste sazonal. A alta ficou abaixo da expectativa m�dia do mercado, que apostava em 0,5%, mas representou um ligeiro avan�o frente ao desempenho do primeiro trimestre, quando a expans�o havia sido de mero 0,1%. Em valores correntes, o PIB somou R$ 1,1 trilh�o entre abril e junho.
Apesar de considerados pontuais pelos analistas, os efeitos das medidas do governo de incentivo � economia tiveram participa��o no resultado, ainda que n�o com a for�a esperada. O Ita� Unibanco atribui � redu��o do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) para ve�culos, boa parte da contribui��o para o avan�o de 0,4% registrado no �ltimo trimestre. “Nossa estimativa � de que a redu��o do IPI tenha sido respons�vel com cerca de 0,3 ponto percentual para o crescimento do segundo trimestre”, avalia o banco em relat�rio para o mercado. O que significa que, n�o fossem as interven��es, a economia teria repetido o resultado apurado entre janeiro e mar�o, de 0,1%.
O impacto da redu��o da Selic – que saiu de 12,5% para 7,5% em um ano – aliada � desonera��o fiscal e da folha de pagamentos de diversos setores industriais ainda est� por vir. “At� ent�o n�o foi suficiente para impulsionar a economia. O crescimento do consumo via cr�dito associado �s medidas de desonera��o e os impactos do sal�rio m�nimo est�o dando menos resultado”, avalia o professor do Instituto de Economia da Unicamp, Andr� Biancareli. A justificativa est� principalmente no alto endividamento das fam�lias (59,8% t�m a renda comprometida) e no n�vel de inadimpl�ncia. Para o ministro da Fazenda, Guido Mantega, o avan�o no segundo trimestre � um “pren�ncio de resultados melhores no segundo semestre.”
Assim como o governo, o mercado coloca todas as fichas nos meses entre julho e dezembro, que, historicamente, s�o melhores que os seis primeiros. Este ano tendem a ser ainda mais aquecidos diante das medidas macroprudenciais que dever�o surtir efeitos mais contundentes a partir de agora. “O consumo deve continuar incentivado pelas prorroga��es do corte do IPI. A demanda ser� maior tamb�m incentivada pelo recebimento do 13º sal�rio”, avalia o professor da Funda��o Getulio Vargas/IBS Raul Duarte Neto.
Revis�es pessimistas
Apesar de o ministro Mantega considerar que o resultado do PIB hoje � de “retrovisor” e que o pior j� passou, a varia��o de 0,4% foi suficiente para motivar a revis�o do crescimento do pa�s no ano. Antes oscilando na casa dos 2%, as apostas do mercado se voltam, cada vez com mais for�a, para o patamar de 1,5%. � o que j� prev� o professor da Escola de Economia da FGV-SP Emerson Mar�al.
A ag�ncia classificadora de risco Austing Rating tamb�m afasta suas previs�es dos 2%, ao reduzir de 1,9% para 1,7% a expectativa de PIB em 2012, mantendo em 3,7% a perspectiva para 2013. “Os pr�ximos trimestres dever�o crescer, em m�dia, a uma taxa anualizada de 2,8% para que esse resultado seja alcan�ado”, avalia o economista Felipe Queiroz. Para o terceiro trimestre, a proje��o � de alta de 1,2% em rela��o ao segundo. “A recupera��o ser� sustentada pelo PIB da agropecu�ria e servi�os. Contribuir� tamb�m a ind�stria, que deve crescer por volta de 1% at� dezembro”, avalia.
Assim como no trimestre anterior, o consumo das fam�lias continuar� sendo o grande respons�vel pelo avan�o do PIB nacional. “Nossa proje��o � de crescimento de 3% no consumo das fam�lias no 3º trimestre contra o mesmo per�odo do ano anterior”, prev� Felipe. De abril a junho deste ano, a varia��o frente ao mesmo intervalo de 2011 foi de 2,4%. Para o analista da Tend�ncias Consultoria Rafael Bacciotti, a despesa das fam�lias dever� ter alta de 0,6% no terceiro trimestre e 1% no quarto, sendo a grande respons�vel pela recupera��o da ind�stria. “Acreditamos em expans�o de 2,7% para o setor entre julho e setembro e de 0,5% nos �ltimos tr�s meses do ano”, diz.
Na avalia��o do gerente de estudos econ�micos da Federa��o das Ind�strias de Minas Gerais (Fiemg), Guilherme Velloso Le�o, o desempenho, por�m, n�o ser� suficiente para reverter o quadro negativo do setor que registrou queda de 2,5% do PIB entre o primeiro e segundo trimestres do ano. “No segundo semestre, sempre h� uma melhora em fun��o das datas comemorativas que compensam as perdas”, diz. O especialista afirma que seria necess�rio – de julho at� o fim do ano – um crescimento em torno 3% ao m�s para recuperar a produ��o f�sica negativa acumulada em 2012. “Dado o cen�rio nacional e internacional � dif�cil acreditar que isso ocorra”, refor�a.