Bras�lia – O minguado crescimento da economia brasileira — h� oito trimestres consecutivos, o Produto Interno Bruto (PIB) cresce abaixo de 1% — poderia ter sido ainda pior, n�o fosse a resist�ncia da renda dos trabalhadores, que mant�m o varejo distante da crise que atormenta a presidente Dilma Rousseff. Em m�dia, nos �ltimos cinco anos, o rendimento das fam�lias aumentou 5% acima da infla��o e, pelas contas da Tend�ncias Consultoria, deve continuar avan�ando 4% anualmente entre 2013 e 2018.
Para o ministro da Fazenda, Guido Mantega, a for�a da renda est� compensando a relut�ncia dos bancos em ampliar a oferta de cr�dito. No seu entender, s�o as duas pontas agindo na mesma dire��o que garantiram o incremento do consumo das fam�lias por 35 trimestres consecutivos, conforme constatou o Instituto Brasileiro de Geografia e Estat�stica (IBGE). Por isso, a necessidade de as institui��es financeiras voltarem a liberar empr�stimos e financiamentos. “Os bancos precisam deixar um pouco do conservadorismo de lado”, diz.
O apelo de Mantega � compreens�vel. Como muitos lares est�o com boa parte do or�amento comprometido com d�vidas, com o cr�dito restrito aos que t�m capacidade de empr�stimos ou de comprar a prazo � poss�vel que somente a renda n�o seja suficiente para manter o bom ritmo do varejo, pelo menos a curto prazo. “Vamos trabalhar para que os bancos ousem mais. N�o queremos ver repetidos os exageros de 2010, quando as institui��es liberaram cr�dito sem qualquer crit�rio, aumentando a inadimpl�ncia. O que queremos � um meio termo”, complementa um assessor do Pal�cio do Planalto. Para ele, com a vendas aquecidas, a ind�stria ter� condi��es de desovar os estoque e retomar a produ��o e os investimentos em f�bricas.
O des�nimo no setor produtivo � grande, mas quando se olha para o com�rcio, h� o que comemorar. Tanto que, mesmo com os economistas prevendo crescimento para o PIB deste ano entre 1,2% e 1,5%, as perspectivas s�o de alta de at� 6% no faturamento do varejo. E mais: levantamento do IBGE mostram que o com�rcio cresce mais justamente nas regi�es nas quais o cr�dito � menos presente e a popula��o conta mesmo � com o sal�rio do m�s para poder consumir, como no Nordeste, no Norte e no Centro-Oeste do pa�s.
Para o Instituto para Desenvolvimento do Varejo (IDV), n�o fosse o aperto no cr�dito decretado pelos bancos, o aumento na massa salarial — puxado pelos que ascenderam � classe m�dia — teria garantido um resultado ainda melhor ao com�rcio que, no ano passado, n�o repetiu os cerca de 10% de incremento verificado em 2010, mas alcan�ou alta de 6,7%.
O pr�prio ministro da Fazenda, Guido Mantega, j� declarou que a redu��o da oferta de cr�dito � um limitador ao crescimento do poder de compra do consumidor, que est� sendo sustentado pelo n�vel de emprego e renda. “A massa salarial cresceu significativamente, baseada no crescimento real dos sal�rios. Mas dois ter�os dessa expans�o v�m do aumento do n�mero de pessoas trabalhando. Apesar do ritmo de gera��o de novos empregos ter ca�do este ano, foram criados 1,8 milh�o de postos at� agora”, destaca o presidente do IDV, Fernando de Castro.
Apesar da renda estar segurando o consumo, o economista Paulo Neves, da LCA Consultores, acredita que o cr�dito vai ser impulsionado no segundo semestre. “No in�cio do ano, os segmentos ligados � renda estavam crescendo bem mais do que os que dependem de cr�dito. Agora, no entanto, j� h� sinais de retomada das vendas de ve�culos e de eletrodom�sticos da linha branca, por conta na redu��o do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI)”, aponta. Neves destaca que os �ltimos dados do Banco Central, de junho, mostraram uma expans�o de meio ponto percentual no volume total de cr�dito concedido pelas institui��es privadas, o que sinaliza uma melhora na disposi��o dos bancos para os financiamentos.
“O aumento da inadimpl�ncia nas vendas de ve�culos acabou causando uma rea��o das financiadoras de restri��o ao cr�dito ao consumidor como um todo, para reduzir a sua exposi��o ao risco. Varejistas t�m reclamado do excesso de conservadorismo nos financiamentos”, relata Fernando de Castro. Segundo ele, a sa�da encontrada por v�rias redes populares de eletroeletr�nicos, de m�dio porte da �rea da constru��o bem como por supermercados, foi aumentar por contra pr�pria a concess�o de cr�dito. “Estamos vendo a volta do carn� de pagamento, que j� estava em desuso”, conta.
Sem a ajuda dos bancos
Em alguns setores, como o da constru��o, a contra��o do cr�dito foi sentida mais fortemente. “O �ndice de aprova��o de financiamentos pela institui��o financeira caiu de 45% para 11%. Agora, de cada 10 consumidores que tentam obter cr�dito para comprar na nossa rede, apenas um consegue”, lamenta o diretor-geral da Leroy Merlin, Alain Ryckeboer. E agora a empresa est� em busca de uma nova institui��o financeira, pois o Ita� Unibanco j� informou � Leroy que ir� dar fim � parceria.
Por meio da assessoria de imprensa, a institui��o informou que a descontinuidade da parceria foi consequ�ncia da busca de maior rentabilidade aos acionistas e do objetivo de focar em neg�cios de maior escala e retorno. “Especificamente na �rea de cr�dito ao consumidor, o atual cen�rio fez com que o banco encerrasse algumas dessas parcerias”, explicou o Ita� Unibanco, que j� havia anunciado anteriormente o fim de parcerias importantes, como a que mantinha com as Lojas Americanas.
Segundo o diretor-geral da Leroy Merlin, o impacto na concess�o do cr�dito s� n�o foi maior por conta da atua��o dos bancos p�blicos. “Nossos consumidores t�m conseguido financiamentos pela Caixa e pelo Banco do Brasil”, afirma. As vendas, contudo, continuam crescendo. “Tivemos um incremento de 20% no primeiro semestre. Foi bom, mas nos anos anteriores chegava a 30%”, compara Ryckeboer. N�o � � toa que o crescimento do volume de vendas no com�rcio varejista no pa�s, medido pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estat�stica (IBGE) ficou em 7% no ano at� junho, mas teria sido bem maior (de 9,1%) se n�o fossem levados em conta os desempenhos dos setores de ve�culos e constru��o.
O presidente do IDV ressalta que o com�rcio no primeiro semestre foi impulsionado pela estrat�gia bem-sucedida do varejo de abertura de pontos de vendas. “Houve crescimento maior das redes que abriram lojas em regi�es perif�ricas das cidades, visando atender � nova classe m�dia brasileira”, diagnostica. Com as restri��es ao cr�dito e tamb�m para fugir das d�vidas, parte desse p�blico tem preferido pagar � vista, dinheiro que vem movimentando a economia.
A diretora da Secretaria de Assuntos Estrat�gicos (SAE) da Presid�ncia da Rep�blica, Diana Grosner, considera ser preciso que o governo invista em pol�ticas voltadas para educa��o financeira e em qualifica��o profissional, para que os 57% dos brasileiros inclu�dos nos �ltimos anos na classe m�dia avancem financeiramente. Ela cita como motivo de preocupa��o o fato de a rotatividade nos postos de trabalho no pa�s chegar a 40%.
RENDA � O MAIOR LASTRO DO PIB