
A queda das taxas durante o per�odo foi disseminada. Atingiu primeiramente as linhas em que os bancos t�m maior garantia de retomar pelo menos parte do dinheiro de volta, em caso de calote, como o cr�dito habitacional, o financiamento de ve�culos e at� o chamado cr�dito consignado — em que o sal�rio que cai na conta do cliente acaba indo direto para o pagamento das presta��es. Apenas no financiamento de ve�culos pelo Cr�dito Direto ao Consumidor (CDC), a redu��o foi de 12,33 pontos percentuais de julho de 2011 at� setembro deste ano. A taxa m�dia saiu de 32,46% ao ano para 20,13%.
A queda vem sendo sentida no bolso do consumidor. Antes de o BC come�ar a reduzir a Selic, um fog�o que custasse R$ 500, por exemplo, sairia por R$ 852,31 ao fim de um financiamento de 12 meses. Agora, o mesmo produto acaba custando R$ 781,79 no mesmo prazo — uma redu��o de R$ 5,88 em cada presta��o. O Brasil, no entanto, ainda tem juros elevad�ssimos porque as taxas cobradas por bancos e financeiras n�o variam somente em fun��o da mudan�a da Selic. O chamado spread banc�rio (diferen�a entre o custo de capta��o e de aplica��o de recursos pelos bancos) depende de v�rios fatores.
Soma-se a isso o fato de o Brasil ter um �ndice tamb�m elevado de calotes nas opera��es de cr�dito. Segundo o Fundo Monet�rio Internacional (FMI), o pa�s tem um dos �ndices mais altos de inadimpl�ncia da Am�rica Latina, de 3,6%. Em ordem decrescente, Equador (3,2%), Peru (3%), Col�mbia (2,4%), Chile (2,2%), M�xico (2,2%) e Paraguai (2%) contabilizam atrasos menores no pagamento de compromissos financeiros do que o Brasil. O c�lculo leva em conta todo o cr�dito dispon�vel no sistema financeiro e n�o diferencia o calote de pessoas e de empresas.
Bola de neve
A desinforma��o de parte dos consumidores eleva o n�vel do calote. � que muitas vezes o consumidor n�o sabe que as linhas de financiamento mais f�ceis de acessar, como o cheque especial e o cart�o de cr�dito, s�o tamb�m as mais caras. Foi o que aconteceu com a secret�ria �rika Lima, 31 anos. Sem ter no��o de qu�o elevadas s�o as taxas cobradas nessas modalidades de cr�dito, ela foi vendo crescer a d�vida. "Eu sempre utilizava os limites do cart�o e do cheque como se fossem parte da minha renda do m�s. Ia pagando o m�nimo e jogando a conta para depois", lembra. Ao entrar no rotativo, �rika foi postergando o pagamento integral do cart�o, o que se tornou um grande problema quando o d�bito chegou a R$ 2,5 mil. "Virou uma bola de neve. Tive que ir ao banco e pedir para cancelar meu cart�o de cr�dito. Depois, financiei a d�vida e fiquei dois anos e meio pagando", conta.
Ao renegociar os d�bitos, �rika viu que as taxas eram maiores do que imaginava. "S�o car�ssimas. Por isso eu nem me arrisco a manter um limite alto como tinha antes. Agora, gasto s� R$ 300, diferente dos R$ 3 mil que eu tinha antes de ter estourado o cart�o", disse ela. Para o economista da Funda��o Getulio Vargas (FGV) Andr� Braz, o fato de os consumidores continuarem usando o cr�dito de maneira intensa vai contribuir para que os juros permane�am altos no mercado ainda por muito tempo. "� uma quest�o de oferta e de procura. Tem muita gente procurando obter cr�dito, mesmo com taxas ainda em patamares elevados", observou.
Segundo o economista da FGV, o mercado s� vai reduzir os encargos financeiros no momento em que o consumidor ficar mais exigente e passar a negociar taxas mais baixas com as institui��es. "O consumidor tem � disposi��o a portabilidade de cr�dito e, como os bancos p�blicos est�o liderando a queda dos juros, se ele for cliente de uma institui��o privada ter� condi��es de obter taxas melhores se amea�ar mudar de banco", ensinou.
Para Luiz Rabi, economista da Serasa Experian, o fato de os bancos estarem mais seletivos ao conceder cr�dito pode ajudar a reduzir o calote. "As novas opera��es est�o com uma qualidade melhor. E isso vai fazer com que a taxa de inadimpl�ncia comece a cair", disse. Ele lembra que a taxa m�dia est� em 7,9% desde maio deste ano. "O pr�ximo movimento � de queda", acredita.