
Estudar mais para ganhar sal�rios melhores sempre foi a premissa de qualquer profissional. Mas esta j� deixou de ser uma regra, pelo menos entre cargos de baixa qualifica��o que est�o com a demanda em alta, enquanto a oferta de m�o de obra n�o avan�a na mesma propor��o. O resultado: ficar tr�s anos a mais na escola para conclus�o do ensino m�dio em Minas Gerais garante ganho inicial de R$ 26 a mais se comparado com o sal�rio de quem ingressa no mercado de trabalho com o ensino fundamental completo. No pa�s, a diferen�a � de R$ 41,66.
Levantamento do Minist�rio do Trabalho e Emprego (MTE) realizado a pedido do Estado de Minas revela que a dist�ncia entre os sal�rios iniciais de profissionais com ensino m�dio e fundamental completos � a menor dos �ltimos cinco anos no estado. Durante este per�odo, a diferen�a de proventos sempre girou na casa dos R$ 30 – alcan�ando pico de R$ 36 em 2010. A justificativa est� na valoriza��o dos sal�rios de admiss�o daqueles com menos anos de estudo. Para ensino fundamental, a alta entre 2007 e 2012 foi de 63,1%, enquanto para o m�dio ficou em 59,5%. Entre os analfabetos, a alta foi de 68,6%, ficando em 43,5% entre os graduados, menor varia��o entre todas as escolaridades.
Para os especialistas, o fen�meno est� mais relacionado � conjuntura econ�mica do que propriamente ao n�mero de anos dedicados � educa��o. “O sal�rio m�nimo vem ganhando ajustes reais expressivos nos �ltimos anos, o que impacta diretamente na remunera��o de pessoas com menor qualifica��o. Enquanto isso, os aumentos para cargos maiores n�o ocorrem na mesma velocidade”, diz o coordenador do curso de recursos humanos da Newton Paiva, Jo�o de Avelar Andrade.
A disputa com a ind�stria fez com que com�rcio e servi�o perdessem for�a de trabalho. “Com isso, profissionais sem qualifica��o come�am a escassear e o sal�rio a subir”, observa Otto Nogami, professor de economia do Insper. M�rio Rodarte, professor de economia e demografia da UFMG e pesquisador do Centro de Desenvolvimento e Planejamento Regional de Minas Gerais (Cedeplar) reconhece que a falta de profissionais para ocupar determinadas fun��es est� entre as principais causas do cen�rio “aparentemente estranho”. “Esse movimento tornou-se mais vis�vel com o boom imobili�rio que ampliou muito a demanda por m�o de obra de menor escolaridade, num momento hist�rico em que esse perfil diminui sua participa��o na for�a de trabalho”, avalia Rodarte.
S�o mestres de obras que ganham mais que m�dicos, pedreiros com sal�rios superiores a R$ 3 mil e uma s�rie de outros cargos que ajudam a puxar a m�dia salarial de escolaridades mais baixas. Tamb�m na onda da constru��o civil em alta, a corretora de im�veis da Morus Marta Costa tem ensino m�dio completo, mas com sal�rio digno de gerente de grande empresa. “Se tivesse ensino superior, n�o sei se ganharia a mesma coisa”, conta. Isso n�o significa que ela queira desistir dos estudos. “Vou fazer um curso de especializa��o em gest�o imobili�ria para n�o ficar desatualizada”, planeja.
Superior desvaloriza
O sal�rio de admiss�o para graduados ainda � duas vezes e meia superior se comparado ao de profissionais com ensino m�dio completo. A diferen�a, por�m, j� foi muito maior. Em 2008, chegou a 186,8%, percentual que vem caindo gradativamente de l� para c�. Para o professor titular do Departamento de Economia da PUC-RJ, Jos� M�rcio Camargo, a heterogeneidade dos profissionais com ensino superior completo dificulta o estabelecimento de sal�rios padr�es, como o que ocorre com o grupo menos escolarizado.
“Neste caso, o empres�rio tende a oferecer valores menores, j� que n�o tem garantia e certeza da produtividade do funcion�rio. Para evitar erros e pagar sal�rios maiores, oferece remunera��o de entrada reduzida”, avalia. O que n�o significa que o cen�rio se manter�. “Se fizermos uma pesquisa mais ‘pente-fino’, na esfera de cada posto de trabalho, notamos que o trabalhador qualificado tende a ganhar expressivamente mais que seu colega de atividade que executa a mesma tarefa”, pondera Rodarte.
Cargos mais bem remunerados
Gerente de contratos da constru��o pesada, superintendente de shopping e gerente de geologia com foco em minera��o s�o alguns dos cargos executivos mais bem remunerados em Minas Gerais. Os dados s�o da pesquisa de remunera��o da Michael Page, um dos maiores players em recrutamento especializado. Na compara��o com estados como Rio de Janeiro e S�o Paulo, Minas Gerais desponta com os melhores sal�rios para esses profissionais. Enquanto em S�o Paulo e no Rio de Janeiro um gerente de contratos recebe at� R$ 30 mil, em Minas o sal�rio pode passar de R$ 35 mil.
O mesmo acontece com o gerente de geologia de mina, que recebe at� R$ 20 mil, e o superintendente de shopping, que recebe at� R$ 30 mil. Os bons sal�rios s�o justificados pela demanda dos pr�prios setores por profissionais especializados nessas �reas. De acordo com o diretor da Michael Page em Belo Horizonte, Rafael Chagas, o crescimento do sal�rio para os gerentes de contratos, por exemplo, ocorre em fun��o do aquecimento da constru��o pesada. “O mercado ficou parado por duas d�cadas e de oito anos para c� estamos vendo esse segmento crescer de novo e com ele o sal�rio”, explica.
Ainda de acordo com Chagas, o surgimento de contratos em �reas pouco desenvolvidas e o ac�mulo de responsabilidades para esses profissionais tamb�m justificam os altos sal�rios da fun��o. “Al�m de trabalharem em locais complicados, com contratos de dif�cil performance e num ambiente de muita press�o, a atua��o do gerente de contrato de obras pesadas se assemelha muito ao papel de um CEO de uma empresa de grande porte”, diz.
T�o raro como a m�o de obra para gerente de contratos � o ge�logo s�nior especializado em minera��o, que em Minas tem sal�rio que vai de R$ 15 mil a R$ 20 mil, segundo a pesquisa. O profissional, que antes sofria com uma desvaloriza��o em fun��o da realiza��o de atividades t�cnicas e de campo, agora precisa de conhecimento de mercado para receber sal�rios mais atrativos. “Esse profissional tem que ser bom tecnicamente, mas tamb�m entender do neg�cio, da explora��o, do planejamento”, considera Chagas.
Conhecimento Tamb�m se destacam no estudo, que analisou outros cinco cargos executivos em Minas e no Brasil, os superintendentes de shopping, com sal�rios que v�o de R$ 20 mil a R$ 30 mil. Respons�veis por orquestrar todas as opera��es de um empreendimento, esses profissionais precisam ser completos, assegura o consultor da �rea de marketing e vendas da Michael Page, Frederico Torres. “Nesse setor as remunera��es s�o t�o agressivas quanto as metas e, por isso, esse profissional precisa ser completo e a busca se torna mais criteriosa”, avalia Torres. “� necess�rio que esse profissional tenha conhecimentos em opera��es financeiras, mas tamb�m em gest�o de pessoas e foco em resultados”, completa.
Entre as outras remunera��es analisadas em Minas, est�o a do diretor de planejamento tribut�rio, que em Minas recebe de R$ 18 mil a 25 mil, engenheiro de minas s�nior, de R$ 15 mil a R$ 20 mil, gerente de RI, de R$ 17 mil a R$ 20 mil, gerente de vendas com foco em TI e Telecom de R$ 15 mil a R$ 20 mil e gerente de marketing on-line de R$ 12 mil a R$ 17 mil. Para 2013, Chagas espera que o mercado em Minas contrate ainda mais.