
Bras�lia – Companheiros de viagem h� cinco anos, os caminhoneiros Paulo S�rgio Melo, de 39 anos, e Rosicl�rio Quadros de Oliveira, de 36, transformaram a solid�o da vida na estrada em uma parceria para toda e qualquer necessidade. Nas cabines dos ve�culos, fotos das fam�lias, bandeiras dos times do cora��o e cuias para tomar chimarr�o s�o os amuletos para amenizar a saudade de casa. Nos momentos em que n�o est�o com as m�os no volante, param nos acostamentos ou recuos das pistas para preparar o almo�o e descansar alguns minutos. Naturais do Rio Grande do Sul, enfrentam as estradas brasileiras semanalmente para transportar chapas de a�o de empresas de Minas Gerais para companhias de S�o Paulo, de Santa Catarina e do Paran�.
Entre as v�rias rodovias que cruzam para distribuir a mercadoria, passam obrigatoriamente pela BR-040. Acostumados a dirigir pela estrada, conhecem os trechos mais movimentados, os mais perigosos e os melhores postos para repousar. Melo conta que, entre Bras�lia — cidade que marca o quil�metro zero da estrada — e Belo Horizonte — munic�pio que come�a no km 532 — o asfalto n�o apresenta grandes defici�ncias, apesar de algumas ondula��es, de curvas perigosas e inclina��es oriundas de sucessivas obras para tapar buracos.
J� Rosicl�rio alerta que a partir da capital mineira o tr�fego de ve�culos � intenso, uma vez que grandes mineradoras est�o instaladas na regi�o. Al�m do excesso de ve�culos, ele conta que rachaduras e buracos no asfalto s�o um problema para quem conduz qualquer ve�culo em uma pista dupla sem acostamento. “Tamb�m falta sinaliza��o. Rodamos pelo menos 141 quil�metros em condi��es prec�rias. Mas soube que todo o trecho do Distrito Federal at� Juiz de Fora ser� concedido � iniciativa privada e toda a pista duplicada. Esperamos que melhore”, projeta.
Assim como os dois caminhoneiros que fazem viagens semanais pela BR-040, o Estado de Minas percorreu os 936,8 quil�metros durante cinco dias para tra�ar uma radiografia do trecho que ser� privatizado pelo governo federal, em leil�o previsto para 30 de janeiro. At� ter�a-feira, uma s�rie de reportagens contar� como � a vida de quem mora � beira da estrada, tira o sustento dela e continua se assustando com acidentes constantes. Um dos principais eixos de liga��o entre o Sudeste e a Regi�o Central do pa�s, passam pela BR-040 alimentos, ve�culos, eletrodom�sticos e eletroeletr�nicos, al�m de vestu�rio.
Ped�gio Ao todo, 11 pontos de ped�gio ser�o instalados pela empresa que preencher todos os requisitos previstos no edital de licita��o, que ser� publicado sexta-feira. Ganhar� o leil�o a empresa que oferecer a menor tarifa para os ped�gios, com teto um pouco al�m dos R$ 4,20 previstos inicialmente. A abertura das propostas dever� ocorrer no fim de janeiro. Ao todo, 557,2 quil�metros de estrada ser�o duplicados. Toda a empreitada exigir� investimentos de pelo menos R$ 6,6 bilh�es dos vencedores do leil�o, conforme estimativa da Ag�ncia Nacional de Transportes Terrestres (ANTT).
A diretora da ANTT Nat�lia Marcassa garante que a concess�o da BR-040 � iniciativa privada, j� que o governo n�o disp�e de recursos suficientes para modernizar e manter a rodovia, faz parte de um plano de investimento em log�stica que construir� 7,5 mil quil�metros de estradas e 10 mil quil�metros de ferrovias. Ela destaca que sete empresas nacionais e internacionais com experi�ncia na opera��o de estradas demonstraram interesse em participar da concorr�ncia. “Fomos procurados durante as audi�ncias p�blicas, em outubro e novembro e, depois, os interessados voltaram a pedir informa��es sobre o projeto”, diz.
A vida profissional do aut�nomo Maur�cio Jos� de Oliveira, de 52 anos, se confunde com o crescimento do tr�fego da BR-040. H� pelo menos tr�s d�cadas ele vive entre Paracatu (MG) e Goi�nia (GO) para distribuir cereais pelas fazendas que margeiam a estrada. Oliveira relembra que o movimento na rodovia n�o era t�o intenso quando come�ou a viajar para fazer as entregas. “J� passou da hora de duplicarem essa rodovia. Soube que v�o fazer uma privatiza��o e isso � muito importante”, comenta.
Sa�da para defici�ncias
Bras�lia – Anunciada como solu��o para por fim � precariedade que atormenta motoristas profissionais e viajantes que se aventuram pela BR-040, a concess�o � iniciativa privada do trecho que liga Bras�lia a Juiz de Fora tem por objetivo sanar as defici�ncias acumuladas nas �ltimas d�cadas. Mesmo antes de se formar no curso t�cnico de eletricista, Jos� Maria Rodrigues, de 45 anos, j� percorria a rodovia para visitar parentes durante as f�rias. Depois que ganhou o diploma, ele, que � morador de Barbacena, passou a prestar servi�os em todas as cidades entre Belo Horizonte e Juiz de Fora.
Por esse caminho, Rodrigues presenciou acidentes graves na �poca em que apenas uma pista de m�o dupla fazia a liga��o entre os munic�pios de Minas Gerais. Apesar da duplica��o entre Curvelo e Juiz de Fora, outras defici�ncias surgiram. O n�mero de acidentes diminuiu, mas Rodrigues lembra que a infraestrutura necess�ria para dar suporte aos usu�rios na estrada n�o acompanhou o crescimento do fluxo de ve�culos.
Com o intuito de superar esses gargalos, o plano de outorga — documento produzido pela Ag�ncia Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) que detalha parte das regras da licita��o — traz uma s�rie de obras que a concession�ria vencedora ser� obrigada a executar para melhorar o servi�os aos usu�rios da rodovia. Est�o previstos cinco pontos de apoio e paradas de caminhoneiros, tr�s postos da Pol�cia Rodovi�ria Federal (PRF), 18 bases operacionais que tamb�m atender�o motoristas, seis balan�as para pesagem de ve�culos e uma base de fiscaliza��o da reguladora.
O coordenador-geral do N�cleo de Transportes da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Ronaldo Guimar�es Gouv�a, explica que h� duas d�cadas a destina��o de recursos para a manuten��o das estradas brasileiras � �nfima, o que resultou na degrada��o do sistema rodovi�rio do pa�s. “A concession�ria que assumir essa estrada dever� oferecer melhorias no pavimento, servi�o de telefonia ligado a centrais de atendimento, acostamentos onde n�o h�, sinaliza��o informativa e de orienta��o e um pre�o justo no valor do ped�gio", resume Gouv�a. (AT)
� preciso mais integra��o
Joaquim de Arag�o - Professor da Universidade de Bras�lia
O programa de concess�es ser� positivo se for capaz de incentivar a cria��o de grandes empresas nacionais capazes de construir, manter e operar com qualidade toda a infraestrutura que o pa�s precisa desenvolver. Em todo o mundo, grandes companhias exploram o mercado de log�stica, desde a constru��o de rodovias e ferrovias at� o transporte dos produtos com carretas e trens. A infraestrutura rodovi�ria existente no Brasil � ultrapassada e sobrecarregada pela falta de uma malha que interligue as regi�es e os polos econ�micos. Os projetos em execu��o pelo governo atacam apenas os gargalos e contemplam s� trechos em que h� um fluxo intenso de ve�culos. Somente a duplica��o n�o ser� suficiente.