Informalidade e sal�rios baixos. Essa � a caracter�stiva predominante no mercado de trabalho que os jovens entre 15 e 24 anos encontram no pa�s. A despeito dessas condi��es menos favor�veis, a maior oferta de emprego nos �ltimos anos decorrente do crescimento econ�mico, aliada � desmotiva��o do que se aprende na sala de aula, incentivou essa parcela da popula��o a priorizar o ganha-p�o e largar a escola. Do contingente de 30,08 milh�es de brasileiros que est�o nessa faixa de idade, os que s� trabalham aumentou de 32% para 34,6% entre 2001 e 2011. A maior parte deles tem entre 18 e 24 anos, 62,2% do total.
J� os que trabalhavam e estudavam ao mesmo tempo diminu�ram de 18,7% para 15,5% no per�odo, conforme os dados levantados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estat�sticas (IBGE) a pedido do Estado de Minas, com base na Pesquisa Nacional por Amostra de Domic�lios (Pnad) de 2011. Est�o nesse grupo principalmente os mais novos, de 15 a 18 anos – 60% deles. O consolo � que um percentual deles n�o precisou mais dar duro e passou a apenas a estudar: a participa��o dos que t�m de 15 a 24 anos que s� frequentam a sala de aula passou de 29,9% para 30,9% entre 2001 e 2011.
“Uma parte dos jovens tem permanecido mais tempo na escola e empregado mais tempo estudando. Com isso, teremos jovens mais escolarizados no futuro, postergando a entrada no mercado de trabalho. Outros, no entanto, largam os estudos e preferem disputar uma vaga de emprego”, observa Rodrigo Leandro de Moura, professor da Funda��o Getulio Vargas (FGV).
Os dados do IBGE mostram que, de cada 100 jovens entre 15 e 24 anos, 46 estudam e 50 trabalham. A pesquisa do IBGE aponta se a pessoa estava ocupada ou n�o no momento da entrevista, considerando tanto o “bico” como a atividade regular com carteira assinada como trabalho.
Al�m das condi��es prec�rias da ocupa��o, um quarto dos jovens entre 15 e 24 anos tem jornada semanal de mais de 45 horas. A carga hor�ria prevista em lei � de 8 horas por dia, totalizando 40 horas por semana. Quanto mais novos, maior a informalidade. Pelo menos 80% dos que est�o na faixa de 15 a 17 anos trabalham sem carteira assinada. O percentual chega a 95% se forem considerados apenas os de 15 anos. Entre os de 20 e 24 anos, 36,5% n�o s�o registrados.
“Predominam os empregos informais entre os jovens devido tamb�m � dificuldade do primeiro emprego”, comenta a pesquisadora do IBGE Cintia Sim�es Agostinho. Ela destaca, no entanto, que foram entre os de 16 a 24 anos que a formalidade mais aumentou com mais intensidade a partir de 2006, coincidindo com o per�odo de maior crescimento econ�mico do pa�s. A propor��o dos que t�m carteira assinada aumentou de 40,8% para 53,5% entre 2006 e 2011. Em 2001, apenas 39,7% tinham os direitos trabalhistas garantidos.
Adolescentes Apesar de a lei proibir o trabalho de adolescente antes dos 16 anos, a n�o ser como aprendiz com carteira assinada, essa n�o � a realidade brasileira. Um quarto dos que t�m de 15 a 17 anos est� dando duro para ajudar na renda familiar. Em 2010, conforme o �ltimo censo divulgado, havia 1,6 milh�o de crian�as e adolescentes at� 15 anos trabalhando no Brasil. Al�m disso, os dados da Pnad de 2011 revelam que 46% dos trabalhadores do pa�s de qualquer idade ocupados hoje come�aram a trabalhar entre os 10 e 14 anos.
Antonia M�stica de Ara�jo, de 19 anos, e Suellen Cristina dos Santos, 22 anos, s�o colegas de trabalho numa loja de cal�ados de um shopping em Bras�lia e, hoje, t�m a carteira assinada. Mas nem sempre foi assim. A primeira tem o ensino m�dio completo e � caixa do estabelecimento. J� a segunda deixou os estudos quando faltava apenas um ano para completar o n�vel m�dio e � vendedora. Ambas vieram de fam�lias de renda mais baixa e tiveram que come�ar a trabalhar cedo para se sustentarem e ajudarem nas despesas da casa.
Vida dura Filha mais velha de cinco irm�os, Suellen foi criada pelos tios desde os 10 anos. Come�ou a trabalhar aos 17 anos como empregada dom�stica, sem carteira assinada, quando o tio, motorista de �nibus, ficou desempregado. Foi quando desistiu da sala de aula. Dois anos depois, mudou de �rea e virou vendedora. Com o atual ritmo de vida, em que sai de casa �s 8h30 da manh� para o trabalho e s� retorna �s 20h30, Suellen diz estar conformada com seu destino. Pensa em se casar com o namorado, despachante rodovi�rio, com quem est� h� dois anos. “Chego em casa cansada. N�o tenho tempo para pensar em nada”, diz ela, quando questionada sobre retomar os estudos e mudar o rumo da vida.
J� Ant�nia M�stica reconhece que est� perdendo tempo. Aos 15 anos come�ou a trabalhar como vendedora de uma loja de doces, sem registro na carteira e, aos 16, j� tinha terminado o ensino m�dio no Cear� onde morava. No ano seguinte, foi para Bras�lia morar com uma tia em busca de uma vida melhor. Cursar o ensino superior era uma das metas. Por�m, n�o se deu bem no relacionamento na casa dos parentes e resolveu morar junto com o namorado. Antes do emprego de caixa na loja de cal�ados, trabalhou em restaurante e numa entidade sindical. Quer ser delegada de pol�cia.
“Por enquanto, est� complicado", diz ela sobre o custo da mensalidade da faculdade. Seu sal�rio l�quido � em torno de R$ 720. Seus planos � conseguir uma bolsa de estudos que cubra a maior parte da mensalidade. "Com a bolsa, poderia gastar pelo menos uns R$ 300 com o curso”, espera.