
Triste situa��o
Basta uma visita a Urua�u para ver os estragos da corrup��o antes e depois da interdi��o. O cen�rio � desolador. O mato toma conta e as enxurradas das chuvas levaram terra e cascalho, deixando em algumas partes trilhos levitando sobre o leito da ferrovia. H� tamb�m risco ao meio ambiente e � seguran�a urbana gerados pelos canteiros abandonados. A linha nova, com modernos dormentes de concreto, grafados com as marcas Valec e Constran (construtora contratada), e trilhos importados que enferrujam com a falta de atividade, se contrasta com o claro descuido em volta.
Urua�u (GO) – A obra da Ferrovia Norte-Sul (FNS) — a maior da hist�ria do setor no Brasil e essencial para integrar trilhos de todas as regi�es e encurtar o caminho da exporta��o para diversos setores da economia — completou 25 anos em 2012. Marcada pelas falhas na elabora��o e na execu��o do seu projeto e pelos desvios de recursos p�blicos, seus trilhos poderiam estar ajudando a reduzir o chamado custo Brasil, gerando empregos e abrindo frentes de neg�cios.
Mesmo depois de tanto tempo, o seu longo tra�ado original, 1,5 mil quil�metros de A�ail�ndia (MA) � Estrela D’Oeste (SP), a Norte-Sul teima em n�o sair do papel e o adiamento de sua opera��o preocupa empres�rios e especialistas. Edson Tavares, superintendente do porto seco de An�polis (GO), afirma que diversas ind�strias est�o prontas para operar com cont�ineres vindos do litoral. “A chegada dos trens representaria ainda a largada para v�rios investimentos”, completa.
Desde a sua retomada, em 2007, no segundo mandato do presidente Lula, ap�s quase duas d�cadas de total abandono, a Uni�o gastou R$ 6 bilh�es, que foram insuficientes para torn�-la realidade. Embora tecnicamente pr�xima da conclus�o, a ferrovia que incorporou mais dois trechos, se estendendo at� Barcarena (PI) e Panorama (SP), precisa de revis�o em diferentes partes, sobretudo no trecho goiano.
Com demoradas paradas sofridas em virtude de esc�ndalos de corrup��o desde a primeira licita��o, em 1987, no governo Sarney, ou de tr�mites burocr�ticos, a obra sofreu um �ltimo baque em julho de 2011. Foi quando o engenheiro e pol�tico goiano Jos� Francisco das Neves, o Juquinha, ex-presidente da Valec Engenharia, estatal respons�vel pela constru��o da ferrovia, chegou a ser preso pela Pol�cia Federal, na opera��o Trem Pagador. Ele chefiou a empresa desde o come�o da gest�o petista, em 2003, tendo tido salto espetacular no patrim�nio.
Os 680 quil�metros dos cinco lotes oficialmente em constru��o t�m novo prazo para ser entregue at� o fim do pr�ximo ano, quando termina o mandato da presidente Dilma Rousseff. At� o momento, 15% das obras desse percurso est�o prontas. Com or�amento total de US$ 6,7 bilh�es, os trabalhos foram suspensos por causa dos esc�ndalos do ex-presidente da Valec desbaratados pela PF e por relat�rios do Tribunal de Contas da Uni�o de 2010, apontando superfaturamento em diferentes fases.
DESOLA��O Preocupada em entregar a “espinha dorsal do pa�s” ainda em seu governo, Dilma realizou uma faxina na Valec e no Minist�rio dos Transportes e aumentou a press�o pol�tica para acelerar o cronograma, sem mais “surpresas”. Ela visitou o ramal de An�polis e o munic�pio de Goianira em mar�o e avisou que s� voltaria para inaugurar “a chegada do trem”, quando a Norte-Sul estaria operando de fato. Indiretamente, fazia alus�o � repetida inaugura��o de trechos com apenas trilhos colocados, que marcou a gest�o Lula. A presidente deu a entender que n�o mais desfilaria em locomotivas usadas em obras, cercada de pol�ticos e assessores. “Quero ver a estrada funcionando, do Maranh�o at� aqui”, sublinhou.
Apesar da vontade da presidente, n�o h� qualquer movimento da obra desde junho de 2011, pouco antes da pris�o do presidente da Valec, diz um morador local. A cena mais impressionante � a do alojamento de m�quinas da mineira SPA, que estava envolvida na obra com a Constran. Uma fila de tratores, caminh�es e escavadeiras s�o consumidos pelo tempo. A construtora n�o respondeu aos pedidos de entrevista.