
Ainda � cedo para comemorar, mas um dia e meio de chuva fina e a recupera��o de 15 cent�metros na altura da �gua medida ontem no Balne�rio Escarpas do Lago, no munic�pio de Capit�lio, no Lago de Furnas, alimentam a esperan�a de que o reservat�rio da usina voltar a se recuperar ainda em janeiro. Mesmo assim, na avalia��o de quem trabalha com a atividade tur�stica na represa, vai levar cerca de dois anos para que a �gua atinja o seu n�vel m�ximo. Enquanto uma recupera��o m�nima n�o acontece, os preju�zos no turismo v�o sendo contabilizados at� mesmo nos locais mais pr�ximos � usina e ao leito do Rio Grande, onde o volume de �gua � maior.
No restaurante Chico Pintado, em Escarpas do Lago, o movimento caiu cerca de 30% neste in�cio de ano por conta da seca. Francisco de Assis Silva, propriet�rio do estabelecimento, que trabalha no balne�rio h� 32 anos, explica que o motivo da retra��o na demanda � o baixo n�vel de �gua na represa. Com uma baixa de 14,7 metros no reservat�rio, a navega��o ficou mais dif�cil. H� galhos de �rvores que estavam submersas saindo � superf�cie e muitos tocos ao longo do espelho d'�gua, o que torna a navega��o mais perigosa. "O pessoal vem para navegar. A maior parte das pessoas que t�m casa por aqui possui um barco. Por isso houve uma retra��o no movimento", diz ele.
Ele teme, por�m, que o reservat�rio n�o se recupere, mas, com a chuva que come�ou a cair, tem esperan�as de que o lago encha nem que seja o suficente para permitir uma navega��o mais tranquila. "Ainda est� chovendo pouco. Para recuperar o n�vel normal, � preciso chover muito forte, daquelas chuvas com enchentes", acredita. At� a tarde de anteontem, de acordo com ele, o ver�o em Furnas n�o contabilizava sequer um dia chuvoso.
Atracados
A situa��o deixa na berlinda as marinas instaladas na regi�o. Sem navegabilidade segura, os donos dos barcos n�o querem tirar suas embarca��es da garagem, contratos v�o sendo cancelados e a inadimpl�ncia aumenta. O propriet�rio de uma das marinas da regi�o, que n�o quer se identificar por medo de uma debandada ainda maior dos clientes, explica que desde novembro os donos dos barcos se recusam a sair para a represa.
"Registramos queda de 30% em nosso n�mero de clientes desde novembro, fora o crescimento da inadimpl�ncia. Est� dif�cil manter os contratos", admite. Na opini�o dele, se o n�vel da represa n�o se recuperar consideravelmente, poder� haver racionamento de energia el�trica no fim de 2013. "Em 2001, foi a �ltima vez que registramos o lago t�o seco, Com a �gua baixa, ningu�m quer sair de barco", lamenta. As outras marinas da regi�o vivem um drama semelhante. S� nas proximidades de Capit�lio s�o quatro.
"Em algumas pousadas, antes dessa seca a �gua chegava at� a porta. Agora � preciso caminhar um quil�metro at� o lago", afirma Ricardo Rodrigues, diretor social do Balne�rio Escarpas do Lago e propriet�rio do restaurante Maria das Tran�as, em Belo Horizonte. Ele explica que no clube campestre de Escarpas existem duas garagens,uma seca e uma molhada. Com o n�vel da �gua na normalidade, os propriet�rios podiam pegar seus barcos e coloc�-los na �gua percorrendo uma dist�ncia m�nima de 50 metros e m�xima de 200 metros.
"Agora, temos que pegar o barco que est� na garagem seca, reboc�-lo com um trator, atravessar parte do balne�rio com ele, passar pela rua principal, e s� ent�o se tem acesso ao lago", diz Rodrigues. De acordo com ele, o tempo que se levava para p�r uma embarca��o na �gua passou de 10 para 35 minutos, dependendo do tamanho do barco.

Com isso, o custo, somente com essa movimenta��o, subiu cerca de 200%. "Os equipamentos precisam ficar ligados, os colaboradores trabalham por mais tempo, tivemos que tirar um trator de jardinagem e transferi-lo para as opera��es de i�ar e arrear os barcos", justifica. Al�m disso, o fluxo da navega��o reduziu porque est� mais perigoso sair de lancha.
Em Escarpas, existem 396 vagas para embarca��es na garagem seca e 235 na molhada. Normalmente, no dia 31 de dezembro, um propriet�rio de lancha que chegasse ao clube por volta das 17h n�o teria onde estacionar, mas hoje pode escolher o lugar onde vai deixar seu barco. "Nossa expectativa � de que leve dois anos para que o lago volte a ficar totalmente cheio. Depois da seca que come�ou em 1999, o reservat�rio s� se recuoerou em 2002", afirma Rodrigues.
Internet para salvar o neg�cio
Com a �gua longe de ser o principal atrativo em Furnas, a alternativa dos hot�is e pousadas tem sido investir em pacotes promocionais anunciados em sites de compras coletivas, al�m de atividades de lazer em terra e passeios curtos em partes da represa onde ainda h� navegabilidade. Regi�es pr�ximas, como a Serra da Canastra, tamb�m t�m sido utilizadas como destino para os turistas que escolhem os hot�is das regi�es atingidas pela seca. H� quem garanta que a posi��o privilegiada tenha minimizado os impactos trazidos pela baixa na represa, mas a maioria dos propriet�rios e gerentes reclama do preju�zo.
No Balne�rio do Lago, que tem 56 apartamentos, entre su�tes, chal�s e quartos standart, inovar tem sido a sa�da para manter a taxa de ocupa��o, que neste m�s recuou pelo menos 15%. Em um site de compras coletivas, o espa�o oferece tr�s di�rias, que antes custavam R$ 1.131, por R$ 770. O problema, de acordo com o gerente-geral, Mozart Santos, � que, ao chegar ao local e se deparar com uma represa quase vazia, muitos h�spedes ficam frustrados. Para n�o perder clientela, o hotel oferece uma s�rie de compensa��es, descontos e atividades dentro do pr�prio complexo. “Oferecemos um atendimento diferenciado, em alguns casos at� um quarto melhor que o contratado, porque entendemos que o cliente precisa ser conquistado”, comenta.
Em Pimenta, outro complexo hoteleiro tamb�m tenta se recuperar das perdas com promo��o. Em um site de compras coletivas, anuncia tr�s di�rias por R$ 750. Antes, o mesmo pacote valia R$ 1 mil. Segundo a gerente, que preferiu n�o se identificar, a alternativa vem para salvar parte do preju�zo do hotel, que registrou 100% de ocupa��o na mesma �poca do ano passado e hoje tem hoje apenas 40% dos 150 quartos ocupados. “Muitos chegam aqui e desistem. V�o embora. E n�s temos de devolver o dinheiro”, afirma. Os preju�zos, no entanto, devem seguir at� o carnaval, j� que, na opini�o da gerente, a represa n�o dever� se recuperar at� l�. “Em 15 de janeiro do ano passado, t�nhamos fechado todas as reservas de carnaval. Hoje ainda tenho muitas vagas e a represa est� bem abaixo do normal”, conta a gerente. Segundo ela, muitos outros hot�is vivem situa��o semelhante.
Privil�gio da �gua
No Hotel Escarpas do Lago, favorecido pela proximidade da nascente do Rio Grande, que alimenta o lago da Usina de Furnas, a taxa de ocupa��o est� em 100%. Isso porque no local ainda � poss�vel fazer os passeios de barco. “N�o tivemos queda e tudo est� funcionando como nos anos anteriores”, garante o gerente Erick Alves Oliveira. Mesmo assim, o estabelecimento aderiu � venda de pacotes via internet, mas alega t�-lo feito para democratizar o passeio. “Enquanto n�s n�o dividimos o pacote, nos sites de compra coletiva eles dividem em at� 10 vezes sem juros. Hoje, muitos viajam porque h� flexibilidade no pagamento”, comenta o gerente.