
O Brasil come�ou o ano sob o temor de um retorno, 10 anos depois, ao racionamento de energia el�trica. O alerta de especialistas e de entidades do setor partiu da constata��o dos riscos trazidos pela mistura de elevadas temperaturas m�dias, nesse come�o de ver�o, com reservat�rios das hidrel�tricas em n�vel cr�tico, conforme mostram relat�rios oficiais. Para completar o retrato desconfort�vel, desde 18 de outubro, todas as termel�tricas de retaguarda do pa�s foram acionadas, com a perspectiva de assim continuarem at� abril.
Essa necessidade de conter a persistente baixa dos lagos artificiais, verificada at� a primeira semana deste m�s, e de acumular �gua suficiente para tocar o sistema interligado at� 2014, assustou n�o s� os investidores, j� ressentidos por recentes mudan�as nas regras de concess�o de usinas de gera��o e de linhas de transmiss�o. Empres�rios que dependem do n�vel das �guas para manter seus neg�cios tamb�m est�o receosos com baixo volume das represas artificiais, como � o caso de criadores de til�pias em Furnas e Tr�s Marias. A previs�o � redu��o de 3,8 mil toneladas na produ��o do peixe em cativeiro no .A estimativa � que, somente em Furnas, entre 3 mil e 3,5 mil toneladas de pescado deixar�o de chegar ao mercado na Semana Santa. Em Tr�s Marias, os produtores devem contabilizar perdas de cerca de 300 toneladas. Com a redu��o do volume, a temperatura da �gua aumenta e mata os peixes criados em cativeiro, come�ando pelos maiores, que precisam de mais oxig�nio.
As duas represas, juntas, s�o as mais importantes do estado para a cria��o de peixes em cativeiro. O baixo n�vel do lago nos dois reservat�rios impossibilitou muitos produtores de repovoar seus tanques-rede com alevinos, o que deveria ter ocorrido entre setembro e outubro do ano passado.
Em Furnas existem hoje 5 mil gaiolas de peixe que produzem cerca de 6 mil toneladas de til�pia ao ano. Desse total, j� foram perdidas 1 mil toneladas, afirma Francisco de Paula V�tor Alves, coordenador t�cnico da Emater de Alfenas, no Sul de Minas. No munic�pio de Tr�s Marias, somente um produtor perdeu 30 toneladas. "A produ��o para a Semana Santa est� totalmente comprometida", diz o criador Geraldo Magela Ribeiro Leite.
Em Tr�s Marias, o reservat�rio est� em 37% de sua capacidade total. Em dezembro, o n�vel era de 39,2%. S� para efeito de compara��o, no ano 2000, um antes do racionamento de energia no pa�s, a represa estava em 33,78%. M�rcio Gomes, engenheiro florestal e criador de til�pias no munic�pio, diz que restaurantes de Belo Horizonte j� est�o reclamando do atraso nas entregas do pescados, pois ele teve que reduzir a comida para os peixes devido ao n�vel d’�gua e, com isso, est�o engordando menos. "S� n�o perdi parte da minha produ��o porque minha pisicultura est� instalada em �guas profundas, onde h� um alto �ndice de marolas e de oxigena��o na �gua. Se n�o fosse por isso poderia ter perdido entre 30% e 40% da cria��o”, calcula o engenheiro".
Nos locais onde a �gua � mais rasa, como Morada Nova de Minas, Buritis, Felixl�ndia, � medida em que se vai subindo em dire��o � nascente do Rio S�o Francisco, a profundidade do reservat�rio vai ficando mais rasa e a situa��o dos pisciultores piora. Manoel Ribeiro Leite � s�cio do irm�o Geraldo Magela na cria��o de peixes. Ele explica que a temperatura da �gua na represa de Tr�s Marias est� em 31 graus, quando o ideal � que fique entre 25 e 27 graus para n�o prejudicar os peixes.
CAIXA D’�GUA Para piorar a situa��o, segundo especialistas, � necess�rio que chova acima da m�dia em regi�es espec�ficas de Minas, onde est�o localizadas as cabeceiras dos reservat�rios que abastecem as principais hidrel�tricas do pa�s. O estado, que tem em seu territ�rio 8,3% de rios e lagos naturais e artificiais e 17 bacias hidrogr�ficas federais, � considerado caixa d’�gua do pa�s. Chover apenas o esperado n�o ser� suficiente para recuperar os n�veis ideais, mas esse � o cen�rio mais prov�vel.
De acordo com Claudemir de Azevedo, meteorologista do Instituto Nacional de Meteorologia (INMET), at� o fim de fevereiro deve chover dentro da m�dia para a regi�o. “Al�m disso, a partir de mar�o, o volume de chuva historicamente j� come�a a reduzir no estado.” (Colaborou Carolina Lenoir)