
A mecaniza��o no campo est� modificando as rela��es de trabalho no agroneg�cio brasileiro. O trabalhador rural, antes contratado para fazer o plantio e colheita manual de culturas como a cana-de-a��car, caf� e algod�o, agora est� controlando m�quinas. O antigo boia-fria troca tamb�m o campo pelo trabalho na cidade, em setores como a constru��o civil. Para especialistas, o crescimento econ�mico que amplia a produ��o tem compensado os impactos da tecnologia no emprego, em que uma �nica m�quina pode substituir 100 ou mais trabalhadores.
As vendas de m�quinas agr�colas no pa�s s�o um term�metro da transforma��o no campo. O n�mero mais que dobrou nos �ltimos sete anos. Seja no cultivo para exporta��o ou para consumo nacional, as grandes lavouras de gr�os – soja, milho e feij�o – j� s�o 100% mecanizadas. Outras culturas, como a cana-de-a��car e o caf�, avan�am a passos r�pidos em dire��o �s m�quinas, que criam escala e potencializam o lucro. At� mesmo a fruticultura j� experimenta a colheita sem as m�os do homem.
Em 2006, segundo dados da Associa��o Nacional dos Fabricantes de Ve�culos Automotores (Anfavea), foram comercializadas no pa�s 25,6 mil m�quinas agr�colas, incluindo tratores e colheitadeiras. Em 2012, o n�mero j� havia mais que dobrado: foram 69,3 mil m�quinas, alta de 6,2% frente a 2011. Balan�o da Associa��o Brasileira da Ind�stria de M�quinas e Equipamentos (Abimaq) aponta que de janeiro a novembro do ano passado o segmento agr�cola faturou R$ 9,7 bilh�es, crescimento de 6% sobre igual per�odo de 2011.
As usinas de a��car e etanol s�o um dos mais fortes s�mbolos das mudan�as no campo. Em oito anos, o plantio e a colheita, que eram 100% feitos a partir do trabalho dos cortadores de cana, j� est�o 80% mecanizados em Minas. At� 2014, nos locais onde for poss�vel introduzir m�quinas, n�o vai haver trabalho humano. Os semeadores e cortadores de cana que representavam 60% dos empregos gerados no setor, sendo alvo de discuss�es sociais que envolviam o trabalho exaustivo e at� den�ncias de trabalho escravo, hoje est�o reduzidos a cerca de 25%.
M�rio Campos, secret�rio-executivo interino do Sindicato da Ind�stria do A��car e do �lcool em Minas Gerais ( Siamig), observa que a cadeia ampliou o n�mero de empregos gerados em outras coloca��es, o que teria compensado o espa�o ocupado pelas m�quinas. “Hoje muitos cortadores de cana foram treinados e ocupam fun��es que exigem uma maior qualifica��o”, explica. Segundo o executivo, entre 2004 e 2011, com a amplia��o do plantio no estado, o n�mero de empregos diretos saltou de 35 mil para 80 mil.
APAG�O Rosemeire dos Santos, superintendente t�cnica da Confedera��o da Agricultura e Pecu�ria do Brasil (CNA), afirma que o apag�o da m�o de obra que desafia os centros urbanos chegou ao campo, onde, apesar das m�quinas, o trabalhador � disputado. “A mecaniza��o � positiva para o pa�s. Gera escala tanto para a agricultura de commodities quanto para a produ��o familiar.” Alavancando a produtividade, a tecnologia faz a economia girar, esquentando a oferta de empregos. N�meros da Pesquisa Nacional por Amostra de Domic�lios do Instituto Brasileiro de Geografia e Estat�stica (Pnad/IBGE) de 2011, os �ltimos dados dispon�veis, apontam que a taxa de desemprego no campo era de 2,6%, percentual bem menor que o das regi�es metropolitanas (7,4%).

Nesta safra, o agricultor Jonada Ma, um dos propriet�rios da empresa de agroneg�cio MA Shou Tao, vai colher em Uberaba, no Tri�ngulo Mineiro, 150 mil toneladas de cana-de-a��car e 3 mil toneladas de gr�os (soja e milho). A lavoura de gr�os � 100% mecanizada h� mais de tr�s d�cadas, assim como a cana-de-a��car, onde as m�quinas chegaram h� pouco mais de cinco anos. Na colheita da cana, Jonada j� empregou 150 homens, mas explica que hoje esses trabalhadores foram absorvidos em outras fun��es que exigem mais conhecimento e tamb�m pelos centros urbanos. “Muitos deles s�o agora tratoristas. Treinamos tamb�m o pessoal para ser operadores de m�quinas, trabalhando em uma situa��o melhor, inclusive com ar-condicionado.”
O agricultor explica que a tecnologia influencia diretamente no rendimento da lavoura, mas que o Brasil, apesar dos avan�os, ainda tem um bom caminho a percorrer se quiser se tornar mundialmente mais competitivo. “A m�dia de renova��o das m�quinas nos Estadas Unidos � de tr�s anos. No Brasil, ultrapassa nove anos”, diz Jonada Ma.
Em Minas, maior produtor nacional de caf�, aumentar a mecaniza��o � o objetivo dos produtores do estado, que torcem pela evolu��o da ind�stria, com m�quinas capazes de fazer a colheita do gr�o tamb�m em regi�es montanhosas, como o Sul de Minas, onde a m�o de obra chega a responder por mais de 40% do custo da produ��o. Atualmente, mais de 50% do caf� colhido no Cerrado Mineiro � retirado de forma mec�nica, enquanto no Sul do estado esse percentual � em torno de 30%. Segundo a Cooxup�, maior cooperativa de caf� do pa�s, existe potencial para que 70% do caf� dessa regi�o seja colhido com a ajuda de m�quinas. De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estat�stica (IBGE), o Brasil vai colher uma safra recorde de gr�os, leguminosas e oleaginosas, de 162,1 milh�es de toneladas.
PREOCUPA��O Vilson Luiz da Silva, presidente da Federa��o dos Trabalhadores na Agricultura do Estado de Minas Gerais (Fetaemg), observa que o desemprego no meio rural ainda � uma quest�o grave nas regi�es mais pobres do estado, como o Norte e Vale do Jequitinhonha. Segundo ele, a mecaniza��o � bem-vinda quando o trabalhador tem a oportunidade de trocar o trabalho exaustivo por fun��es de melhor qualifica��o, mas diz que para manter esse status o Brasil tem como desafio a manuten��o do crescimento. “Se depois da Copa do Mundo houver uma desacelera��o forte, principalmente da constru��o civil, pode haver muito desemprego nas cidades e no campo. Essa � nossa maior preocupa��o quanto � substitui��o do trabalho humano pelas m�quinas.” (MC)