
Gabriela Toledo, de 25 anos, tem uma despesa mensal de R$ 500 com o seu plano de sa�de familiar. O custo est� no topo de seu or�amento. E quando faz as contas ela fica apreensiva com o futuro. M�e das g�meas Beatriz e Yasmim, de 3, Gabriela considera a sa�de importante, mas diz que o pre�o j� est� se tornando invi�vel. “� um sacrif�cio.” A encruzilhada que a fam�lia da psic�loga enfrenta � a mesma de 10 milh�es de brasileiros com contratos de planos individuais ou familiares, modelo de assist�ncia que apesar de custar cerca de 60% a mais que um plano coletivo est� � beira de uma crise anunciada.
Os conv�nios individuais s�o aqueles contratados diretamente pelo consumidor, sem uma empresa, sindicato ou associa��o como intermedi�rio. Com custos galopantes, eles podem se tornar invi�veis a longo prazo. A modalidade que pesa no bolso do consumidor tamb�m est� longe de ser a preferida das operadoras, que apostam no mercado corporativo. Entre 2002 e 2012, enquanto os planos coletivos cresceram perto de 140%, no mesmo per�odo os individuais apresentaram f�lego bem menor, avan�aram 40%. Algumas operadoras de grande e m�dio porte j� est�o mudando a estrat�gia de neg�cio para a carteira coletiva, abandonando os planos individuais devido ao risco, custo mais alto de manuten��o e reajustes controlados pela Ag�ncia Nacional de Sa�de Suplementar (ANS). Para especialistas, o movimento do mercado, aliado a forte corre��o de pre�os para os contratos individuais, � um choque na pol�tica de reajustes do setor.
Proje��o do Instituo Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec) mostra que ao longo do tempo a fatura do consumidor tende a se tornar insuport�vel para o or�amento. Especialistas chegam a apostar em uma redu��o significativa do mercado nos pr�ximos 10 anos, o que lan�aria esses usu�rios para o sistema p�blico. Profissionais aut�nomos ou empregados de empresas que n�o ofertam o conv�nio m�dico podem ser pressionados pelos custos e migrar para a rede de sa�de p�blica. Segundo o estudo do Idec, mantendo o formato de reajuste do segmento, acima da infla��o do pa�s e tamb�m por faixa et�ria, em 30 anos a mensalidade do plano individual pode se tornar um peso que n�o d� para ser arcado por todos. Ou seja, o mesmo plano que consome hoje 7% da renda do usu�rio ampliaria sua participa��o para 73,21%.
FALTA EQUIL�BRIO Para Ione Amorim, economista do Idec, h� um conflito no formato de reajuste do setor que se n�o for solucionado deixar� o consumidor individual sem a assist�ncia. “Existe uma prefer�ncia das operadoras pelo contrato coletivo, no qual h� maior dilui��o do risco e reajustes n�o controlados. A situa��o do plano individual n�o � nada boa. Embora seja uma f�rmula complexa, � preciso encontrar alternativa para a corre��o dos pre�os, atendendo o consumidor, as empresas e os servi�os m�dicos”, alerta a economista. Segundo ela, al�m do reajuste anual, existe a mudan�a de faixa et�ria, que entre a primeira e a �ltima pode acumular varia��o de at� 500% no custo do plano.
Na cooperativa Unimed-BH os planos coletivos representam 79% da carteira. Em 2012, os individuais avan�aram 9,5%, enquanto os corporativos cresceram 14%. “Os contratos individuais, embora estejam crescendo na Unimed-BH, s�o, de fato, substancialmente mais caros que os planos coletivos”, diz Helton de Freitas, presidente da cooperativa. Ele defende uma regula��o que precifique o produto conforme o seu custo efetivo. Segundo o executivo, um dos efeitos negativos da atual regra dos planos familiares � afastar da carteira jovens entre 15 e 30 anos. “Esse � um panorama geral do setor, o que � ruim para os usu�rios e para as operadoras.”
Nada otimista, Ant�nio Penteado, advogado e especialista em planos de sa�de, diz que, se as regras atuais do mercado n�o forem altera��es, em 10 anos o segmento vai diminuir de forma dr�stica. Para ele, o crescimento dos planos individuais atingiu o teto. “As boas operadoras n�o v�o oferecer produto.” Contrariando o que pregam �rg�os de defesa do consumidor, ele diz que, para esse tipo de plano sobreviver, a lei deve ser flexibilizada com a oferta de contratos com coberturas espec�ficas e n�o universais, o que pode reduzir o custo.
Daniela Toledo avalia que o conv�nio tem lhe atendido, mas diz que j� est� no limite do or�amento. Ela lembra que, al�m das despesas com a mensalidade, h� os custos adicionais. “Como os m�dicos n�o recebem suficientemente da operadora, negociam com o paciente para pagar uma parte da consulta”, critica a usu�ria, que recentemente fez uma cirurgia, enfrentando a situa��o. “Al�m do mais, existem os custos do Sistema �nico de Sa�de (SUS): n�o uso, mas pago pelo servi�o.”

Na l�gica dos planos de sa�de, quanto maior for a carteira, mais os riscos ser�o dilu�dos. Al�m disso, quando ocorre um evento que desequilibra o caixa, os planos coletivos podem reajustar valores para o retorno da sustentabilidade financeira, o que n�o ocorre no caso dos produtos individuais.
O presidente da Associa��o Brasileira de Medicina de Grupo (Abramge), Arlindo de Almeida, aponta que as operadoras ligadas � medicina de grupo continuam a trabalhar com os planos individuais. Mas ele afirma que a carteira tem problemas, que come�am pelo custo de administra��o. “� o dobro, se comparado a um plano coletivo.” Segundo ele, a ag�ncia reguladora j� est� permitindo reajustes diferenciados para grupos com menos de 30 pessoas.
Jos� Cechin, presidente da Federa��o Nacional de Sa�de Suplementar (Fenasa�de), diz que os planos individuais continuam a crescer. Nas operadoras ligadas � federa��o, os contratos coletivos representam 87% da carteira. Ele acredita que o futuro dos planos individuais est� ligado ao crescimento da economia, � expans�o do mercado de trabalho, da renda e da capacidade de pagamento do consumidor para contratar o produto.
A dona de casa e aut�noma no setor de vendas Caroline Venuto, de 45 anos, paga R$ 600 pelo conv�nio familiar, que cobre tamb�m seu filho de 9 anos. “Fora uma cirurgia que j� fiz, uso pouqu�ssimo o plano, que para mim j� est� invi�vel. � uma despesa muito alta”, afirmou. Caroline diz que, se os reajustes forem expressivos nos pr�ximos anos, pode ter que pensar em outra solu��o para a sa�de da fam�lia. (MC)