
Com o aumento autorizado pelo governo para os combust�veis, o pre�o da gasolina em Belo Horizonte ultrapassou a R$ 3 o litro pela primeira vez em dois anos. Na Avenida Prudente de Morais, no Bairro Cidade Jardim, o Posto CJ reajustou o valor do combust�vel em 8%, passando de R$ 2,859 o litro para R$ 3,089. O diesel teve aumento de 5,9%, passando de R$ 2,369 para R$ 2,509. A gerente do Posto CJ, K�tia Elis�ngela Ferreira, n�o soube explicar a raz�o do reajuste acima dos 6,6% aplicado nas refinarias da Petrobras. “N�o sou eu que defino o pre�o”, resumiu. A estimativa do governo era de que o reajuste do consumidor ficasse em cerca de 4%. Na mesma avenida, o Posto Vip reajustou o valor para R$ 3,079, com alta de 3,35%. No interior do estado a gasolina tamb�m � vendida a mais de R$ 3 o litro.
Ao mesmo tempo que a gasolina sobe acima do autorizado pelo governo para as refinarias em alguns postos, em outros o pre�o do litro do combust�vel foi mantido. No Posto Tupis, no Centro, o valor do litro n�o foi alterado e se manteve em R$ 2,629. O posto n�o aceita cart�o de cr�dito e cheque, s� dinheiro. “Espero manter o pre�o at� depois do carnaval. S� vendemos em dinheiro, temos que ser mais competitivos. Eu ainda tinha estoque antigo da gasolina, dessa forma consegui n�o reajustar”, afirma o gerente Jos� Romeu Soares. J� o litro do diesel, que ontem era vendido no posto a R$ 2,15, deve passar para R$ 2,19 a R$ 2,20 hoje.
No Posto Ponte Nova, na Avenida Nossa Senhora do Carmo, no Bairro S�o Pedro, o litro da gasolina e o do diesel tamb�m n�o foram reajustados. A gasolina est� custando R$ 2,848 o litro e o diesel R$ 2,298. “Eu n�o reajustei porque n�o recebi produto e nem nota com pre�o novo”, explica o gerente do posto, Wellington Nepomuceno Silva.
Apesar de o ministro da Fazenda, Guido Mantega, ter frisado que o reajuste da gasolina foi uma “pequena corre��o” e n�o vai atrapalhar ningu�m, entre os consumidores o reajuste j� pesa no bolso. “Eu abaste�o todos os dias. Antes gastava uns R$ 30 por dia. Hoje gasto de R$ 35 a R$ 40”, afirma Ant�nio Dias, motorista de t�xi. Alan Rezende trabalha com torre de celular e estava no interior quando soube do reajuste da gasolina. Ele colocou ontem 40 litros no seu tanque e pagou R$ 120. “Na �ltima vez tinha pagado cerca de R$ 112 pelos 40 litros. Caiu o pre�o da luz, mas subiu o do combust�vel”, diz.
Alta no interior
O aumento dos combust�veis pesou mais ainda para quem mora no interior, onde os pre�os dos derivados de petr�leo s�o mais elevados do que os praticados na capital. Em Montes Claros, o pre�o da gasolina na bomba em um posto da �rea da central da cidade chegou a at� R$ 3,14, com reajuste de 6,5%. O aumento foi recebido com protestos por parte dos consumidores, que fazem uma compara��o entre a redu��o na conta de luz e o reajuste dos combust�veis.
“O governo quer que a gente ligue a luz e desligue os carros”, lamentou o comerciante Gilberto Martins de Freitas, que ficou assustado ao parar no posto para abastecer e constatar que o pre�o na bomba, que at� anteontem era R$ 2,95, passou para R$ 3,14. “Estou muito surpreso com esse aumento. � uma coisa que ningu�m esperava”, disse Gilberto, que acabou comprando apenas R$ 20 (6,36 litros) de gasolina. “Infelizmente, a presidente (Dilma Rousseff) d� com uma m�o e retira com a outra”, comentou o comerciante, ainda fazendo refer�ncia � redu��o da tarifa da conta de luz e o aumento da gasolina.
O advogado Mac�rio Santana tamb�m reclamou. “O governo prometeu que o reajuste na bomba seria de 4%. Mas, estamos verificando que o aumento para o consumidor est� sendo maior do que o anunciado”, afirmou Mac�rio, lembrando que, como consequ�ncia do reajuste, o pre�o da passagem no transporte coletivo tamb�m dever� aumentar no munic�pio do Norte de Minas.
Repasse integral Em Divin�polis, no Centro-Oeste de Minas, o aumento no pre�o da gasolina e do diesel anunciado pela Petrobras foi repassado integralmente para o consumidor. O litro do derivado do petr�leo passou a custar, em m�dia, R$ 2,999: exatamente 6,6% mais caro do que no in�cio da semana. J� o diesel varia de R$ 2,33 a R$ 2,36 o litro, dependendo do posto. As mudan�as nos valores come�aram logo ap�s o an�ncio do reajuste nas refinarias e praticamente todos os postos da cidade j� aderiram ao aumento.
Cerca de 4 mil ve�culos passam por dia no Posto Nicodemos, no Centro-Industrial. De acordo com o propriet�rio, Ant�nio Nicodemos J�nior, o aumento da gasolina n�o � interessante nem para os empres�rios nem para os motoristas. “Muitos motoristas t�m reclamado e n�o tiro a raz�o deles. N�o tivemos como manter o pre�o”, diz.
Alternativas s�o desafio
Sem um marco regulat�rio que definir� o peso dos biocombust�veis na matriz energ�tica, o etanol e o biodiesel enfrentam desafios para abastecer o pa�s e avan�ar na produ��o. No caso do biodiesel, o setor parou de crescer em 2010, quando atingiu o percentual de 5% na mistura do diesel. Agora caminha como caranguejo aguardando pela eleva��o do percentual da mistura, o que estimularia o setor a crescer.
O etanol, que no �ltimo ano perdeu competitividade nas bombas em rela��o � gasolina, t�m o desafio de retomar os investimentos para abastecer a frota flex, que incorpora ao ano mais de tr�s milh�es de ve�culos. A produ��o da �ltima safra deve fechar perto de 23 bilh�es de litros, volume que dever� ser incrementado para cerca de 27 bilh�es de litros, a fim de responder a demanda em um cen�rio de competi��o com a gasolina.
O crescimento do percentual de 20% para 25% do �lcool anidro adicionado � gasolina, a partir de primeiro de mar�o, a eleva��o do pre�o do derivado do petr�leo, junto com a perspectiva de redu��o da carga tribut�ria do PIS e Cofins, ascendem novamente a discuss�o sobre o uso dos combust�veis renov�veis. Para Adriano Pires, diretor do Centro Brasileiro de Infra Estrutura (CBIE), com as medidas 2013 ser� melhor para o etanol. “No entanto, o cen�rio de inseguran�a permanece. A aus�ncia de um marco regulat�rio inibe investimentos a longo prazo. O percentual da mistura pode novamente ser alterado no futuro”, critica o especialista.
M�rio Campos, secret�rio-executivo interino do Sindicato da Ind�stria da Fabrica��o do A��car e do �lcool de Minas Gerais (Siamig), diz que para cumprir as metas para que o etanol “conviva” com a gasolina, sendo op��o ao consumidor, � preciso pol�tica p�blica e o que ele chama de dever de casa. “A parte do governo � desenvolver um planejamento estrat�gico.” Segundo ele, a pol�tica incluiria a revis�o de subs�dio do pre�o da gasolina, da carga tribut�ria para os biocombust�veis al�m da defini��o de uma matriz energ�tica para o pa�s. Segundo Campos, do R$ 2,09 (pre�o m�dio do litro do etanol em Belo Horizonte), R$ 0,12 corresponde a carga tribut�ria.
J� no que diz respeito ao dever de casa, ele defende que a mecaniza��o dos canaviais est� avan�ada, assim como a renova��o da lavoura implementada pelas usinas. Na Europa a demanda pelos biocombust�veis caminha a passos largos e o consumo europeu que saiu da estaca zero em 2000 j� se iguala ao consumo brasileiro.