O governo bem que tentou, mas n�o conseguiu reduzir o susto da infla��o em janeiro. Ela ficou em 0,86%, a maior eleva��o desde abril de 2005 e a maior para o m�s desde 2003, o �ndice Nacional de Pre�os ao Consumidor Amplo (IPCA). Ele � medido pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estat�stica (IBGE) e refere-se aos custos para fam�lias com renda entre 1 e 40 sal�rios m�nimos. Em janeiro de 2012, o �ndice foi de 0,56%. Em Belo Horizonte a taxa subiu de 0,52% em dezembro para 0,73% em janeiro, a oitava maior eleva��o mensal entre as capitais analisadas, juntamente com o Rio de Janeiro. A infla��o na capital mineira superou a do Distrito Federal (0,46%) e a de Curitiba (0,68%). Com alta de 1,06%, Bel�m teve a maior infla��o entre as capitais no m�s passado.
Em 12 meses, o IPCA acumula alta de 6,15% e fica perto do teto da meta de infla��o, de 4,5%, com margem de dois pontos para menos (2,5%) ou dois pontos acima (6,5%). Se n�o fosse a redu��o das tarifas de energia el�trica em 18% para as resid�ncias, o IPCA teria atingido 0,99%. Os esfor�os da equipe econ�mica inclu�ram tamb�m o pedido a governos estatuais prefeituras de capitais para adiar reajustes de passagens de �nibus urbanos e dos metr�s, que est�o represados e dever�o impactar os �ndices at� o meio do ano. O IPCA superou, embora por uma margem pequena, a previs�o de 0,83% do mercado. Com isso, o Brasil vai para sexto lugar na Am�rica Latina no ranking dos aumentos de pre�os. Em 2006, est�vamos na 15ª posi��o.
Para as fam�lias mais pobres, a carestia foi ainda maior no m�s passado. O �ndice Nacional de Pre�os ao Consumidor (INPC), que refere-se �s fam�lias com renda entre 1 e 5 sal�rios m�nimos, ficou em 0,92% no m�s e em 6,63% em 12 meses. Em janeiro de 2012, o �ndice foi de 0,51%
A grande press�o nos pre�os se concentrou nos supermercados, mais especificamente nas g�ndolas de gr�os, frutas e horali�as. “Os aumentos de pre�os de alimentos foram bem generalizados, poucos tiveram queda”, afirmou a economista Aulina Nunes, coordenadora dos �ndices de pre�os do IBGE. Ela explica que em alguns casos, a influ�ncia do clima � clara.
Escalada na mesa
Por conta de chuvas, que prejudicaram colheitas, a batata-inglesa acumula alta de 67,44% em 12 meses, a cebola 55,93% e o tomate 30,87%. N�o foram os campe�es de remarca��es, por�m: a mandioca ficou 111,85% mais cara entre janeiro de 2012 e o m�s passado. Em Belo Horizonte, apenas em janeiro, o tomate ficou 35,84% mais caro, seguido pela melancia (20,18%), repolho (16,40%), cenoura (16,24%), batata-inglesa (13,44%) e cebola (10,85%). Os alimentos t�m um peso maior no or�amento das fam�lias de baixa renda do que no das mais ricas. Por isso o INPC subiu mais do que o IPCA.
Na capital mineira, os grupos com maior varia��o nos �ltimos 12 meses foram alimenta��o e bebidas (10,07%) e despesas pessoais (12,64%). No �ltimo m�s, os resultados n�o foram diferentes, com o destaque para os mesmos grupos. Alimenta��o registrou aumento de 1,68% , sendo 6,11% no acumulado dos �ltimos 12 meses. J� as despesas pessoais tiveram aumento de 1,51% no m�s e de 12,64% no acumulado de 12 meses. Nesse grupo, o maior impacto no m�s foi do cigarro, que teve aumento do IPI e subiu 14,15%. Os servi�os de cabelereiro e manicure aumentaram 2,42% e 1,55%, respectivamente. J� os servi�os dom�sticos, apresentaram varia��o de -1,18%. No grupo artigos de resid�ncia, a capital mineira registrou aumento de 2,35% no item utens�lios e enfeites, 1,54% nos artigos de cama, mesa e banho e de 1,17% nos eletrodom�sticos e de 0,72% no item TV, som e inform�tica.
Dispers�o preocupa
No caso da alta dos alimentos, a explica��o clim�tica est� longe de acalmar os analistas do mercado. Embora os itens aliment�cios tenham sido recordistas, e serem respons�veis por metade do IPCA de janeiro, os aumentos de pre�os n�o se limitaram a eles. O �ndice de dissemina��o foi de 75%, o que significa que tr�s quartos de todos os itens coletados tiveram alta. Trata-se da maior propor��o desde 2003. “� um cen�rio preocupante, que inspira cuidados e certamente incomoda o governo”, avaliou S�lvio Campos Neto, da Consultoria Tend�ncias.
O governo estuda medidas como a desonera��o de itens da cesta b�sica, que poder�o reduzir os pre�os nas g�ndolas nos pr�ximos meses. Campos Neto alerta para o fato de que o governo tem “uma margem cada vez menor para conter a infla��o”. A Tend�ncias projeta um IPCA acumulado de 6,15% no ano, abaixo, portanto, do teto da meta perseguida pelo Banco Central (BC), que � de 6,5%, dois pontos percentuais acima do centro do alvo.
O economista n�o descarta, por�m, a possibilidade de que a autoridade monet�ria venha a elevar a Selic, taxa de b�sica de juros. “Certamente v�o evitar isso ao m�ximo, � a �ltima alternativa. Mas, apesar de todas as restri��es que o governo tem a isso, n�o vai abrir m�o caso n�o haja al�vio nos pre�os. O estouro do teto da meta teria um efeito simb�lico muito grave, passando impress�o de descontrole e de corros�o do poder de compra”.
Aumento por in�rcia
Ex-diretor do Banco Central, o economista Carlos Eduardo de Freitas acredita que “a tend�ncia da infla��o � de alta” e atribui a eleva��o cont�nua dos �ndices ao expansionismo das pol�ticas monet�ria, com cortes seguidos de juros, e fiscal, com queda no super�vit prim�rio. “A infla��o est� subindo por in�rcia”, alertou. “J� vivi situa��es assim no governo e sei que s�o complexas”, relatou, referindo-se � epoca em que foi secret�rio de Pol�tica Econ�mica do Minist�rio da Fazenda no governo Itamar Franco.
Em situa��es de in�rcia, os comerciantes repassam aumentos n�o porque tiveram que pagar mais pelos produtos, mas porque j� contam com uma tabela nova para renovar seus estoques. Isso explica por que os eletrodom�sticos ficaram 1,59% mais caros, em m�dia, no m�s passado, e os eletr�nicos subiram 1,33%, embora ainda fossem beneficiados por descontos do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI). As al�quotas come�aram a subir no in�cio deste m�s, mas em janeiro muitos consumidores j� sentiram aumentos no bolso.
Para quem quer renovar a casa, conseguir pre�os mais baixos agora depende da capacidade de negocia��o do pr�prio cliente, segundo o vigilante, Jo�o Gleyson do Esp�rito Santo. “Vou comprar uma m�quina de lavar mais barata porque vou negociar, al�m de dividir no cart�o da loja”, comenta. “Mas para conseguir um pre�o bom tem que pesquisar muito, eu estou fazendo isso h� um m�s. “Enquanto uma m�quina de lavar custa R$ 1,3 mil em uma loja, vale R$ 1,1 mil em outra”, acrescenta.
Mudan�a de h�bito
J� o tomate, mais uma vez, se destacou como o vil�o na mesa do consumidor dentro do grupo dos alimentos, com alta de 26,15% em janeiro. Mesmo atenta aos pre�os, a aposentada Alba Leite conta que teve de comprar dois tomates a R$ 2, para o almo�o de ontem. “Um tomate por R$ 1 � muito caro, com o tomate custando mais nos supermercados o jeito tem sido pesquisar toda semana”, diz.
Outra alternativa encontrada pela aposentada tem sido reduzir o volume das compras dos itens com grandes varia��es de pre�o. “Como n�o uso produtos industrializados como massa ou extrato de tomate, acabo comprando uma quantidade menor que a de costume”, afirma.