Nem min�rio, nem a�o ou caf�. A despeito dos setores mais tradicionais da economia de Minas Gerais, a expans�o do ensino superior nas regi�es industrializadas do estado � que irradia uma nova era de crescimento do com�rcio e das empresas prestadoras de servi�os, gerando renda para o consumo e ambiente para a atra��o de investimentos da pr�pria ind�stria. Em uma revolu��o nada silenciosa, Minas passa por um forte ciclo de avan�o das institui��es p�blicas e privadas de educa��o superior. No interior, o n�mero dessas institui��es mais que dobrou em 10 anos, alcan�ando a marca de 302 escolas em 2011. Eram 132 institui��es em 2001, segundo o Censo da Educa��o Superior, publicado pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais An�sio Teixeira (Inep). A chegada ou amplia��o das escolas transformou em cidades universit�rias munic�pios essencialmente mineradores e exportadoras como Paracatu, no Noroeste, Ouro Preto, Mariana, Ouro Branco, Conselheiro Lafaiete e Congonhas, na Regi�o Central, todas elas conhecidas pela riqueza do subsolo e a produ��o industrial.
A educa��o induz � diversifica��o da fonte de sustenta��o da economia local com o surgimento de uma cadeia de empreendimentos. N�o � diferente em Betim, na Grande BH, segundo maior munic�pio de Minas em participa��o na economia estadual, medida pelo Produto Interno Bruto (PIB), ou em Montes Claros, polo do Norte mineiro. O curso superior torna poss�vel o sonho de jovens, que para ter o diploma precisavam primeiro bancar as despesas de sair de casa.
Os investimentos em educa��o t�m um grande poder multiplicador sobre a renda e o consumo e essa influ�ncia tende a se fortalecer num per�odo de expans�o do PIB como se espera para este ano, segundo o pesquisador Jorge Abrah�o, do Instituto de Pesquisa Econ�mica Aplicada (Ipea). A educa��o recebe o equivalente a 5% do PIB e responde com um impacto substancial na economia. A cada R$ 1 gasto pelo governo em educa��o p�blica, a influ�ncia � de R$ 1,67 em aumento de renda das fam�lias e de R$ 1,85 na expans�o do PIB, conforme o levantamento mais recente sobre o tema, o estudo Gastos com a pol�tica social: alavanca para o crescimento com distribui��o de renda, coordenado por Abrah�o em 2011.
Os efeitos da educa��o, e principalmente do ensino superior que se interiorizou nos �ltimos cinco anos, s�o m�ltiplos. V�o da inje��o de sal�rios de professores e servidores no com�rcio local � massa de consumo dos alunos em diversos atividades, como supermercados, aluguel, compra e venda de im�veis, � aquisi��o de materiais, equipamentos e a demanda de servi�os de limpeza e seguran�a nas escolas. “De todos os investimentos sociais aquele feito na educa��o � o que mais faz o pa�s crescer, agregando um consumo bastante razo�vel que d� dinamismo econ�mico aos munic�pios”, afirma Abrah�o.
NOVAS ESTRELAS Boa parte da expans�o do ensino superior, lembra o pesquisador do Ipea, reflete o impulso dado pelo Programas Reuni (de Apoio ao Plano de Reestrutura��o e Expans�o das Universidades Federais) e pela reformula��o do Fies (de Financiamento Estudantil). Contribuiu, ainda, a ascens�o recente das classes de menor poder aquisitivo. A hist�ria da fam�lia de Maria Diniz Couto, de 72 anos, dona de uma sabedoria que n�o veio da universidade, � exemplo dessa expans�o do ensino superior. A fam�lia, segunda ela, prosperou com a chegada da Pontif�cia Universidade Cat�lica (PUC) a Betim.
Os quatro filhos de Maria Diniz trabalham em neg�cios familiares, que surgiram a partir da demanda da comunidade universit�ria: um pr�dio de quitinetes, restaurante, sacol�o e lanchonete. “Para quem tem coragem, n�o falta trabalho e nem amizades de boa qualidade ”, afirma Maria. O filho mais velho, Marcelo, emprega os quatro filhos nos empreendimentos da fam�lia. Davi, o mais jovem, aos 19 anos, foi o primeiro a ingressar na faculdade e em poucos anos deve trocar o sacol�o pela fun��o de engenheiro de produ��o.
Em Paracatu, produtora de ouro industrial, pedagogia e hist�ria eram as op��es de forma��o superior em 1987. Agora, s�o 40 cursos na cidade. O munic�pio que tinha como estrelas da economia o agroneg�cio e minera��o, viu o com�rcio e o setor de servi�os ganharem for�a impulsionados pelo consumo de cerca de 6 mil estudantes, dos quais 35% s�o de outras cidades. “De 2006 para c�, Paracatu cresceu aproximadamente 40%. Hoje � uma cidade universit�ria”, diz o secret�rio de Administra��o, Benedito Batista. “Em 1997, a arrecada��o era de R$ 24 milh�es, hoje s�o R$ 208 milh�es.” Na esteira da expans�o da educa��o superior, a cidade atraiu redes de fast food, de supermercados, expandiu os servi�os de hotelaria e turismo. O setor imobili�rio explodiu. “Resultado do r�pido crescimento, temos valores de alugu�is que se equiparam a Belo Horizonte, como R$ 4 mil por uma casa de tr�s quartos”, observou Batista.
DEVER DE CASA
Pedro Henrique Rodrigues completou 19 anos e tamb�m a primeira semana de aulas no curso de engenharia el�trica. Ele passou no vestibular para estudar no per�odo da noite, no Centro de Educa��o Superior de Conselheiro Lafaiete, na Regi�o Central do estado. Chegar ao curso superior n�o � tarefa f�cil quando � preciso aliar a rotina de conhecimento e trabalho. Pedro j� � um eletricista t�cnico e trabalha na cidade de Jeceaba, munic�pio vizinho ao seu, na empresa Vallourec & Sumitomo Tubos do Brasil (VSB). Feliz com a perspectiva de se tornar um engenheiro, ele est� confiante de que o curso vai fazer diferen�a em sua vida: “O curso superior melhora a condi��o social, cultura e financeira”. At� chegar � formatura, Pedro vai seguir logo depois da aula para o trabalho, onde assume o turno da madrugada. O emprego lhe garante custear a mensalidade de R$ 712,41. Para ele, ter a faculdade perto de casa foi decisivo na sua escolha. “Estudando na minha cidade, consigo conciliar a faculdade, o trabalho e o conv�vio com a fam�lia. O ensino superior no interior permite o acesso � faculdade. Seria muito dif�cil ir at� outro cidade para estudar.”