H� cerca de dois anos em busca de um s�cio estrat�gico, a Itamb�, um dos maiores latic�nios do pa�s, controlado pela Cooperativa Central de Produtores Rurais de Minas Gerais (CCPR), teve metade de suas a��es vendidas, ontem, � Vigor Alimentos, do grupo JBS, maior frigor�fico do mundo. A companhia mineira receber� um aporte de R$ 410 milh�es, que, segundo comunicado distribu�do pela Vigor e a CCPR, permitir� manter e ampliar o relacionamento com 8 mil produtores rurais, respons�veis pela entrega di�ria de 3 milh�es de litros de leite �s unidades da companhia, a Itamb� Alimentos S. A.
Os presidentes da Itamb�, Jacques Gontijo, e da Vigor, Gilberto Meirelles Xand�, estar�o reunidos hoje na sede do latic�nio, em Belo Horizonte, onde v�o falar sobre os desdobramentos do neg�cio anunciado no come�o da noite, depois do fechamento do mercado de a��es. Pelo acordo, um novo presidente ser� nomeado para conduzir a empresa numa fase que ter� como desafio ampliar a participa��o das marcas sob o guarda-chuva da Itamb�, segundo o comunicado � imprensa. A conclus�o da opera��o depende de aprova��o do Conselho Administrativo de Defesa Econ�mica (Cade).
O suporte do grupo JBS permitiu que a Vigor, classificada na 10ª posi��o entre os maiores latic�nios no Brasil, comprasse a terceira empresa do setor no pa�s, de acordo com o ranking de 2011 da Leite Brasil e da Confedera��o da Agricultura e Pecu�ria do Brasil (CNA). Com um faturamento de R$ 2 bilh�es, a Itamb� mant�m 3,3 mil empregados em quatro f�bricas mineiras – Sete Lagoas, Guanh�es, Par� de Minas e Uberl�ndia –, e uma em Goi�s, al�m de 10 centros de distribui��o. A Vigor, por sua vez, processou em 2011 242,3 milh�es de litros de leite, recebidos de 1,3 mil produtores. Ela foi incorporada como parte da aquisi��o do Bertin em 2009, ent�o maior concorrente do JBS.
“A relev�ncia da marca Itamb� nos principais centros de consumo do Brasil, aliada � excelente qualidade da bacia leiteira na qual a CCPR est� inserida, nos enche de orgulho e nos d� certeza de que faremos parte de um novo momento de crescimento da companhia”, disse em nota o presidente da Vigor, Gilberto Xand�. Jacques Gontijo afirmou, tamb�m por meio do comunicado, que a sociedade “ajudar� no desenvolvimento de novos produtos, adequados �s prefer�ncias do consumidor brasileiro e com a qualidade pela qual somos reconhecidos”.
O aporte financeiro servir�, ainda de acordo com o comunicado, para fortalecer a estrutura de capital da Itamb�, que ganha em outros campos destacados com o ingresso da Vigor: “Processos operacionais e administrativos independentes, gest�o totalmente profissionalizada e acionistas experientes em toda a cadeia de produ��o de l�cteos”. A associa��o representaria a retomada dos investimentos na ind�stria l�ctea de Minas, maior produtor de leite do pa�s.
A CCPR havia anunciado no come�o de 2011 a procura de um s�cio no setor ou de um investidor estrat�gico. � �poca, circulavam informa��es de que o acionista levaria 20% a 30% do latic�nio. Desde ent�o, boatos davam conta de que a companhia faria uma tentativa de abrir seu capital (com o lan�amento de uma oferta p�blica inicial de a��es, o IPO, na sigla em ingl�s). No neg�cio com a Vigor, a empresa contou com assessoria do Bradesco BBI e do escrit�rio Souza, Cescon, Barrieu & Flesch Advogados.
Expectativas no campo
O desfecho da procura de um acionista com capital suficiente para sustentar a expans�o da empresa mineira aumenta as expectativas dos produtores pelo fortalecimento da marca. “Nessa linha, somos favor�veis ao neg�cio, como representantes dos produtores, se essa associa��o representar, de fato, mais valor para os produtos da Itamb� e prover a tecnologia que o capital proporciona”, afirmou o presidente da Federa��o da Agricultura e Pecu�ria do Estado de Minas Gerais (Faemg), Roberto Sim�es.
Segundo ele, al�m da tradi��o do nome do latic�nio, criado em Minas 69 anos atr�s, a Itamb� � a �nica de uma era de centrais de cooperativas de produtores – envolvendo fazendeiros de S�o Paulo, Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul – que sobreviveu ao cen�rio adverso de falta de recursos financeiros para se profissionalizar e alcan�ar os n�veis de moderniza��o exigidos pelo mercado. “O agroneg�cio exige muito capital para movimentar a ind�stria e por isso precisa se fortalecer”, afirma o presidente da Faemg.
An�lise da not�cia
Tradi��o abre boa perspectiva
Marc�lio de Moraes
A compra de 50% da Itamb� pela Vigor promete dar novo impulso � cooperativa que � hoje uma das maiores ind�strias de latic�nios do pa�s. Em busca de um s�cio para se capitalizar h� alguns anos, a Itamb� ganha o f�lego de que precisa para continuar crescendo, enquanto a Vigor ter� acesso ao mercado mineiro, um dos maiores do pa�s. Ganham a empresa do grupo JBS e a CCPR. Esse ganho deve ocorrer respeitando a qualidade dos produtos e a tradicional voca��o mineira para a produ��o de leite e derivados, cantada em verso e prosa. Preservar uma tradi��o e valorizar os produtores de leite mineiros � a perspectiva que se abre a partir de agora. A associa��o tem tudo para ser mais do que uma simples compra de um concorrente.
Mem�ria
Ra�zes na bacia leiteira de Minas
As origens da Itamb� s�o anteriores aos tempos em que o leite e o iogurte eram entregues em garrafas de vidro num estado que j� mostrava a for�a das suas bacias leiteiras. A ent�o Usina Central de Leite nasceu em 1944, ligada � Secretaria de Agricultura de Minas, para em menos de cinco anos se transformar na Cooperativa Central dos Produtores Rurais de Leite (CCPL), mais tarde entregue aos produtores em regime de arrendamento. Nos anos 50, a primeira transforma��o foi feita com o surgimento da CCPR e a inaugura��o da f�brica de Sete Lagoas, para produ��o de leite em p�, manteiga, queijos e doce de leite. A necessidade de crescimento do neg�cio levou � abertura de filiais em Bras�lia, Rio de Janeiro e S�o Paulo na d�cada de 60, que daria o tom de uma Itamb� capaz de adquirir, nos anos 70, uma f�brica na capital federal. Em 2000 come�aram os projetos de amplia��o das f�bricas mineiras, para produzir creme de leite em lata e UHT. A empresa passou a participar da Serlac, empresa de neg�cios de exporta��o, e lan�ou a linha light.