
A incapacidade da Refinaria Gabriel Passos (Regap) de ampliar o volume de petr�leo processado no mesmo ritmo em que cresce o consumo tem obrigado as distribuidoras a aumentar a busca de gasolina em bases de outros estados, o que, segundo especialista, onera o custo do combust�vel para as revendas. No comparativo entre 2008 e 2012, o percentual de gasolina origin�ria de outros estados e vendida nos postos mineiros quase dobrou, segundo levantamento feito pelo Estado de Minas. No ano passado, quase metade da gasolina vendida em Minas era processada em refinarias al�m das divisas mineiras.
O levantamento mostra que, a partir de 2008, ano a ano vem aumentando a quantidade de gasolina proveniente de outros estados a ser consumida nos postos mineiros. H� cinco anos, menos de um quarto do volume total vinha de fora de Minas. Nesse caso, a procura era principalmente de regi�es que fazem divisa com outros estados, por causa das bases que s�o abastecidas com derivados de petr�leo de refinarias como a de Paul�nia (SP) e a de Duque de Caxias (RJ). Al�m disso, quando feito o transporte por caminh�o-tanque, em vez de se deslocar at� Betim, onde est� a Regap, as distribuidoras preferiam ir at� as vizinhas para suprir essa necessidade. O benef�cio seria maior caso a al�quota do ICMS fosse mais baixa no estado vizinho.
Em 2010, houve um salto de consumo, tendo atingido a marca de 46,57% de gasolina origin�ria de outras unidades da Federa��o. Mas, nesse caso, a explica��o est� em uma parada t�cnica da Regap. Por mais de um m�s o processamento foi afetado, ficando aqu�m do necess�rio, o que obrigou as distribuidoras a captarem gasolina e derivados de petr�leo fora do estado. No ano seguinte, esse fluxo recuou um pouco, para 40%, tendo em 2012 retornado ao n�vel pr�ximo ao de 2010, o que se explica pelo aumento do consumo. Para este ano, a tend�ncia � de que a “importa��o” ultrapasse a casa de 50%.
Diante da satura��o da refinaria, a Petrobras inclusive teria feito reajustes como forma de incentivar esse fluxo para fora do estado, aumentando a diferen�a de pre�os, segundo a diretora da empresa Repelub Combust�veis, Juliana Vieira Martins. Ou seja, o �nus acaba sendo para o consumidor de todo o estado, uma vez que uma parte das empresas t�m aumento de custo com log�stica e a outra parte paga produto mais caro na refinaria de Betim.
A diretora da empresa de revenda para atacado at� dois anos atr�s buscava gasolina e diesel somente na Regap, onde est� a sede da distribuidora, mas de l� para c� tem sido mais vantajoso seguir at� outros estados para adquirir combust�vel. Em m�dia, segundo Juliana, o litro do diesel e da gasolina � R$ 0,08 mais barato em Duque de Caxias. Se considerado que o caminh�o transporta 40 mil litros, a economia � de R$ 3,2 mil. “Buscaria todo o combust�vel fora de Minas se a minha frota comportasse, mas ainda n�o consigo e precisaria comprar mais caminh�es”, afirma ela. Mas parte do valor economizado � perdido com as despesas de transporte para o percurso de quase 1 mil quil�metros. Como antes da satura��o os pre�os nas refinarias eram bem parecidos, a empresa tinha economia exatamente na log�stica e podia buscar na Regap. Em contrapartida, as que permanecem buscando em Betim tiveram o aumento de custo com a eleva��o de pre�os.
Oferta limitada Situa��o semelhante ocorre com a Ale Combust�veis. Desde setembro de 2011, a regi�o de Montes Claros, no Norte de Minas, � suprida parcialmente pela Bahia. Aproximadamente metade do volume total vem de l� por meio de ferrovia. As �reas de influ�ncia de Betim tamb�m t�m sido obrigadas a se deslocar at� S�o Paulo para abastecer em alguns meses em que a oferta da refinaria mineira n�o � suficiente. Em dezembro foi feito esse fluxo e no m�s que vem 20% deve vir de bases paulistas para a regi�o de Betim. “Toda transfer�ncia gera custo adicional, uma vez que a opera��o � realizada por modal rodovi�rio; por�m, procuramos minimizar o repasse desses custos para nossa revenda”, afirma o diretor de Opera��es da ALE, Eduardo Dominguez.
O diretor de Abastecimento e Regulamenta��o do Sindicato Nacional das Empresas Distribuidoras de Combust�veis e de Lubrificantes (Sindicom), Luciano Lib�rio, explica que o sistema de refinarias e dutos da Petrobras n�o se fixa em divisas estaduais e que por quest�es geogr�ficas algumas regi�es do estado t�m atendimento por polos de suprimento de S�o Jos� dos Campos, Paul�nia e Duque de Caxias. Respectivamente, recebem gasolina dessas localidades o Sul de Minas, Tri�ngulo Mineiro e Zona da Mata. “O que ocorreu nos �ltimos anos foi que esse fluxo de entrada de produtos de outros estados aumentou com o combust�vel da Bahia para abastecer o Norte do estado e um avan�o maior no fluxo de produto do Rio e de S�o Paulo para Minas, dado o limite de capacidade de oferta na Regap”, afirma.
O resultado da equa��o � simples: “A consequ�ncia destes fluxos � o aumento do transporte rodovi�rio de cargas no estado a um custo log�stico maior e mais demanda por infraestrutura de capta��o rodovi�ria nas bases, pela substitui��o de volumes de recebimento em dutos por caminh�o”, afirma Lib�rio.
Por e-mail, a Petrobras reafirma a integra��o do parque de refino de forma a atender todo o territ�rio. A companhia aponta que cinco refinarias de outros estados contribuem para o fornecimento de gasolina em Minas, al�m da Regap. Isso porque a unidade de Betim opera com capacidade de 151 mil barris/dia e “n�o existe, no momento, nenhum projeto significativo de aumento de sua capacidade”. Mas acrescenta que entre 2008 e 2012 “a Regap elevou sua produ��o de gasolina, o que permitiu aumentar as vendas em 26%, de modo a minimizar as transfer�ncias log�sticas”, diz o texto.
Refino registra d�ficit
A falta de investimento do governo federal na amplia��o da capacidade de refino acaba por obrigar a Petrobras a importar combust�veis, o que no fim das contas acarreta diminui��o dos recursos dispon�veis para o pr�-sal. O diretor do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE), Adriano Pires, avalia que o d�ficit de refino do Brasil extrapola os problemas ao consumidor. Ele argumenta que a curto prazo a solu��o encontrada pela Petrobras tem sido importar gasolina, mas, pelo fato de o combust�vel ter uma tabela com pre�os inferiores aos do mercado internacional, acaba sendo comercializado a pre�os menores do que os que s�o pagos pela estatal.
A solu��o indicada pelo especialista: equilibrar o pre�o nacional com o internacional para, al�m de evitar perdas, atrair investidores. Nessa situa��o � o consumidor quem sente no bolso. “Na medida que existe barreira econ�mica, com os pre�os administrados pelo governo federal, voc� barra a vinda de investidores. Nisso, a Petrobras � obrigada a dispor de recursos para aumentar a capacidade de refino e deixa de investir no pr�-sal”, afirma Pires.