Apesar da urg�ncia em encontrar solu��es para os ataques de maritacas e, em menor escala, de outras aves em planta��es do estado, n�o se trata de um processo r�pido. No caso do Campo das Vertentes, o estudo tem dura��o esperada de nove meses a um ano, de acordo com Jos� Geraldo Viana, fiscal assistente agropecu�rio do Instituto Mineiro de Agropecu�ria (IMA) em Barbacena. Ele explica que n�o h� como fazer um diagn�stico sem passar por todos os processos de an�lise. “O trabalho de campo a ser feito pelo grupo reunido pelo sindicato vai ser acompanhado pelo IMA, que vai ficar respons�vel por atestar a veracidade das avalia��es e, em cima disso, fazer o relat�rio t�cnico.”
A bi�loga Michelle Barbosa Mateus tem experi�ncia nesse tipo de projeto gra�as � sua disserta��o de mestrado, que avalia os preju�zos de alguns produtores rurais na Zona da Mata com o ataque de aves na fruticultura e na lavoura de milho, especialmente no munic�pio de Paula C�ndido. Al�m da maritaca, h� registros de a��es de pombos e, em menor quantidade, queixas relacionadas a sanha�o, jacu, saracura e sabi�, ainda que essas �ltimas aves n�o causem perdas.
“Vi bandos de 300 pombos em um milharal uma vez”, conta Michelle. No caso de Barbacena e regi�o, a especialista sugeriu come�ar o estudo com a avalia��o do preju�zo dos produtores. “Para definirmos o plano de manejo, � essencial ter esse dado, at� para saber se as estrat�gias s�o vi�veis financeiramente e se podem ser liberadas pelo Ibama.” Os produtores chegaram a sugerir que fossem plantados coquinhos, alimentos dos quais as maritacas gostam, mas, al�m de o coqueiro demorar a crescer, pode atrair ainda mais aves. A ca�a esportiva, outra sugest�o levantada na reuni�o, tamb�m tem uma s�rie de obst�culos legais, inclusive a quest�o do porte de espingardas.
Quem s�o elas?
A equipe de especialistas vai tamb�m identificar quais s�o as esp�cies respons�veis pelos ataques. Para Michelle, provavelmente s�o diferentes das estudadas em Paula C�ndido. Para minimizar o preju�zo a curto prazo, enquanto o plano de manejo n�o � desenvolvido e submetido � autoriza��o, o ideal � adotar boas pr�ticas. Segundo a bi�loga, isso significa evitar perder a produ��o por outros fatores que n�o sejam os ataques das aves, seja na colheita ou no transporte das frutas e do milho. “Em Paula C�ndido, alguns produtores chegaram a abandonar os pomares. Em Barbacena, isso n�o � poss�vel, por ser o �nico ramo de atividade desses produtores”, destaca a bi�loga.
De acordo com a especialista, h� estudos com repelentes qu�micos em andamento, nenhum ainda aprovado. Entre as possibilidades, eles serviriam como inibidores reprodutivos ou simulariam o cheiro de predadores. Outras estrat�gias usadas por produtores no estado incluem o uso de canh�es de propano, que s�o botij�es de g�s que d�o estampidos peri�dicos e s�o colocados em lugares estrat�gicos das planta��es.
“Eles t�m um sensor que detecta a revoada das aves e d� ‘tiros’, que na verdade s�o s� barulhos para assustar os animais”, explica J�nio Augusto dos Santos Silva, analista ambiental do Ibama em Minas Gerais. Tamb�m existe a falcoaria, em que se usam predadores, os falc�es, em sobrevoos peri�dicos e monitorados por especialistas, a fim de espantar as aves. J� a possibilidade de abate � bastante remota. J�nio explica que esse tipo de manejo � muito restrito, autorizado apenas em caso de grau exacerbado de preju�zo e nocividade, como o autorizado para javalis, recentemente. “Cabe �s empresas e aos propriet�rios quantificar os ataques, identificar as esp�cies, avaliar o motivo pelo qual � f�cil para as aves entrarem nas culturas e quais as estrat�gias de manejo. O Ibama avalia o estudo e autoriza ou n�o as medidas.”
Insetos s�o outros vil�es
N�o s� as aves est�o causando preju�zos e deixando produtores rurais em alerta. Pierre Vilela, coordenador da Assessoria T�cnica da Federa��o da Agricultura e Pecu�ria do Estado de Minas Gerais (Faemg), afirma que existem registros de outras pragas por aqui e em estados pr�ximos, que preocupam pelo fato de n�o haver isolamento geogr�fico. No Sul de Minas, a ocorr�ncia � de mariposas nas lavouras de caf�, que est�o sendo monitoradas h� pelo menos tr�s anos e s�o consideradas pragas secund�rias, por ainda n�o gerarem preju�zo.
Outra preocupa��o � a dissemina��o da vespa-das-galhas, que atinge a cultura de eucalipto. Em 2008, surgiram os primeiros relatos do inseto na Bahia, e mais recentemente, h� registros no Paran�, o que significa que a praga provavelmente j� atravessou Minas Gerais. Tamb�m est� no radar dos produtores o ataque de lagartas na cultura do milho transg�nico em Mato Grosso, Goi�s e Bahia. Esse tipo de milho foi desenvolvido justamente para ser resistente � praga, por meio de modifica��o gen�tica. “S�o constantes novos problemas a serem enfrentados no manejo das pragas. Elas n�o surgem espontaneamente, mas entram no pa�s pelas fronteiras, pelo transporte mar�timo e a�reo. H� uma falha no processo de fiscaliza��o da entrada delas. Tudo isso mostra que � preciso ter um investimento em inova��o e tecnologia nessa �rea, por meio do governo e da iniciativa privada”, afirma Pierre.
Segundo ele, os ataques t�m se intensificado devido �s adversidades clim�ticas. No Norte de Minas, gafanhotos est�o causando estragos nas lavouras. A seca na regi�o atinge os predadores dessas pragas que, por causa das condi��es clim�ticas, migram para outros lugares. J� no Campo das Vertentes, a chuva abaixo do esperado causa desequil�brio na fonte de alimentos para as aves. “Com a diminui��o da oferta natural de alimentos, elas v�o em busca das lavouras comercias, que t�m meios de cultivar mesmo em condi��es adversas”, explica Pierre.
Wagner Brant Monteiro, assistente t�cnico da Coordenadoria Regional de Montes Claros do Instituto Mineiro de Agropecu�ria (IMA), afirma que foi realizada, no m�s passado, uma vistoria de campo em Francisco S�, munic�pio mais afetado pela a��o dos gafanhotos. Em algumas propriedades foram identificados ataques severos na lavoura de milho, que causaram perda total nessas planta��es. Em outras, os produtores t�m feito controle qu�mico, mas os t�cnicos perceberam que houve a reentrada da praga, vinda de �reas vizinhas em que n�o foi feito o manejo.” Estamos passando por um per�odo cr�tico de baixo �ndice de chuvas na regi�o e a pastagem encontra-se com pouca massa. Isso favorece o desenvolvimento do gafanhoto, uma vez que n�o h� como fazer um manejo ideal das pastagens”, explica Wagner.
Segundo ele, os preju�zos causados pela praga aumentam pelo fato de o milho e o sorgo que seriam usados na alimenta��o dos animais no per�odo de seca estarem sendo destru�dos. “O controle qu�mico � uma medida necess�ria e urgente, mas � de extrema import�ncia a atua��o das institui��es de pesquisa para identificar e avaliar as alternativas de controle e conv�vio com o gafanhoto”, afirma Wagner. (CL)
ESTRAT�GIA DE DEFESA A LONGO PRAZO