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Estado de Minas

PEC das Dom�sticas pode favorecer outros trabalhadores


postado em 31/03/2013 00:12 / atualizado em 31/03/2013 10:42

Com Diego Amorim e Carolina Mansur

Plano de fuga


Em 1996, com 19 anos, Rosenilda Ferreira da Silva (foto) deixou uma carta para a tia, com quem morou por um m�s em Porteirinha, Norte de Minas, avisando que iria atr�s do sonho de viver na cidade grande. Nascida na vizinha Rio Pardo de Minas, filha de um borracheiro e uma cozinheira, Rosenilda se cansou de esperar pela autoriza��o dos pais para morar em Belo Horizonte. Quando foi ajudar a tia no per�odo de resguardo, encontrou a sua chance. De posse apenas do telefone do trabalho de um parente que morava na capital e uns trocados que pegou emprestados da tia – e prometeu, na carta, devolver assim que encontrasse um emprego –, ela desembarcou na rodovi�ria de BH disposta a aproveitar a primeira oportunidade de emprego que surgisse. Foi como cuidadora, mas de um beb�, que ela deu in�cio � vida profissional. Hoje com 35 anos, ela se divide entre os cuidados de um idoso durante a semana e, aos s�bados e domingos, na arruma��o da casa em que viveu e trabalhou por 15 anos. “N�o tenho onde ficar. Alugar um barrac�o ficaria muito caro. Quando comecei a trabalhar no meu emprego atual, minha ex-patroa ofereceu o servi�o para eu ter onde passar o fim de semana.” Rosenilda confessa estar receosa sobre como ser� daqui para a frente, j� que ainda n�o conversou com os patr�es. Ainda assim, ela torce para que a PEC a ajude a ter sua independ�ncia. “S� sei que quero ter a minha casa e poder cuidar dela.”

Bab� qualificada

Aos completar 20 anos, a bab� Maria da Concei��o dos Santos (foto) viu no servi�o dom�stico a chance de construir uma vida longe da mis�ria e do sofrimento que a rodeavam em Jenipapo de Minas, no Vale do Jequitinhonha. “Quando a gente sai do interior e vem para a capital, v� que existem muitas oportunidades, entre elas estudar”, conta. Filha de uma gari que criou quatro filhas sem a ajuda paterna, Maria chegou � capital focada no objetivo de progredir na vida, mas teve de dar prefer�ncia ao trabalho. “Comecei trabalhando como dom�stica. Depois, trabalhei como cuidadora de idosas e como bab�”, conta. No ano passado, em fun��o da sa�de, precisou se afastar do trabalho. Nesse intervalo, concluiu os estudos e se formou como t�cnica em enfermagem. Hoje, atua como bab� aut�noma. “Estou cobrindo uma colega, mas continuo procurando uma outra posi��o, fixa, em casa de fam�lia, para cuidar de crian�as”, diz. A op��o, segundo ela, � justificada pelos bons sal�rios pagos pelos patr�es, �s vezes melhores que os pagos por empresas. Cheia de esperan�as e boas expectativas, depois do an�ncio da PEC, Maria acredita que voltou para o mercado na hora certa. “Tenho um curso que me diferencia das outras profissionais e isso pode me ajudar a conseguir um trabalho”, afirma. “Vou ter condi��es de voltar a estudar e fazer uma faculdade.”

Motor da fam�lia

O curr�culo de Rog�rio Luiz Pinheiro (foto) , de 45 anos – 20 deles como motorista – inclui trabalhos em transportadoras e outras empresas, mas � em ambientes residenciais que ele se sente mais realizado. “Sempre gostei de trabalhar com fam�lias, especialmente quanto tem crian�as. As rela��es sempre foram marcadas por muito respeito e carinho. ”Ainda assim, ele celebra os direitos que a categoria vai passar a usufruir com a aprova��o da PEC. “Vi muitos colegas bons de servi�o deixarem o emprego como motoristas particulares por n�o ter os mesmos benef�cios que outros trabalhadores. Todos trabalhavam muito e n�o tinham direito ao FGTS, por exemplo. Uma hora isso cansava”, conta Rog�rio. Separado e pai de um garoto de 19 anos, ele enxerga no trabalho o caminho para oferecer mais oportunidades ao filho. “Chega uma certa idade em que o importante � cuidar da fam�lia.” Colega de profiss�o de Rog�rio, Sivaldo Ferreira, de 48, � filho de lavradores de Te�filo Otoni, no Vale do Mucuri, come�ou a trabalhar como motorista particular em 2008, mas por duas d�cadas a sua rotina era cuidar da casa que ele mesmo ajudou a construir. “Com 23 anos, vim do interior para Belo Horizonte e o primeiro trabalho que consegui foi na constru��o civil. Os donos da casa gostaram de mim e, quando ela ficou pronta, me chamaram para ser caseiro. ”Hoje com casa pr�pria, ele transporta os filhos do atual patr�o e j� sabe como � ter seus direitos reconhecidos. “Meu FGTS j� � recolhido e sempre recebi pelas horas extras. � bom saber que isso tamb�m vai ser feito com outros trabalhadores.”

Na grama das mans�es

Natural de Urucuia (MG), o jardineiro Uelton Barbosa de Brito (foto) , de 25 anos, mant�m uma rotina de trabalho em contato com a natureza. A partir das 7h come�a a percorrer os 20 mil metros quadrados da ch�cara na qual foi contratato no Setor de Mans�es Park Way, em Bras�lia. Com bastante cuidado, rega as plantas, limpa a horta, apara o gramado e ainda tem tempo de alimentar os cachorros da casa. H� tr�s meses em Bras�lia, deixou a cidade natal em busca de uma melhor remunera��o. O sal�rio em Minas Gerais era de pouco mais de R$ 600. Agora, passou a receber R$ 800. Atento �s mudan�as que a PEC das Dom�sticas trar� para ele, est� ansioso para ter direito ao FGTS. “Vou ter direito a uma poupan�a”, festeja. Ele, que estudou at� a 8ª s�rie, diz gostar do que faz, mas sabe que h� preconceito por parte de muitas pessoas. “Essas pessoas v�o parar de nos desrespeitar. Teremos direitos. Isso � um avan�o grande”, completa. O tamb�m jardineiro Jair Pinto de Oliveira, de 47 anos, ainda tem d�vidas sobre como ser� calculada e controlada a jornada de trabalho e as horas extras. Mesmo sem uma resposta imediata, est� contente com a igualdade de direitos conquistados, uma vez que deixar� de ser motivo de piada entre os vizinhos em Ceil�ndia. “Eles ficam gozando com a minha cara porque n�o recebia FGTS e nem a diferen�a pelo que trabalhava a mais. Agora isso vai acabar e meu patr�o disse que vamos sentar nos pr�ximos dias para conversar sobre um contrato.”

Salva��o no jardim


Nascido em Presidente Bernardes, o jardineiro Jos� Matheus Jacinto (foto) , de 49 anos, saiu h� oito anos do munic�pio de pouco mais de 5 mil habitantes, na Zona da Mata, com destino a Belo Horizonte, para deixar o trabalho na ro�a. “Comecei a visitar a capital para levar um dos meus filhos ao m�dico, at� que decidi ficar aqui definitivamente”, conta. Dono de uma hist�ria cheia de percal�os, entre eles a separa��o da esposa e a responsabilidade de cuidar sozinho de cinco filhos com idades entre 9 e 16 anos, ele conta que o trabalho em resid�ncias surgiu como oportunidade, depois de ter que abandonar o emprego de pedreiro. “N�o tinha como trabalhar fichado com cinco crian�as para cuidar. Comecei a trabalhar com uma senhora e ela me ajudou muito arrumando outras casas”, conta. Hoje prestando servi�o em seis casas diferentes, ele cuida do jardim, limpa a piscina, lava o carro e, quando o patr�o viaja, faz as vezes de caseiro, vigiando a casa. “Tamb�m limpo os vidros e fa�o o que aparecer de servi�o na casa”, lembra. Ele recebe, ao todo, R$ 1,5 mil por m�s e tem o INSS rateado por quatro dos seis patr�es e revela que ainda n�o sabe como ficar� a sua situa��o por n�o ter um emprego fixo. Confessa, no entanto, que v� na PEC a condi��o de conseguir mais estabilidade. “Minha casa ficou com a ex-mulher e hoje moro de aluguel. Como cuido sozinho dos meus filhos, preciso de um lugar para morar e o FGTS, por exemplo, poderia me ajudar a ter minha casa de novo”, refor�a.

A vida passada a ferro

A passadeira Luzia Maciel (foto), de 58 anos, chega a prestar servi�os para cinco fam�lias. H� 11 anos na profiss�o, afirma gostar do que faz. “Amo passar roupas. Acho que as pessoas ficam satisfeitas com o resultado”, comenta. O valor da di�ria varia entre R$ 80 e R$ 90, mas sente falta de benef�cios. “N�o tenho 13º, FGTS, nem f�rias. E, se o patr�o viaja ou dispensa o servi�o do dia, fico sem dinheiro”, ressalta. Ela, que gostaria de ter mais direitos como passadeira, v� na PEC das Dom�sticas um avan�o para a categoria. “� mais do que merecido. Sempre prestamos um servi�o at� melhor do que fazemos nas nossas pr�prias casas”. Apesar das dificuldades enfrentadas, Luzia n�o lamenta a op��o de trabalho escolhida desde quando come�ou a vida de diarista, h� 22 anos. “A casa onde moro, constru� com o meu trabalho de diarista. S� tenho a agradecer a Deus por isso”, vibra ela. No primeiro emprego, Luzia ganhava cerca de R$ 35 por dia trabalhado. O valor, segundo ela, era maior do que o pago a outras diaristas. “Minha patroa reconhecia o meu trabalho”. Nascida em Caratinga(MG), chegou em Bras�lia, em 1981. M�e de duas mulheres e um homem, se orgulha de ter ajudado na forma��o do filho. “Ajudei a pagar a faculdade dele. Hoje, ele � administrador em uma empresa de tecnologia”. Com sentimento de realiza��o, ela tem como sonho reformar a casa. “Com certeza vou conseguir, com trabalho duro e muita dedica��o”.


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