
O que o cliente nem sempre percebe � que nas entradas e demais op��es oferecidas h� disparidades entre os pre�os de at� 160,9%, a exemplo da por��o de mandioca frita, encontrada a R$ 6,90 e a R$ 18, maior valor verificado pelos pesquisadores. Os custos das bebidas variam de 11,1% pelo chope a 100% por um suco de laranja. A pesquisa foi realizada entre ter�a e quinta-feira passadas. “Observamos que, apesar de os pre�os dos pratos que est�o participando do concurso serem razo�veis, entre R$ 20,90 e R$ 22,90, existe grande varia��o entre os petiscos que est�o fora do Comida di Buteco. A diferen�a atinge tamb�m a cerveja, refrigerantes em lata e outras bebidas, como a caipirinha”, alerta Feliciano Abreu, diretor-executivo do Mercado Mineiro.
� o caso das carnes na chapa ou na brasa, vendidas como especialidade em diversos restaurantes. A por��o de meio quilo de picanha � encontrada a pre�os variando de R$ 35,90 a R$ 59,90, diferen�a de 66,9%. O menor pre�o da garrafa da cerveja Bohemia, R$ 5,20, foi encontrado na Regi�o Norte da capital e o maior, R$ 7,50, na Oeste, perfazendo varia��o de 44,2%. A por��o de batata frita na hora custa de R$ 8 na Regi�o Leste da capital a
R$ 18 na Zona Sul. Quem optar pelo suco de laranja, vai pagar R$ 5 na Zona Oeste e a metade disso no Centro da cidade.
Feliciano Abreu lembra que as despesas em bares s�o frequentes no or�amento do mineiro, j� que se trata de um lazer tradicional tanto de homens e mulheres solteiros quanto de fam�lias e, por isso mesmo, varia��es de pre�os exorbitantes sacrificam o bolso. Consumidores que est�o percorrendo os bares participantes do Comida di Buteco v�o perceber que, na capital mineira, em uma �nica por��o � poss�vel economizar quase R$ 50.
Diferen�as
O presidente da Associa��o Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel-MG), Fernando Junior, diz que alguns fatores motivam a diferen�a de pre�os. Em pedidos como a picanha na chapa, ele cita a variedade de custos da mat�ria-prima. “Antigamente, s� existiam carnes de primeira e de segunda. Hoje, essa classifica��o mudou e a varia��o de pre�os para um mesmo produto � bem grande”, argumenta. Reduzir os pre�os tamb�m pode fazer parte da estrat�gia do estabelecimento para atrair novos clientes. “� uma forma de fazer a demanda crescer”, pondera Junior.
Paulo Benevides, o chef Ben�, s�cio-propriet�rio do Bar Tem�tico, de Santa Tereza, na Zona Leste de BH, afirma que a disparidade de pre�os da picanha se justifica quando analisada a proced�ncia do corte. “Existe picanha de primeira e aquela de qualidade bem inferior. H� quem compre o quilo da carne a R$ 19 e a R$ 32”, diz.

Paulo Benevides concorda com o argumento da localiza��o do estabelecimento, mas admite que varia��es t�o expressivas quanto apurou o Mercado Mineiro n�o t�m explica��o. Ele aponta as por��es de batata frita, que, em geral, s�o preparadas a partir do produto congelado, comprado pronto para ir � frigideira, e as bebidas. Uma �nica exce��o, neste item do card�pio, seriam a caipivodka e a caipirinha, cujos pre�os dependem das marcas usadas nos drinques. Ben� diz que o correto � avisar o consumidor sobre as marcas dispon�veis, para que ele decida o pre�o que deseja pagar.
Crit�rios dividem clientela
Os consumidores atentos aos gastos nos bares rebatem as explica��es dos donos dos estabelecimentos, mas se dividem na hora de escolher o bar que frequentam. Boa parte sobrep�e aos pre�os a escolha pelos crit�rios do ambiente prazeroso, frequentado por amigos, com bom atendimento e pr�ximo de casa. Na outra ponta, h� quem se recuse a pagar mais caro por isso. Neste segundo grupo est� a estudante Rafaella Xavier, de 18 anos, que conta j� ter deixado o restaurante escolhido em troca do concorrente, ao lado, depois de conferir os card�pios. “N�o aceito diferen�as t�o absurdas de pre�os”, afirma, ao lado da m�e, a dona de casa Rosilene Xavier Alves, de 40 anos, ao experimentar um dos pratos do Comida di Buteco na sexta-feira, regado a caipvodka.
As amigas de Rafaella, J�lia Ferraz e Beatriz Lobato, de 18, tamb�m questionam as justificativas dos bares para a disparidade de pre�os identificada na pesquisa do site Mercado Mineiro. “Se os fornecedores de bebidas e a log�stica deles s�o os mesmos, n�o vejo muito sentido no argumento. A localiza��o, sim, e o conforto posso entender como argumentos”, afirma Beatriz. “H� diferen�as de qualidade na comida, mas nem sempre a por��o mais cara � a melhor”, completa J�lia.

R$ 3,99, no Palmeiras. A disparidade, no entanto, pouco importa para eles. “Escolhemos o local de acordo com o ambiente. Ficamos onde somos bem tratados”, diz Jair Filho. “A prefer�ncia � pela proximidade e a amizade que a gente tem nesses locais”, destaca Pedro Chagas. O grupo j� foi a sete estabelecimentos participantes do festival grastron�mico.
Com a experi�ncia do trabalho como advogado, Guilherme Gandini, de 24, aceita a explica��o dos donos de bares de que os custos decorrentes do pagamento do aluguel e do Imposto Predial e Territorial Urbano ( IPTU) influenciam na forma��o dos pre�os. Contudo, o argumento tem limite. Na sexta-feira, Gandini e a amiga Nat�lia Peixoto, estudante de 24 anos, desfrutavam de uma por��o de torresmo num dos restaurantes que participa do Comida di Buteco e protestaram contra o custo da iguaria, de R$ 25. “N�o considero que seja justific�vel”, afirma o advogado. “Parece at� uma esp�cie de caixa dois. Por R$ 10 eu compro bacon no a�ougue para fazer um bom torresmo”, ironizou Nat�lia.
Comodidade
Qualidade e bom atendimento s�o quesitos mais importantes que os pre�os para o economista Rodrigo Barbosa lima, de 39, desde que ele n�o ultrapasse o or�amento de R$ 80, em m�dia, a cada sa�da, dependendo do tempo gasto no restaurante. No primeiro bar frequentado nesta temporada do Comida di Buteco ele pagou R$ 4 pelo suco de laranja. “Qualidade, bom atendimento e a facilidade de estacionar fazem a diferen�a”, diz Rodrigo.
A professora Helenice Freitas, de 48, entra no debate aberto na mesa de bar com os amigos Valdeir Belfort, Osvaldo Borges e Wanderleia Maria da Boa Morte, sobre os resultados da pesquisa do Mercado Mineiro, questionando diferen�as de 100% ou mais. “N�o h� l�gica nisso. A laranja usada no suco que o fregu�s toma na Zona Norte � a mesma daquela oferecida na Regi�o Sul. Como explicar uma por��o de torresmo vendida a R$ 21, quando a de bolinho de bacalhau, um ingrediente nobre, custa R$ 16,90?”, indaga. A amiga Celma Regina Pereira Santos, bibliotec�ria, de 42, discorda que a localiza��o seja motivo suficiente para explicar a diferen�a de pre�os. Para o empres�rio Leonardo Faria, de 38, mais grave do que os pre�os � o uso de mat�ria-prima de m� qualidade. (MV)