
Com o apoio massivo e decisivo dos pa�ses emergentes, o diplomata brasileiro Roberto Carvalho de Azev�do ser� o pr�ximo diretor-geral da Organiza��o Mundial do Com�rcio (OMC). � o cargo mais alto ocupado por um brasileiro na diplomacia mundial. Azev�do assume em 1.º de setembro, para um mandato de quatro anos, um velho sonho do Itamaraty. Ontem, a OMC concluiu o processo, que envolveu nove candidatos. Azev�do recebeu o maior n�mero de votos e tamb�m o apoio de pa�ses em todos continentes – condi��o para que um candidato fosse escolhido. Na fim, Azev�do superou a vota��o recebida pelo mexicano Herm�nio Blanco, que tinha o apoio dos Estados Unidos e da Europa e era visto como o preferido dos pa�ses ricos.
A escolha de Azev�do para a diretoria da OMC � mais do que o fortalecimento do Brasil no cen�rio internacional. A vit�ria dele muda o xadrez pol�tico global e d� mais poder �s economias emergentes. Pela primeira vez os pa�ses pobres derrubam a vontade das na��es chamadas desenvolvidas e, a expectativa � de que, a partir de agora, a OMC olhe mais atentamente para essas regi�es. � um resultado importante. Os pa�ses emergentes demonstram capacidade de lideran�a. Uma lideran�a que tem apoio no mundo em desenvolvimento, mas com reconhecimento no mundo desenvolvido", afirmou o ministro das Rela��es Exteriores, Antonio Patriota.
Com a vit�ria, Azev�do se tornou o primeiro latino-americano a chefiar a entidade desde sua cria��o, em 1995. Apesar do apoio dos pa�ses emergentes e pobres, e de ter chegado ao posto contra o desejo dos EUA, o novo diretor-geral da OMC deve ter pouco espa�o para promover mudan�as mais intensas na entidade. “O fato de ele ter sido escolhido por pa�ses pobres far� com que ele tenha um olhar diferenciado para as economias dessas regi�es, diferente do que outros teriam. N�o quer dizer, por�m, que vai fazer grandes altera��es. Existem for�as poderosas e ele precisar� negociar com elas”, observou Haroldo Mota, professor de economia da Funda��o Dom Cabral.
Para Fernando Sarti, coordenador do Instituto de Economia da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), a chegada de Azev�do � OMC refor�a a tese do Itamaraty de que os pa�ses em desenvolvimento t�m um novo protagonismo nas rela��es internacionais. “A fase de excessiva passividade e de uma subaproveita��o desses pa�ses nos organismos internacionais passou. A estrutura antiga caducou diante de uma nova din�mica na estrutura econ�mica mundial”, argumentou.
Nova agenda
Segundo Sarti, a vit�ria do brasileiro pode significar uma nova agenda para a OMC. “Simboliza a for�a da demanda dos pa�ses em desenvolvimento por uma mudan�a na ordem internacional e por uma participa��o mais adequada e condizente com um protagonismo j� assumido do ponto de visto econ�mico, de investimentos, de fluxos de com�rcio.”
O resultado do pleito, que durou seis meses e atraiu nove candidatos — at� agora o maior n�mero na hist�ria da OMC — , ser� anunciado ao p�blico hoje. Azev�do deve ser confirmado como diretor-geral em uma reuni�o em 14 de maio. Geraldo Nunes, professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), estava descrente na vit�ria do brasileiro. “Achei que ficaria complicado vencer. Pensei que os votos dos pa�ses ricos iam pesar mais”, disse. “A vit�ria fortalece os Brics e demonstra para a comunidade internacional a import�ncia desse bloco no com�rcio mundial”, avaliou.
Ainda na vis�o de Nunes, o brasileiro deve seguir um caminho desenvolvimentista, ao contr�rio do oponente derrotado, o mexicano Herm�nio Blanco. “O Azev�do fazia parte do grupo dos desenvolvimentistas, que defendem uma negocia��o mais ampla entre os parceiros. A crise na Zona do Euro certamente influenciou no resultado”, analisou.
Engenheiro negociador
Bras�lia – A candidatura de Roberto Carvalho de Azev�do para disputar a Organiza��o Mundial do Com�rcio (OMC) nasceu a partir das sugest�es de pa�ses membros do �rg�o que trabalham em Genebra, na Su��a. O escolhido da presidente Dilma Rousseff era o �nico dos candidatos a falar fluentemente as tr�s l�nguas oficiais da OMC: ingl�s, franc�s e espanhol, e isso tamb�m ajudou no seu desempenho em rela��o aos concorrentes. Ele atua no �rg�o desde o fim dos anos 1990.
O engenheiro Azev�do, de 55 anos, � visto no Itamaraty como o melhor negociador do Minist�rio das Rela��es Exteriores (MRE) hoje em exerc�cio. O embaixador �, inclusive, considerado capaz de chegar ao cargo de ministro, de acordo com fontes palacianas.
H� pouco mais de dez anos, o ent�o secret�rio Roberto Azev�do ocupava uma mesa modesta na miss�o do Brasil em Genebra, onde mal cabiam todos os pap�is e que ainda tinham de dividir espa�o com um modelo de um avi�o da Embraer. Ele, na �poca, trabalhava na disputa entre Brasil e Canad� por conta dos subs�dios a�reos. Uma d�cada depois, ocupa o cargo mais importante do com�rcio internacional, numa carreira mete�rica.
Azev�do entrou no MRE em 1984 e teve uma carreira bastante peculiar. Chegou ao cargo de secret�rio adjunto de Assuntos Econ�micos e Tecnol�gicos da pasta antes mesmo de se tornar embaixador, em 2007. Participou da Rodada Doha, de negocia��es livre com�rcio, desde o seu lan�amento, em 2001. Isso, para ele e para especialistas, � um dos seus principais pontos a seu favor, pois j� conhece a forma como todos os pa�ses-membros se comportam � mesa de discuss�es multilaterais.
Os mais pr�ximos acham que o fato de Azev�do ser libriano o ajuda a ser equilibrado na diplomacia. Al�m disso, destacam que ele tem o toque de Midas. "Ele � bom em tudo o que faz. Desde o trabalho, al�m do futebol, passando pelo t�nis at� a nata��o", revelou um colega de longa data no Itamaraty que pediu anonimato. Se n�o tivesse seguido a carreira de diplomata, ele poderia ter sido tenista profissional, contam.
A retomada de Doha � a sua principal bandeira, j� que o novo chefe da OMC conduzir� o principal encontro ministerial do �rg�o, em dezembro, em Bali, na Indon�sia. "Nas nossas atuais circunst�ncias, n�o creio que tenhamos o tempo de treinar o pr�ximo diretor-geral para exercer o cargo", disse Azev�do durante o an�ncio da sua candidatura, quando esteve no Brasil, em dezembro. "Minhas credenciais me fazem confiar que posso ajudar os membros", completou, � �poca.