Ipatinga est� em busca de novos caminhos para diminuir depend�ncia do a�o

Ipatinga – Por volta das 15h da �ltima quarta-feira, enquanto lustrava a lataria de seu t�xi, Jos� Mendon�a, de 63 anos, reclamou ao tamb�m chofer Jos� Moraes, de 61, da queda do n�mero de passageiros: “H� dois anos, eu conseguia R$ 100 at� o meio-dia. Hoje, o rel�gio bate 18h e n�o tenho mais que R$ 80”. Em igual toada, o amigo emendou: “Minhas corridas ca�ram 40%”. Os xar�s ganham a vida a 220 quil�metros de Belo Horizonte, em Ipatinga, cidade do Vale do A�o, que vai comemorar 50 anos de emancipa��o em 2014.

Os preparativos para a data especial, por�m, n�o s�o prioridade dos ipatinguenses neste momento. A cidade, que tem boa parte do seu desenvolvimento socioecon�mico ligado � sider�rgica Usiminas, l�der nacional no mercado de a�os planos, ainda pena com os efeitos da crise internacional, deflagrada em 2008, nos Estados Unidos, e que se alastrou pela Europa. A queda no consumo mundial afetou o mercado de produtos sider�rgicos, impactando na arrecada��o do ISS (Imposto sobre Servi�os de Qualquer Natureza), a principal fonte de receita pr�pria do munic�pio – 60% desse tributo � pago pela Usiminas.

O recolhimento do ISS caiu de R$ 55 milh�es em 2011 para R$ 40 milh�es em 2012 – queda de 27,3%. Mas os n�meros que mais preocupam os moradores v�m do Minist�rio do Trabalho e Emprego (MTE). Nos �ltimos 12 meses encerrados em abril, o saldo de postos de trabalho formais (diferen�a entre admiss�es e demiss�es) ficou no vermelho. A ind�stria da transforma��o, por exemplo, fechou 316 vagas. O balan�o ficou negativo tamb�m no setor de servi�os, em 640 vagas, e no com�rcio, que eliminou 490 empregos.

“O momento � de preocupa��o. O com�rcio � muito dependente da massa salarial do setor metal-mec�nico, pois � uma ind�stria que vende para fora (da cidade), ou seja, o dinheiro que entra � extra”, disse o presidente da C�mara de Dirigentes Lojistas (CDL), M�rcio Penna. De 2011 para 2012, o total de consultas ao Servi�o de Prote��o ao Cr�dito (SPC) no munic�pio subiu 4,5%. O indicador, uma esp�cie de term�metro de vendas, ficou bem abaixo do crescimento nacional do setor, de 8,4%, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estat�stica (IBGE).

Os reflexos da crise internacional obrigam Ipatinga a diversificar sua economia. A prefeitura e empres�rios locais conclu�ram que, quase meio s�culo depois da emancipa��o, o munic�pio n�o pode ser dependente apenas da cadeia produtiva do a�o. “Temos v�rios projetos, como a expans�o do distrito industrial. Ser�o mais 300 mil metros quadrados e j� fomos sondados por empresas tanto daqui quanto de outros lugares”, revelou a prefeita, Cec�lia Ferramenta.

Para isso, o n�mero de vagas oferecidas para forma��o de m�o de obra na cidade pelo Servi�o Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai) de Minas Gerais ser� ampliado, no pr�ximo ano, das atuais 1,4 mil para 3 mil. Quando isso ocorrer, o Senai local ter� o segundo maior n�mero de alunos, atr�s apenas do de S�o Paulo. Al�m de novas ind�strias, o munic�pio ataca em outras frentes, como no com�rcio. O shopping planeja inaugurar pelo menos uma centena de lojas. E, embora oficialmente a prefeitura n�o confirme o assunto, outro empreendimento da mesma natureza, com sede no estado de S�o Paulo, vislumbra aportar na cidade.

A economia pode melhorar tamb�m com a chegada do Instituto Federal de Minas Gerais (IFMG), que vai oferecer cursos t�cnicos e de gradua��o. A inaugura��o deve ocorrer em 2014. “Tamb�m estamos negociando, com o Minist�rio da Educa��o, a possibilidade de trazer um c�mpus federal”, acrescentou a prefeita, revelando que as negocia��es s�o feitas em parceria com a Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF). A constru��o de um centro de conven��es e de um entreposto da Ceasa Minas s�o outros desafios colocados no papel pela prefeitura.

“Tomara que d� tudo certo”, deseja Jos� Mendon�a, o taxista que lamenta a perda do n�mero de passageiros. Aposentado pela Usiminas, onde trabalhou por 28 anos como torneiro mec�nico, ele viu a cidade nascer, se desenvolver e crescer. Agora, torce para que a crise internacional ensine Ipatinga a caminhar com as pr�prias pernas.

Promessa do setor de �leo e g�s

Boa parte do crescimento econ�mico de Ipatinga depende da duplica��o da BR-381, que liga o Vale do A�o a Belo Horizonte e a S�o Paulo. A m� conserva��o da estrada, rotulada de Rodovia da Morte, devido ao grande risco de acidentes, aumenta o custo para os produtores da regi�o, que precisam gastar mais com pneus, amortecedores, suspens�es e outros equipamentos.

“A duplica��o da 381 � important�ssima”, cobra o presidente do Sindicato Intermunicipal das Ind�strias Metal�rgicas, Mec�nica e de Materiais El�tricos de Ipatinga (Sindimiva), Jeferson Bachour Coelho, dono da L�der Ind�stria Mec�nica, uma das empresas que constroem pe�as para a ind�stria naval.

Ipatinga, ali�s, � o �nico dos cinco munic�pios selecionados pelo Minist�rio do Desenvolvimento, Ind�stria e Com�rcio Exterior (Mdic), a Ag�ncia Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI) e a Petrobras para receber um programa de capacita��o de fornecedores da ind�stria de petr�leo e g�s, longe do mar. As outras quatro cidades s�o Rio Grande (RS), Maragogipe (BA), Itabora� (RJ) e Ipujoca (PE). “Justamente porque temos uma forte experi�ncia em metal-mec�nica”, acrescentou Jeferson. A duplica��o da rodovia certamente vai acelerar o avan�o do setor.

H� quatro anos, a ind�stria de Ipatinga come�ou a investir para atender a demanda do setor naval. Uma dezena de empresas do munic�pio passou a fornecer portas, calhas de amarras, mastros e balaustradas, entre outras pe�as. O programa de capacita��o da cadeia de fornecedores ter� a participa��o de um conjunto de institui��es ligadas ao setor industrial, que v�o definir as necessidades de cada polo regional. O trabalho envolve qualifica��o profissional e de gest�o, a��es de promo��o da atividade industrial e oferta de cr�ditos por institui��es como o Banco Nacional de Desenvolvimento Econ�mico e Social (BNDES) e a Financiadora de Estudos e Projetos (Finep). (PHL)