Desde que foram iniciadas, em junho de 2011, as obras da Usina Hidrel�trica de Belo Monte j� contabilizam 92 dias de paralisa��es. Na manh� de hoje, parte dos 140 �ndios da etnia Munduruku, que ocupam um dos canteiros desde a madrugada do dia 27, passou tamb�m a ocupar tr�s �nibus de trabalhadores dentro do Canteiro Belo Monte. Eles ocuparam ainda a guarita de uma vila residencial destinada aos funcion�rios, al�m de fazerem uma blitz na Rodovia Transamaz�nica para n�o permitir a passagem dos �nibus que se dirigiam � obra.
� a segunda vez que �ndios ocupam a obra este m�s. A primeira, no in�cio de maio, durou oito dias. De acordo com o Cons�rcio Construtor de Belo Monte, dos 92 dias de paralisa��es, 66 ocorreram devido a invas�es de ind�genas ou de organiza��es n�o governamentais contr�rias ao empreendimento. As demais (26) foram motivadas por quest�es trabalhistas.
A maioria dos �ndios que participa do protesto � oriunda de Jacareacanga, munic�pio localizado na regi�o do Tapaj�s, a quase 1 mil quil�metros de Belo Monte. Eles pedem a imediata suspens�o de todos os empreendimentos hidrel�tricos na Amaz�nia at� que o processo de consulta pr�via aos povos tradicionais, previsto na Conven��o 169 da Organiza��o Internacional do Trabalho (OIT), seja regulamentado.
Chefe do escrit�rio local da Secretaria-Geral da Presid�ncia da Rep�blica em Altamira, Avelino Ganzer, informou � Ag�ncia Brasil que o governo tem manifestado “reiteradamente” interesse em dialogar com os �ndios.
“Fui conversar com eles pessoalmente, mas at� agora nenhuma proposta foi apresentada [pelos �ndios]. No dia 8 de maio, o governo federal entregou � lideran�a munduruku uma proposta assinada pelo ministro Gilberto Carvalho, se comprometendo em receb�-los em Bras�lia para discutir todos os problemas que os afetam. Al�m disso, nos disponibilizamos a enviar o secret�rio nacional de Articula��o Social, Paulo Maldos, ligado diretamente � Presid�ncia da Rep�blica, a Jacareacanga ou Itaituba para discutir a Conven��o 169 da OIT. Infelizmente, tem sido dif�cil convenc�-los a estabelecer di�logo”, informou Ganzer.
No dia seguinte ao recebimento da proposta assinada pelo ministro Carvalho, os mundurukus desocuparam o S�tio Belo Monte. Eles ent�o ficaram acampados a 18 quil�metros de Altamira, na Vila Leonardo Da Vinci, “em barraco cedido pela Igreja Cat�lica, com a ajuda do Conselho Indigenista Mission�rio (Cimi)”, acrescentou Ganzer.
“S� que, no dia 26, chegou mais um �nibus vindo de Jacareacanga, com cerca de 40 �ndios. Ent�o, na madrugada do dia 27, eles retomaram a invas�o. Para n�s, � claro que h� um monte de cabe�as n�o ind�genas influenciando essas a��es, construindo um processo de radicaliza��o extrema, que nega qualquer processo de negocia��o equilibrado. Isso pode resultar em a��es extremadas e perigosas”, argumenta o chefe do escrit�rio da Presid�ncia da Rep�blica em Altamira.
Procurado pela Ag�ncia Brasil, o assessor do Cimi, Renato Santana, negou que a entidade tenha ajudado os �ndios a se instalarem no acampamento. “O Cimi acha estranho o governo questionar a legitimidade e autonomia dos povos ind�genas, como se n�o existissem hist�rias de opress�o �s comunidades no pa�s, especialmente em Belo Monte”.
As paralisa��es decorrentes de manifesta��es de �ndios e de organiza��es n�o governamentais t�m desagradado trabalhadores e empresas envolvidas na obra. “Ao ser obrigado a parar suas atividades, o trabalhador diminui sua produtividade. Isso resulta tamb�m em menos horas extras e menos ganhos. Isso incomoda muito o trabalhador e pode, sim, resultar em conflito com os invasores”, alerta o presidente da Federa��o dos Trabalhadores na Ind�stria da Constru��o Pesada (Fenatracop), Wilmar Santos.
“Afirmo categoricamente: esta ser� uma trag�dia anunciada. O governo sempre soube que esta � uma obra pol�mica e, mesmo assim, est� adiando a solu��o de um problema, porque sempre soube que o movimento social n�o quer conversar. O governo tinha de impedir a entrada dos invasores e, nos casos em que a invas�o j� tenha ocorrido, tem de impedir a entrada de suprimentos”, disse o sindicalista. “E, se considerarmos a falta de condi��es adequadas de trabalho e os baixos sal�rios oferecidos pela empresa, temos todos elementos para um conflito ainda maior”, acrescentou.
Uma carta assinada por todas as empresas integrantes do Cons�rcio Construtor de Belo Monte foi enviada a quatro minist�rios (Justi�a, Minas e Energia, Planejamento e Casa Civil) alertando-os de que as invas�es est�o se tornando cada vez mais graves, frequentes e com maior perman�ncia, e que est� evidente a possibilidade de um conflito entre ind�genas e trabalhadores. Pede, ainda, que o governo federal implante um plano de seguran�a espec�fico para o empreendimento.
A Ag�ncia Brasil tentou contato com as lideran�as mundurukus, mas n�o conseguiu contact�-los.