
Indicador vital da produtividade, qualifica��o e da renda do trabalhador, o ensino superior no pa�s ainda tem baixo patamar de financiamento. Perto de 20% dos alunos matriculados utilizam algum tipo de cr�dito, seja p�blico ou privado. “A demanda � bem maior que isso. Cerca 50% dos estudantes que est�o matriculados no ensino superior privado precisariam do financiamento”, garante Rafael Baddini, diretor de Marketing da Ideal Invest, que opera o cr�dito Pravaler, ferramenta do setor.
O cr�dito estudantil � um dos fatores tamb�m para combater a alta taxa de evas�o no ensino superior. Nas institui��es privadas, o percentual de abandono chega a 53% e o cr�dito, segundo especialistas, est� entre as armas que podem trazer esse �ndice para perto de 40%. “Certamente, o financiamento � uma das ferramentas importantes para levar o estudante a concluir o curso. No Brasil, ele deveria ser concedido a priori, ou seja, antes de o estudante ingressar no curso”, defende Roberto Lobo, presidente do Instituto Lobo para o Desenvolvimento da Educa��o, da Ci�ncia e da Tecnologia.
A aprova��o pr�via, segundo Lobo, garante ao estudante iniciar a gradua��o com os valores j� contratados, o que amplia suas chances de permanecer no curso, o contr�rio do que ocorreu com Juliana Santos, que, como n�o conseguiu concretizar a expectativa de cr�dito, foi for�ada a deixar a faculdade. “A qualifica��o tem impactos no grau de inova��o do pa�s, reflete-se na renda e no Produto Interno Bruto (PIB)”, refor�a o especialista. Para o Sindicato das Escolas Particulares de Minas Gerais, o refor�o na pol�tica do cr�dito estudantil elevaria o percentual daqueles estudantes que entram na faculdade e concluem o curso para perto de 70%.
Pesquisa do Instituto Brasileiro de Geografia e Estat�stica (IBGE) com base no Cadastro Central de Empresas (Cempre), mostra que, no Brasil, os assalariados com n�vel superior chegam a ter renda 219,4% superior �queles com menos tempo de estudo. Indicador da Organiza��o para a Coopera��o e o Desenvolvimento Econ�mico (OCDE) feito entre 30 pa�ses revelou que, entre os observados, o Brasil foi onde se registrou maior rela��o entre curso superior completo e eleva��o no sal�rio. Depois do diploma, o crescimento da renda do brasileiro chega a 156%.
EMPREGABILIDADE O curso superior faz crescer tamb�m a empregabilidade para aqueles que conseguem chegar ao diploma. Segundo relat�rio divulgado pela Organiza��o para a Coopera��o e o Desenvolvimento Econ�mico (OCDE), enquanto 68,7% dos brasileiros sem ensino m�dio est�o no mercado de trabalho, a taxa avan�a para 77,4% entre aqueles que conclu�ram a forma��o e para 85,6% entre os trabalhadores com curso superior completo.
� o caso de Nat�lia Teixeira Santos. Ela foi a primeira de sua fam�lia a ingressar no ensino superior. Aos 35 anos, prepara-se para concluir o pagamento do Fundo de Financiamento Estudantil (Fies), cr�dito do governo federal, no ano que vem. Nat�lia financiou o volume de R$ 30 mil, a juros de 6,5% ao ano – que depois ca�ram para 2,5% ao ano –, o que garantiu o seu diploma no curso de administra��o de empresas. “S� me formei porque tive o Fies. Com a gradua��o, consegui um emprego muito bom e minha renda ficou quatro vezes maior. O curso superior foi decisivo para conseguir trabalho, comprar um carro e a casa pr�pria”, aponta.
No Brasil, o volume de cr�dito movimentado pelo Fies, linha do governo federal, atingiu R$ 16,1 bilh�es em 2012, e at� mar�o deste ano o volume chegou a
R$ 8,5 bilh�es. Para especialistas, o montante por ano teria espa�o para dobrar, se considerada a demanda dos estudantes. “O cr�dito educativo, no Brasil, est� entre as linhas que movimentam os menores volumes de recursos. Nos Estados Unidos, ele s� perde para o cr�dito imobili�rio”, compara Baddini.
A estudante Grazielle Hellen Souza, de 17, foi aprovada no vestibular para engenharia civil e conseguiu financiar 50% do valor do curso. A mensalidade, que hoje � de pouco mais de R$ 1 mil, cai para R$ 500. “O Fies me ajudou demais, porque o valor do curso � realmente muito alto. Com a op��o de financiar 50%, vou conseguir me formar com mais tranquilidade.”
Verba para escolher bem
Segundo pesquisa da Ideal Invest realizada no ano passado com seus benefici�rios do cr�dito privado para financiamento do ensino superior, 86% dos estudantes afirmaram que n�o fariam o curso em que estavam matriculados se n�o tivessem a op��o de financiar a educa��o; outros 48% responderam que nem sequer estariam estudando sem a ajuda; 31% disseram que fariam um curso mais barato ou com menos cr�ditos/mat�rias ou em outra institui��o de ensino; e 7% s� fariam o curso atual com outra bolsa ou outro cr�dito. A pesquisa tamb�m demonstrou um novo momento do pa�s: 65% dos alunos que usaram o cr�dito eram os primeiros da fam�lia a cursar a educa��o superior.
Emiro Barbini, presidente do Sindicato das Escolas Particulares de Minas Gerais (Sinep-MG), acredita que o cr�dito educativo pode reduzir a evas�o escolar consideravelmente, para perto de 30%. Ele tamb�m aponta que pol�ticas de financiamento estudantil pagas com o trabalho do estudante no servi�o p�blico, ap�s a formatura, t�m impacto positivo. “Essas pol�ticas deveriam ser ampliadas para diversas �reas al�m da sa�de, onde est�o hoje concentradas.”
CURSO CERTO Roberto Lobo, presidente do Instituto Lobo para o Desenvolvimento da Educa��o, da Ci�ncia e da Tecnologia, diz que outro efeito positivo do cr�dito sobre a evas�o � que ele leva o estudante a escolher o curso que realmente quer fazer, em vez de optar por aquele que tem custo menor. “Uma outra raz�o da evas�o � a escolha errada na educa��o superior.”
Estudioso do tema, Lobo diz ainda que, para o governo cumprir suas metas de elevar o percentual de estudantes entre 18 e 24 anos no ensino superior, outro investimento forte ter� que ocorrer no ensino m�dio, que abastece a gradua��o com estudantes, mas que tamb�m sofre com taxa de evas�o pr�xima a 50%. Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estat�stica (IBGE), 7,9% da popula��o brasileira tem curso superior. (MC)
Fi�s
O Fundo de Financiamento Estudantil (Fies) � um programa do Minist�rio da Educa��o destinado a financiar a gradua��o na educa��o superior de estudantes matriculados em institui��es privadas. Podem recorrer ao financiamento os estudantes matriculados em cursos superiores que tenham avalia��o positiva nos processos conduzidos pelo Minist�rio da Educa��o. Criado em 2010, o Fies j� promoveu contratos de financiamento para 760 mil estudantes. Este ano foram cerca de 160 mil contratos e o volume total de recursos investidos chegou a quase R$ 25 bilh�es at� o fim de 2012. Os financiamentos s�o feitos com o Banco do Brasil e com a Caixa Econ�mica Federal. A taxa efetiva de juros do Fies � de 3,4% ao ano para todos os cursos, segundo dados do Minist�rio da Educa��o.