A perversa combina��o entre infla��o alta e minguado crescimento est� destruindo a confian�a dos consumidores em rela��o � economia. Pior: elevou, de forma substancial, o temor de aumento do desemprego. Segundo a Confedera��o Nacional da Ind�stria (CNI), o �ndice Nacional de Expectativa do Consumidor (Inec) caiu 3,5% em junho na compara��o com maio, para os 110,1 pontos, o n�vel mais baixo desde junho de 2009, quando o Brasil ainda se debatia para sair do atoleiro no qual se meteu depois do estouro da bolha imobili�ria nos Estados Unidos.
Nos c�lculos da CNI, s�o levados em considera��o seis indicadores: estimativa de infla��o, expectativa de desemprego, renda pessoal, situa��o financeira, endividamento e compra de bens de maior valor. Todos os componentes do Inec ca�ram neste m�s. Segundo a pesquisa, mais da metade (52%) dos entrevistados acredita em eleva��o do desemprego nos pr�ximos meses, ante 41% em maio. O levantamento mostra ainda que mais de dois ter�os esperam aumento da infla��o. Com isso, o otimismo com rela��o � renda caiu 1,1% e o �ndice que revela a disposi��o dos consumidores para comprar produtos de maior valor cedeu 3,6%.
Na capital mineira, o �ndice de Confian�a do Consumidor (ICC), medido pela Funda��o Ipead, �rg�o respons�vel pela apura��o do �ndice de pre�os em Belo Horizonte e vinculado � Universidade Federal de Minas Gerais, tamb�m apresentou queda. Em junho, a retra��o foi de 5,39%, na compara��o com maio. No acumulado deste ano, a queda � de 13,67%. Ainda de acordo com o Ipead, outro item que apresentou varia��o negativa foi a pretens�o de compra, que recuou 7,01%, em rela��o a maio. Embora o momento seja de conten��o de gastos, o �ndice apurou ainda que entre grupos que lideram a lista dos bens e servi�os que os consumidores desejam adquirir est�o ve�culos (14,29%), vestu�rio e cal�ados (12,38%), m�veis (10,95%) e eletr�nicos (7,14%).
“Esse quadro de desconfian�a n�o me surpreende”, disse o economista S�lvio Campos Neto, da Consultoria Tend�ncias. “Do ponto de vista das fam�lias, tudo piorou. A infla��o continuou subindo, corroendo o poder de compra dos trabalhadores, o endividamento alcan�ou patamar recorde e o mercado de trabalho j� n�o apresenta o dinamismo do passado”, assinalou. Como n�o h� perspectiva de melhora t�o cedo, a tend�ncia � de piora do sentimento da popula��o.
Para Alexandre P�voa, presidente da Canepa Asset Management, o medo dos trabalhadores pode se tornar realidade no segundo semestre. Como, nos �ltimos dois anos, a economia cresceu muito pouco, as empresas preferiram sacrificar parte dos ganhos para n�o cortar funcion�rios, uma vez que demiss�es custam caro no Brasil. O problema � que as margens de lucro diminu�ram demais e, como a atividade n�o deslanchar� — o crescimento ficar� abaixo de 3% —, as companhias tender�o a reduzir o quadro de pessoal. “Por isso, o desemprego ser� maior nos pr�ximos meses”, assinalou.
Precau��o A alta nos pre�os em itens de supermercado e roupas foi o que mais chamou a aten��o da auxiliar de escrit�rio Marciene Sousa, que mora em Ipatinga e passou por Belo Horizonte ontem. “Estou impressionada com os pre�os. Antes fazia compras aqui, mas agora s� posso comprar o que � essencial”, afirma. Com a economia brasileira caminhando em corda bamba a prioridade, segundo ela, � manter a vida financeira da fam�lia organizada, sem o ac�mulo de d�vidas. “Como a gente nunca sabe se os pre�os e os juros v�o subir, optei por parar de consumir. S� compro quando tenho dinheiro e procuro fazer poucas presta��es no cart�o.”
Com a infla��o pressionando seus ganhos, o aposentado Elio da Silva tamb�m n�o quer fazer d�vidas. Para ajustar o or�amento, os itens sup�rfluos foram os primeiros a serem riscados da lista. “O lazer ficou em segundo lugar. Antes fazia mais viagens e passeios com a minha fam�lia”, lembra. A principal justificativa para a mudan�a de h�bitos, segundo ele, � o cen�rio econ�mico pouco animador. “A sensa��o � de que o pa�s tem crescido menos e o nosso poder de compra est� reduzido. Ent�o a gente fica com medo de n�o ter como honrar as presta��es e d�vidas”, comenta.
Vendas Prova de que os consumidores est�o cada vez mais cautelosos na hora de comprar � o esvaziamento j� sentido no com�rcio. Luana Rodrigues Pereira, gerente de uma loja de cal�ados h� quatro anos, reclama da maior baixa nas vendas dos �ltimos anos. “Antes, as pessoas vinham e compravam um sapato para cada membro da fam�lia. Agora, quando v�m, compram o que precisam e v�o embora”, conta. “Desde dezembro o movimento caiu muito. Esper�vamos que isso fosse ser revertido depois do primeiro trimestre, mas n�o foi o que aconteceu”, acrescenta. Nem mesmo as datas comemorativas, como Dia das M�es e Dia dos Namorados, salvaram o faturamento. “O com�rcio est� muito ruim. As pessoas est�o endividadas e com medo da infla��o”, conclui a gerente.
Pessimismo no com�rcio � menor
O �ndice de Confian�a do Com�rcio (Icom) da Funda��o Getulio Vargas registrou m�dia no trimestre terminado em junho 3% inferior � de igual per�odo de 2012. A m�dia do indicador trimestral fechado em maio havia apurado uma retra��o de 3,6% frente a igual trimestre do ano passado. De acordo com a FGV, a queda de junho foi determinada inteiramente pela melhora de expectativas em rela��o aos pr�ximos meses, sugerindo ritmo ainda mais moderado de atividade no segundo trimestre, com acelera��o gradual do n�vel de atividade econ�mica no terceiro trimestre.
A FGV informou que o �ndice de Expectativas (IE-com) recuou 2,5% no trimestre encerrado em junho, resultado mais favor�vel do que a retra��o de 4,3% verificada em maio. Na mesma base de compara��o, o �ndice da Situa��o Atual (ISA-COM) apresentou queda de 2,9% em junho, ante os 2,6% de maio. Quatro dos cinco n�veis de agrega��o pesquisados pela FGV evolu�ram favoravelmente. O indicador de varejo restrito passou de queda de 6,2% em maio para retra��o de 5,7% em junho. O segmento material para constru��o passou de recuo de 4,8% para baixa de 3,2% no mesmo per�odo. Na mesma compara��o, o �ndice de confian�a de setor de ve�culos, motos e pe�as saiu de 4,2% para 2,4%.
Pre�os Mesmo com a pequena melhora na confian�a, redes varejistas fizeram um “pacto” para n�o repassar aos consumidores o aumento nas al�quotas do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) para m�veis e produtos de linha branca, como geladeira e fog�o. O fim dos descontos no IPI, que foram concedidos a partir de dezembro de 2011, estava previsto para este m�s. Na noite de ontem, o governo anunciou que as al�quotas v�o subir gradualmente a partir de segunda, at� atingir os seus valores integrais em setembro.
Segundo o Instituto para Desenvolvimento do Varejo (IDV), representantes das 42 empresas associadas estiveram reunidos ontem e fizeram um acordo para n�o repassar o aumento do tributo para os pre�os. Em troca, o setor pede que a medida provis�ria que trata da desonera��o da folha de pagamento entre na pauta do Congresso Nacional na ter�a-feira.
CONJUNTURA