
O comparativo considera quatro licita��es feitas pela Infraero neste ano para compor o rol de 12 empreendimentos de alimenta��o e os valores pedidos por imobili�rias, segundo pesquisa feita pela Funda��o Instituto de Pesquisas Econ�micas Administrativas e Cont�beis de Minas Gerais (Ipead/UFMG). A licita��o com valores mais exorbitantes refere-se ao espa�o de 67,36 metros quadrados para a instala��o de uma rede de sandu�che fast food. Pela �rea, a Infraero vai receber R$ 76 mil durante 84 meses (tempo do contrato assinado em abril). Ou seja, o aluguel do metro quadrado sai a R$ 1.128,26.
Na outra ponta, na loca��o de uma loja de frente em um bairro de luxo de BH (�rea e tipo de im�vel mais caros entre os pesquisados pelo Ipead-UFMG) o metro quadrado sai por R$ 45,92. Considerando a mesma �rea proposta pela Infraero, o aluguel sairia por R$ 3.093 ao m�s. Mas, se a prefer�ncia for por alugar um im�vel em um bairro popular, � poss�vel achar casas comerciais com o metro quadrado de R$ 11,94. Repetindo a compara��o, desta vez o valor mensal da loca��o sairia por R$ 804,27.
A explica��o, segundo o diretor de Rela��es Institucionais da Associa��o Brasileira de Lojistas de Shopping (Alshop), Lu�s Augusto Ildefonso, � que “a velocidade de vendas � absurdamente maior”, devido ao grande fluxo de passageiros e tamb�m ao fato de que � quase certo o consumo de boa parte deles, uma vez que s�o obrigados a chegar com certa anteced�ncia para o voo e a maioria dos terminais s�o distantes das regi�es centrais. � o caso de Confins – terminal mais distante do Centro entre os principais aeroportos do pa�s.
A consequ�ncia: � espera de um voo, a professora Ana Paula Montandon de Oliveira n�o teve escolha e foi obrigada a pagar R$ 20 por uma lata de suco e um croissant recheado com presunto. “� tr�s vezes mais caro que em qualquer lugar. O passageiro sai de casa mais cedo para voar; no avi�o, a empresa cobra pela comida e ainda � ruim”, diz.
Desequil�brio
Segundo a Alshop, que representa lojas como Lacoste e Pizza Hut, at� o ano passado a loja do McDonald’s no aeroporto de Guarulhos era a que mais vendia do pa�s. Mesmo assim, acaba que o custo de opera��o faz com que a receita l�quida seja bem menos interessante que as de shoppings. Tanto que em nome dos lojistas a associa��o j� tentou negociar com a Infraero a redu��o dos custos. “O valor � definido de acordo com o interesse do passageiro naquela loja, mas a Infraero acaba se tornando um ‘importante s�cio’ do neg�cio”, reclama Ildefonso, que classifica o investimento como “brutalmente desfavor�vel”.
No caso das redes internacionais de fast food, a explica��o para a alta de vendas se d� tamb�m pelo fato de que elas s�o obrigadas a manter os pre�os vigentes em outras lojas. Por outro lado h� os lojistas que criam empresas para operar somente nos aeroportos e colocam pre�os altos para cobrir os custos operacionais. O resultado � que muitos preferem comer sandu�ches e pizzas em detrimento de outros alimentos.
Na tentativa de acirrar a concorr�ncia entre os estabelecimentos, e por consequ�ncia reduzir os pre�os de alimentos, a Infraero criou no ano passado um formato de lanchonete popular. As sete primeiras j� operam nos aeroportos de Curitiba e Londrina (PR), Recife (PE), Porto Alegre (RS), Natal (RN), Congonhas (SP), Salvador (BA) e Santos Dumont (RJ).
A gerente comercial e de log�stica de cargas da Superintend�ncia Regional do Sudeste da Infraero, Eliana Marcia dos Santos Abreu, afirma que os valores usados nas licita��es s�o baseados no mercado, considerando o volume de pessoas que circula diariamente no aeroporto. “Por dia, passam 30 mil pessoas por ali. N�o d� para comparar com loja de bairro.” Ela diz que os par�metros s�o os shoppings, onde, segundo ela, a m�dia de valor para loca��o varia de R$ 180 a R$ 200 por metro quadrado, levando em conta o fluxo de 35 mil pessoas/dia. Mesmo com movimento menor, a Infraero adota em seus editais a m�dia de R$ 288 – 44% superior � m�dia citada como base. “� bem p� no ch�o. O mercado que dita a regra”, diz Eliana.
Mas desde o in�cio do ano duas licita��es terminaram desertas – de uma cafeteria e do restaurante “popular”. Depois de conversas com o “mercado”, novos editais devem ser publicados ainda este ano com valores novos, menores que os anteriores. Segundo a Infraero, s�o casos isolados. Como argumento � citado o �gio obtido em uma confeitaria. A pedida inicial era de R$ 12 mil pelo espa�o, mas os interessados assinaram contrato pagando R$ 52 mil – 333% a mais.
Por dentro as contas
Por se tratar de um aeroporto com baixo fluxo de voos internacionais, a receita n�o tarif�ria (valor que exclui as taxas cobradas de companhias a�reas e passageiros) de Confins fica abaixo da m�dia mundial. Em 2012, 32,6% do faturamento veio de receitas como alugu�is, estacionamento, lojas francas e propagandas, entre outros, totalizando R$ 56,5 milh�es, segundo o estudo de concess�o disponibilizado pela Ag�ncia Nacional de Avia��o Civil (Anac). Em contrapartida, a compensa��o pode ser sentida no setor de alimentos e bebidas. A m�dia de gasto por passageiro � de US$ 3,42, superior � m�dia mundial de US$ 3,31, segundo a empresa de consultoria norte-americana LeighFisher. No Gale�o, onde a frequ�ncia de voos para outros pa�ses � bem maior, a m�dia � menos que a metade – US$ 1,57.
A categoria alimentos e bebidas � a quarta com maior faturamento em Confins, atr�s dos rendimentos com o estacionamento (31,1%), alugu�is (13,9%) e tarifas de combust�vel (10,7%). No ano passado, o setor rendeu R$ 5,8 milh�es � Infraero – o montante n�o considera o valor pago por bancas de revista, farm�cias, tabacarias e outros empreendimentos inclu�dos na categoria alugu�is. A concess�o das opera��es � iniciativa privada deve aumentar essa participa��o, com crescimento da gama de servi�os. Diz o texto do relat�rio de avalia��o econ�mico-financeira disponibilizado pela ag�ncia reguladora: “Consideramos que o novo operador do aeroporto desenvolver� concess�es de restaurante adicionais e melhorar� a variedade de servi�os dispon�veis nas �reas de embarque”.
A perspectiva tra�ada estabelece que em 2043 (�ltimo ano do contrato de concess�o) a receita gerada por alimentos e bebidas ser� de R$ 67,2 milh�es. Para isso, a Anac cita tr�s fatores a serem considerados: expans�o do terminal, o que representa mais �reas dispon�veis para loca��o; implementa��o de plano abrangente de alimentos e bebidas, e melhoria da sele��o de inquilinos e pr�ticas de contrata��o. A proje��o � de certa forma modesta. De 2008 at� o ano passado, a receita variou 866%, enquanto em tr�s d�cadas a expectativa � de 1.058%. (PRF)