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Estado de Minas

Renda de fam�lias em favelas atrai empresas

De olho no poder de consumo de moradores de favelas, que gastam por ano R$ 56 bilh�es, empres�rios querem neg�cios nos aglomerados. Quem j� est� por l� busca formaliza��o


postado em 27/07/2013 06:00 / atualizado em 27/07/2013 07:10

Josiane Pereira e Maurício Souza inovaram e comercializam espetinhos de churrasco no cartão de crédito: vendas aumentaram mais de 350%(foto: TÚLIO SANTOS/EM/D.A PRESS)
Josiane Pereira e Maur�cio Souza inovaram e comercializam espetinhos de churrasco no cart�o de cr�dito: vendas aumentaram mais de 350% (foto: T�LIO SANTOS/EM/D.A PRESS)
Os empres�rios de shoppings populares come�am a preparar o terreno para ganhar dinheiro dentro de favelas, que consomem cerca de R$ 56 bilh�es ao ano no pa�s, segundo levantamento do Data Popular, instituto que pesquisa a baixa renda no Brasil. O estudo mostrou que boa parte das vendas ocorre dentro das comunidades e que a classe m�dia j� representa 65% dos moradores das vilas e a baixa 32%. Em 2002, essa propor��o era inversa: a classe m�dia respondia por 37% dos habitantes e a baixa por 60%.


A Favela Holding S.A., que tem como objetivo ser a porta de entrada do mundo empresarial nas favelas, identificou duas �reas no Aglomerado da Serra e uma no Morro do Papagaio, ambos na Regi�o Centro-Sul de Belo Horizonte, para construir empreendimentos populares. “Agora s� dependemos da negocia��o com o governo e prefeitura”, afirma Elias Tergilene, ex-camel�, propriet�rio do shopping Uai e da Favela Participa��es, que faz parte da Favela Holding, da qual ele � presidente. Segundo Tergilene, 100% da m�o de obra nos empreendimentos comerciais vai ser local e 60% das lojas vir�o da pr�pria favela. “O mix vai ser formatado de acordo com a necessidade de cada vila. No caso do Morro do Papagaio, o foco vai ser o servi�o. No da Serra, vai ser mercadoria e servi�os”, diz.

A iniciativa da Favela Holding ser� feita de forma integrada com outras entidades, como o Sebrae Minas, que iniciou nesta semana um projeto piloto com consultoria gratuita aos interessados em montar o pr�prio neg�cio  no Aglomerado da Serra. Os novos empres�rios do morro est�o animados e as oficinas geraram algumas indaga��es e conclus�es. “Tenho que aprender a colocar pre�o no meu produto e calcular o valor de custo”. “N�o sei negociar com o meu fregu�s. Fiz uma vitamina na minha lanchonete e vi que ele n�o gostou, pois coloquei leite a mais. Como eu fa�o para cobrar?” “Agora aprendi que preciso detalhar bem com o cliente o que vai ser feito antes de fechar o neg�cio”. “O mercado � formado pelos clientes, fornecedores e concorrentes. � um tri�ngulo”. As frases acima s�o de alunos moradores do Aglomerado da Serra e ditas depois de assistirem �s palestras de orienta��o ao pequeno neg�cio do Sebrae na comunidade. Alguns deles j� formalizaram as empresas, outros est�o a caminho.

O projeto piloto na vila, chamado de Sebrae em A��o, visa prestar consultoria gratuita aos interessados em montar o pr�prio neg�cio. Em seguida a entidade pretende estender o projeto para outras regi�es, como Venda Nova, Barreiro, Taquaril e Alto Vera Cruz, onde h� grande fluxo de empreendimentos informais. O programa j� visitou 1,2 mil empreendedores na vila e formalizou 406 microempres�rios. “Nos morros h� um mercado informal, que fica � margem da economia. Muitas vezes eles n�o conseguem abrir conta em banco e n�o t�m a chance de se qualificar”, afirma M�rcia Val�ria Cota Machado, analista do Sebrae Minas.

Com o Cadastro Nacional de Pessoa Jur�dica (CNPJ) em m�os, a rotina de neg�cios desses empreendedores come�a a mudar. Na barraca de Maur�cio Souza e Josiane Alves Pereira, na regi�o central do Aglomerado da Serra, j� � poss�vel pagar espetinhos de churrasco com cart�o de cr�dito. Os neg�cios do casal, que s�o donos do Maur�cio Espetinhos, mudou depois que eles formalizaram a empresa, h� um ano. Hoje, al�m de serem ambulantes, s�o tamb�m propriet�rios de f�brica de espetos.

As vendas dos espetinhos, comercializados entre R$ 2,50 e R$ 3, saltaram mais de 350% desde que eles se tornaram empres�rios individuais: de 150 unidades por dia, passaram para 600 a 700 unidades di�rias. No come�o, os churrasquinhos do Maur�cio eram vendidos na porta de sua casa. Hoje, o casal est� em um dos pontos mais movimentados da vila e se tornaram refer�ncia na comunidade do Cafezal. “Metade do aglomerado nos conhece”, comemora Josiane.

Marina Fernandes formalizou os negócios há um ano e já vai abrir sua primeira filial no Aglomerado da Serra(foto: TÚLIO SANTOS/EM/D.A PRESS)
Marina Fernandes formalizou os neg�cios h� um ano e j� vai abrir sua primeira filial no Aglomerado da Serra (foto: T�LIO SANTOS/EM/D.A PRESS)
Al�m da comunidade

Com o CNPJ, eles puderam tamb�m comprar carne de melhor qualidade a pre�os menores. Conseguiram ainda adquirir a chapa pr�pria para assar os espetinhos, freezer para colocar na pequena f�brica e financiamento para comprar uma moto, usada no servi�o de tele-entrega. “Temos ainda planos de abrir um bar e eu quero fazer faculdade de gastronomia no pr�ximo ano”, diz Josiane.

A maioria da clientela do casal � do Aglomerado da Serra, mas em 2012 eles conseguiram romper os limites da comunidade. No ano passado, montaram uma barraca durante o evento de jazz Savassi Festival e tamb�m para o BH Music Station. “Depois que participamos desses eventos, fomos contratados para festas particulares e come�amos a pesquisar novos produtos e card�pios”, afirma Josiane.

Na sala com 15 alunos, Priscila Biluca Barbosa observa atenta �s dicas do instrutor na oficina Sei vender. Ela mora no Aglomerado da Serra e trabalha h� cinco anos com artesanato de biscuit. H� quatro anos, montou o pr�prio neg�cio, a Biluca Biscuit. “Queria aperfei�oar mais as estrat�gias para conquistar o cliente. Preciso sondar mais os fornecedores e os concorrentes. As pessoas que trabalham em casa conseguem vender por pre�o menor. Tenho que mostrar a qualidade do meu produto”, afirma. Ela aprendeu ainda na oficina que em algumas pe�as pode ter lucro menor, em outras n�o.

Desde que formalizou o neg�cio, Priscila conta que as vendas de artesanato dobraram. “S� n�o cresceram mais porque estou investindo na loja”, afirma. H� tr�s meses, ela come�ou a treinar uma funcion�ria para trabalhar com ela. Em agosto, inaugura sua primeira filial na vila.

CNPJ n�o ‘assusta’ mais

De in�cio, a sigla CNPJ assustou um pouco a empreendedora Marina C�ndida Coelho Fernandes, dona da loja de acess�rios femininos Super Bonita, no Aglomerado da Serra. “Quando me falaram que eu precisava de CNPJ para ter uma m�quina de cart�o de cr�dito, logo pensei: o que � isso? � coisa de empresa grande. Fiquei desanimada e achei que seria complicado abrir o neg�cio pr�prio”, afirma. Ela trabalha h� sete anos no com�rcio e h� um ano conseguiu formalizar a pr�pria empresa. “N�o demorou nem dois dias, achei que seria mais burocr�tico”, conta.

A aptid�o para o com�rcio acompanha Marina desde a adolesc�ncia. Aos 13 anos, ela j� trabalhava com com�rcio informal no aglomerado. Aos 24 anos montou o neg�cio pr�prio. O primeiro ficava em �rea de 8 metros quadrados. H� pouco tempo, ela mudou para outro ponto, em �rea duas vezes maior, de 16 metros quadrados. E agora se prepara para abrir a primeira filial da loja. “O fato de eu morar aqui na regi�o ajuda no contato com os clientes. Eles j� me conhecem, t�m envolvimento maior. Como convivo com as pessoas, sei o que um ou outro gosta”, diz.

Mesmo depois de 20 anos dedicados � confec��o de lingerie, a costureira Elzeni Alves Pereira Reis andou um pouco desanimada com o neg�cio, que ainda era informal, dentro da pr�pria casa. Depois de ficar cinco anos ociosa, ela foi incentivada a voltar ao mercado pela equipe do BH Neg�cios. Em setembro de 2012 montou a pr�pria empresa. Em dezembro passado, saiu de casa e abriu sua loja. “Comprei balc�o e manequim de mostru�rio. Com o CNPJ, consegui adquirir produtos com pre�o e qualidade melhores”, afirma Elzeni. E o resultado veio nos neg�cios, que cresceram em torno de 80% a 90% em rela��o ao per�odo que trabalhava em casa.

Servi�os em alta

Os trabalhadores do setor de servi�o tamb�m buscam ter o pr�prio neg�cio, como � o caso do pintor Paulo M�rcio da Silva. Ele acaba de formalizar a sua empresa. “Eu achava que abrir a firma era uma coisa de outro mundo. Mas � muito simples. N�o gosto de ser mandado, deveria ter feito isso h� muito tempo”, afirma. Ele conta que na oficina de empreendedorismo aprendeu, por exemplo, a detalhar bem com o cliente o que vai ser feito antes de fechar o neg�cio. “Eu queria entender como o setor de servi�os combina pre�o. Os s�ndicos dos pr�dios, por exemplo, sempre pedem o CNPJ do neg�cio para ter seguran�a maior”, diz. (GC) 


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