Em um dia em que o Banco Central (BC) tentou de tudo para trazer o d�lar para baixo, foi a a��o do Federal Reserve (Fed), a autoridade monet�ria dos Estados Unidos, que conseguiu interromper a escalada da moeda sobre o real. Ap�s superar a casa dos R$ 2,30 durante o preg�o, a divisa norte-americana encerrou ontem cotada a R$ 2,278, com leve alta de 0,13%. No m�s, a valoriza��o � de 2,27% e, desde maio, j� chega a 14%.
A disparada s� n�o foi maior porque o BC realizou, ainda durante a manh�, tr�s leil�es de troca de d�lares, em opera��es que funcionam como uma esp�cie de venda de moeda no mercado futuro. Mesmo essas opera��es foram insuficientes para reverter a tend�ncia de alta da divisa, o que s� aconteceu durante a tarde, quando um comunicado do Comit� de Pol�tica Monet�ria do Fed levou tranquilidade aos investidores de todo o mundo.
Na nota, a institui��o refor�ou a decis�o de manter a pol�tica de compras de t�tulos soberanos, o que, na pr�tica, significa uma inje��o de US$ 85 bilh�es por m�s na economia dos Estados Unidos. Tamb�m anunciou que manteria a taxa b�sica de juros entre zero e 0,25% ao ano. Na pr�tica, uma eventual subida dessa taxa significaria o fim da farra do dinheiro barato em todo o mundo, o que poderia levar a uma fuga de aplica��es em pa�ses emergentes, como o Brasil.
Mesmo que isso venha de fato a ocorrer, analistas preveem que n�o h� outro caminho para o d�lar que n�o seja a valoriza��o. Dessa forma, o que hoje � visto como o teto da moeda, os R$ 2,30, pode passar a ser, em breve, o novo piso. “A gente j� viu o d�lar superar a barreira dos R$ 2, dos R$ 2,10 e, agora, dos R$ 2,30. Como esse movimento de alta � mundial, em caso de piora da situa��o econ�mica l� fora, � bem poss�vel que o c�mbio assuma facilmente esses R$ 2,30 como um novo patamar”, disse o economista-chefe do Banco ABC Brasil, Luis Ot�vio de Souza Leal.
Juros
Faz cinco anos, desde a crise de 2008, que a taxa de juros nos Estados Unidos n�o rompe o patamar de 1%. Al�m disso, depois da piora da situa��o na Europa, o Fed passou a adotar um plano de compra de t�tulos hipotec�rios, que sofreram grande desvaloriza��o ap�s a crise de 2008, e de pap�is da d�vida do governo norte-americano.
Com a sinaliza��o de que os juros continuar�o baixos pelo menos por ora, quem estava apostando em uma alta mais forte das taxas tamb�m no Brasil passou a rever suas an�lises. Foi o que aconteceu, por exemplo, no mercado de juros futuros. Ontem, assim que o d�lar rompeu a casa dos R$ 2,30, houve um aumento das apostas de alta nas taxas no pa�s, principalmente com contratos com vencimento em janeiro de 2014. Esse movimento foi revertido logo em seguida, ap�s o comunicado do Comit� Federal de Mercado Aberto (Fomc, na sigla em ingl�s) – o Comit� de Pol�tica Monet�ria (Copom) dos EUA. Com isso, os juros futuros encerraram o dia em estabilidade nos principais contratos.
A avalia��o dos analistas � que, mesmo ap�s sinais claros de retomada da principal economia do mundo, a percep��o do governo norte-americano seja a de que essa recupera��o ainda n�o atingiu o ritmo adequado, mesmo ap�s sucessivos incentivos adotados. Por isso, a divulga��o, tamb�m feita ontem, de que o Produto Interno Bruto (PIB) dos EUA cresceu 1,7% no segundo trimestre de 2013 n�o surtiu o efeito esperado sobre os mercados. Apesar de o n�mero ter vindo muito acima do esperado – o mercado apostava em uma alta bem mais moderada, de 0,9% –, h� uma percep��o de que o Fed considere que ainda falta muito a ser feito.
Bras�lia – O diretor-executivo do Fundo Monet�rio Internacional (FMI) Paulo Nogueira Batista criticou a ajuda financeira da institui��o � Gr�cia. Na segunda-feira, o Fundo aprovou a libera��o de US$ 1,7 bilh�o como parte de um programa de reestrutura��o econ�mica que inclui aportes da Uni�o Europeia e do Banco Central Europeu — em conjunto, eles comp�em a chamada troika.
O novo cr�dito eleva para US$ 37,6 bilh�es o total de empr�stimos do FMI ao pa�s. Nogueira Batista teme que os gregos n�o consigam ressarcir o Fundo. “Os recentes acontecimentos na Gr�cia confirmam alguns de nossos maiores temores. A implementa��o (das medidas de recupera��o) tem sido insatisfat�ria em quase todas as �reas; estimativas de crescimento e da sustentabilidade da d�vida continuam excessivamente otimistas”, afirmou o diretor-executivo em um texto publicado ontem.
Ele criticou as privatiza��es “quase paralisadas” e afirmou que documentos do fundo est�o a um passo de “contemplar a morat�ria ou atraso nos pagamentos das obriga��es da Gr�cia ao FMI”. A avalia��o divergiu da que foi manifestada pelo chefe da miss�o do organismo multilateral � Gr�cia, Rishi Goyal, para quem “a economia grega est� se reequilibrando a um ritmo not�vel”.
Indicado pelo Brasil, Nogueira Batista representa um grupo de 11 pa�ses no FMI. Mas esclareceu que suas ressalvas em rela��o � ajuda n�o refletem necessariamente a posi��o do governo. “Fa�o as declara��es como membro da diretoria do FMI, que tem, entre outras obriga��es, a de zelar pela integridade da institui��o. No meu entender, o programa da troika para a Gr�cia coloca em risco a integridade reputacional e at� mesmo financeira do Fundo”, afirmou Nogueira Batista. Ele explicou que os diretores-executivos t�m um duplo mandato: a representa��o dos pa�ses no FMI e a pr�pria governan�a da institui��o.
Entre os cr�ticos do excesso de rigor nas exig�ncias que t�m sido feitas aos gregos est� a presidente Dilma Rousseff. “Eu n�o acredito numa sa�da que simplesmente obrigue a Gr�cia (…) a cortar todo o seu funcionalismo p�blico, vender o Parthenon. Al�m de vender o Parthenon, o que mais ela pode vender? As ilhas gregas? Eu n�o acho que essa solu��o seja correta”, ironizou Dilma em 2011, a jornalistas em Nova York.
Mais tarde, em diversos momentos, a presidente afirmou que o programa de cortes de gastos p�blicos impostos � Gr�cia assemelham-se aos que foram feitos ao Brasil e a outros pa�ses latino-americanos nos anos 1980. Elas foram equivocadas, segundo Dilma, porque reduziram o crescimento econ�mico, atrasando ainda mais o equil�brio. Na �poca, o Brasil tinha de aceitar imposi��es do FMI, do qual era devedor. Hoje, o pa�s � credor.
Nogueira Batista disse que a preocupa��o com o efeito das medidas de ajuste na economia grega � relevante e que remete a casos do passado. “Concordo que o rigor fiscal � excessivo. H� alguma semelhan�a com situa��es passadas na Am�rica Latina, notadamente com a Argentina na �poca da Lei de Conversibilidade.”
O diretor-executivo esclareceu, por�m, que n�o defende maior sacrif�cio por parte dos gregos, e sim que os europeus assumam maior responsabilidade na ajuda ao pa�s, impedindo que o FMI sofra um calote.
“N�o vejo como come�ar a superar a crise da Gr�cia sem al�vio substancial na carga de endividamento com o setor oficial da �rea do euro, que det�m a maior parte da d�vida soberana do pa�s. O status de credor preferencial do FMI deve ser preservado, no meu entender”, ponderou.