Bras�lia – Depois de tr�s anos de crescimento frustrante, infla��o pr�xima ao teto da meta, as fam�lias, que est�o com 45% da renda anual comprometida (maior n�vel da hist�ria), podem ser atropeladas pelo aumento dos juros b�sicos (Selic) e do desemprego. A esse cen�rio, soma-se ainda a disparada do d�lar, que bateu em R$ 2,4140 ontem, na sexta alta seguida apesar da atua��o do Banco Central, e tem potencial para piorar o custo de vida em mais de 1 ponto percentual. Al�m disso, a alta da divisa tem estrangulado o caixa da Petrobras, o que pode levar a reajustes de combust�veis ou mesmo impedir investimentos no pr�-sal.
Desatar todos esse n�s, al�m de ser complexo, vai exigir que o governo se desdobre em di�logos n�o apenas com agentes pol�ticos, mas tamb�m com os participantes do mercado financeiro. A condu��o da economia, at� agora, segue mergulhada em descren�a e tem sido alvo de ataques e cr�ticas de economistas.
“Do lado fiscal confesso que j� joguei a toalha. Pouco prov�vel que haja uma evolu��o. O pr�prio Guido Mantega (ministro da Fazenda) declarou que a pol�tica fiscal � neutra, quando o BC insiste que � expansionista”, observou Alexandre P�voa, economista-chefe da Canepa Asset. “Eles n�o falam a mesma l�ngua em rela��o a isso”, criticou. A falta de credibilidade do mercado em rela��o �s contas p�blicas tem sido tamb�m o principal ingrediente para que a desvaloriza��o do real frente ao d�lar fique acima das demais moedas de pa�ses emergentes.
A desconfian�a levou a uma sa�da de capital estrangeiro do pa�s, sobretudo da bolsa de valores. Esses investidores, segundo especialistas, est�o desmontando suas apostas no Brasil. A BlackRock, maior gestora de recursos do mundo, reduziu sua participa��o em tr�s empresas brasileiras: Cia Hering, Usiminas e CCR. Essa sa�da de investidores tem significado tamb�m sa�da de d�lares do pa�s e levado a uma valoriza��o do d�lar frente ao real. No mundo, segundo um estudo da DX Investimentos, de 35 divisas, a brasileira s� n�o perdeu mais valor que a moeda da �frica do Sul.
Ontem, mesmo depois de o BC desaguar US$ 4 bilh�es no mercado, o d�lar subiu 0,83% e fechou o dia a R$ 2,4140 na venda. No ano, a institui��o fez quase 60 interven��es (opera��es swaps), que geraram um volume financeiro de R$ 53,8 bilh�es.
Press�o eleva a proje��o da selic
Somando �s perspectivas de desacelera��o da economia, os t�tulos p�blicos do governo brasileiro sofreram com esse cen�rio e o aumento das apostas de que os juros dever�o subir. O Tesouro Nacional foi obrigado a intervir no mercado e fazer duas opera��es de recompra que somaram R$ 1,6 bilh�o. Dos nove t�tulos com vencimento at� 2019, o �rg�o conseguiu comprar apenas tr�s tipos: a LTN de julho de 2016 e as NTN-F de janeiro de 2018 e de 2019.
Fontes do Tesouro, entretanto, asseguram que essa instabilidade do mercado � causada exclusivamente “por quest�es externas”. A melhora dos indicadores macroecon�micos dos Estados Unidos e as especula��es em rela��o � sucess�o de Ben Bernanke no comando do Federal Reserve (Fed, o Banco Central dos EUA) s�o os principais motivos apontados para a recente virada no c�mbio.
Com a escalada do d�lar, o mercado come�a a refazer para cima as previs�es em torno da alta de juros (Selic) at� o fim de 2013. A aposta � que o Comit� de Pol�tica Monet�ria (Copom) do Banco Central eleve a taxa b�sica de juros em 0,50 ponto percentual na pr�xima semana, dos atuais 8,50% para 9% ao ano. Com a medida, a institui��o tenta minimizar o impacto da alta do d�lar sobre o real na infla��o. Se a eleva��o da divisa observada recentemente for mantida, pode haver impacto de mais de 1 ponto percentual no �ndice de Pre�os ao Consumidor Amplo (IPCA), a carestia oficial.
Expectativa Nas duas �ltimas reuni�es do ano da diretoria do BC – uma no in�cio de outubro e outra no fim de novembro –, a autoridade monet�ria deve manter o processo de aperto, acreditam os analistas. O Boletim Focus, divulgado ontem, apontou a mesma expectativa de quatro semanas atr�s para a Selic de 2013: 9,25%. No entanto, se fortalece no mercado a cren�a em um percentual na casa dos dois d�gitos.
Ontem � tarde, por exemplo, 40% dos investidores no mercado futuro apostavam em um aumento da Selic, at� o fim de 2013, para um n�vel de at� 10% ao ano. “Ficou claro, nas �ltimas tentativas, que as interven��es feitas pelo BC no mercado de c�mbio perderam efic�cia. A combina��o de d�lar alto e infla��o vai jogar os juros para cima, n�o h� alternativa”, argumentou Eduardo Velho, economista-chefe da Invx Global Partners.
Luis Otavio de Souza Leal, economista-chefe do banco ABC Brasil, avalia que a Selic chegar� ao fim de 2013 a, no m�nimo, 9,5% ao ano. Ele pondera, entretanto, que, se o d�lar continuar a subir, o BC poder� intensificar os ajustes. “O c�mbio virou o grande term�metro para os juros. E, por essa raz�o, n�o vejo motivo algum para o Banco Central paralisar o aumento da Selic”, disse.
Para Leonardo Figueir�, vice-presidente do World Trade Center Brasil e respons�vel pelo clube de neg�cios em Belo Horizonte, as oscila��es do c�mbio geram inseguran�a aos investimentos no pa�s. “Tem um pessimismo instalado. H� 10 anos n�o via um sentimento assim t�o forte. Tem muito empres�rio achando que n�o d� mais para recuperar 2013 e querendo focar em 2014, mas ainda estamos em agosto”, observa. “Essa mudan�a de regras do jogo a toda hora n�o � boa”, acrescenta.
Desacelera��o Em meio a todo esse cen�rio, o mercado n�o para de reduzir as proje��es para o Produto Interno Bruto (PIB) de 2013 e de 2014. “A gente vai ter uma atividade mais fraca no pr�ximo ano. Isso vai ter impacto no emprego”, frisou P�voa, da Canepa Asset. Na vis�o dele, 9,75% ao ano � o limite do Banco Central nesse processo de ajuste monet�rio. “Ele vai at� esse percentual em fun��o da sua n�o independ�ncia. Levar a dois d�gitos causaria um barulho pol�tico enorme e acho que o BC n�o tem mandato para isso”, criticou. (Com Graziela Reis)