A disparada na libera��o de recursos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econ�mico e Social (BNDES) para empr�stimos no primeiro semestre fez o peso da institui��o saltar para n�veis recordes, respondendo por um quinto dos investimentos totais na economia.
Para o governo, trata-se da atua��o “antic�clica” do banco de fomento, no sentido de garantir crescimento ou impedir retra��o em �pocas de atividade econ�mica fraca. Alguns economistas, no entanto, criticam os custos elevados da estrat�gia, para um efeito considerado limitado, pois a taxa de investimento n�o decola.
Os R$ 88,3 bilh�es liberados de janeiro e junho pelo BNDES representam 20,6% dos investimentos, ante 13,7% em todo o ano de 2012, mostra estudo do Instituto Brasileiro de Economia da Funda��o Getulio Vargas (Ibre/FGV), feito a pedido do jornal O Estado de S. Paulo.
Na participa��o total do PIB, os desembolsos do BNDES pesaram 4,2% nos �ltimos 12 meses at� junho, voltando ao mesmo n�vel de 2009, no auge da crise, quando o arsenal de medidas do governo para evitar uma retra��o maior da economia funcionava a pleno vapor.
Em nota, o banco atribui 55% do aumento dos empr�stimos no primeiro semestre ao Programa de Sustenta��o do Investimento (PSI), que classifica como provis�rio e que est� em vigor h� quatro anos. Tamb�m frisa que “os recursos s�o operados pelos pr�prios bancos comerciais, preservando a oferta do cr�dito sobretudo para pequenas e m�dias empresas”.
Em entrevista coletiva h� tr�s semanas, o presidente do BNDES, Luciano Coutinho, creditou o crescimento nos desembolsos (alta nominal de 65% em rela��o � primeira metade de 2012) � atua��o “antic�clica”. Hoje, Coutinho destacou o programa federal de concess�es em infraestrutura como chave tanto para impulsionar os investimentos quanto para atrair o financiamento privado para esses aportes.
Segundo ele, a expectativa � alcan�ar uma “eleva��o da taxa agregada de investimento”. “A expectativa depende em alguma medida de executar o programa de concess�es”, disse Coutinho, ap�s participar de evento em S�o Paulo.
No segundo trimestre, a taxa de investimento ficou em 18,6% do PIB. Segundo o IBGE, a taxa variou entre 15% e 16% de 2000 a 2005, quando come�ou a subir aos poucos at� o n�vel de 19%, mas recuou em 2012, para 18,1%. Os n�veis ainda s�o considerados baixos. Para 2013, o BNDES projeta uma taxa de investimento de 19,2% do PIB. Uma proje��o do banco aponta para 22,2% em 2018, com o sucesso das concess�es. Sem isso, a taxa seria de 20,7% em 2018 - mesmo n�vel atingido em 2016, no primeiro cen�rio.
Limita��o
A dificuldade da economia brasileira em consolidar a taxa de investimento acima de 20% do PIB seria um indicativo dos efeitos limitados da expans�o do BNDES, segundo cr�ticos da estrat�gia. Quem defende a a��o costuma lembrar que a queda do investimento ap�s a crise de 2008 seria maior. “Parece que esse modelo, essa leitura do governo, n�o est� agradando ao investidor. Ora ele topa entrar no jogo, ora ele se retrai”, afirmou Gabriel Leal de Barros, pesquisador do Ibre/FGV respons�vel pelo estudo.
Para Barros, a atua��o do BNDES � antic�clica apenas nos momentos de escassez de outras fontes de financiamento, como empr�stimos e capta��es no exterior. Na crise de 2008, essas fontes secaram de forma abrupta, mas voltaram a fluir ao longo de 2009 e nos anos seguintes. Agora, uma nova turbul�ncia est� sendo causada pela expectativa de redu��o dos est�mulos monet�rios por parte do Fed (o banco central norte-americano), atraindo fluxos de capital dos pa�ses emergentes para os EUA.
Por outro lado, segundo o pesquisador do Ibre/FGV, os investimentos s�o afetados por outros fatores, como inseguran�a regulat�ria - mudan�a nas regras de concess�es de gera��o de eletricidade e o vaiv�m do programa de concess�es s�o exemplos - e o ambiente de neg�cios confuso. Al�m disso, para Barros, o governo tem usado o cr�dito barato do BNDES como moeda de troca em sua tentativa de reduzir as taxas de retorno em projetos, como nas concess�es.
J� para Carlos Lessa, professor em�rito do Instituto de Economia da UFRJ e ex-presidente do BNDES, a taxa de investimentos n�o passa dos 19% porque falta ao governo um “projeto nacional”, comunicado ao empresariado. Al�m disso, h� outra explica��o para a dificuldade de sua expans�o ser eficaz: o banco de fomento passou a responder pela aplica��o de recursos de investimento p�blico. Um exemplo s�o os repasses a governos estaduais.
O professor defende a atua��o antic�clica do BNDES, pois, sem ela, a “economia brasileira teria se arrebentado muito mais”. O problema � que a falta de um projeto e idas e vindas nas pol�ticas do governo falam mais alto, segundo Lessa. Colaborou Beatriz Bulla.