Muitas vezes desprezadas, as moedinhas de centavos podem render mais do que se imagina. N�o raramente trocadas por balas no com�rcio ou mesmo ignoradas, elas, contudo, t�m — e muito — valor. A DSOP Educa��o Financeira simulou quanto o consumidor conseguiria lucrar caso aplicasse R$ 0,01 por dia. Se levados em considera��o uma infla��o de 6% ao ano e o rendimento mensal da caderneta de poupan�a a 0,5% ao m�s, em 30 anos seria poss�vel juntar R$ 5 mil (veja arte).
A consultoria estima que cada brasileiro desperdice por ano cerca de R$ 35 por abdicar dos centavos no dia a dia. Al�m disso, aponta que 26% das pessoas deixam os n�queis parados em casa por at� 12 meses. "N�o h� consci�ncia do valor das moedinhas, mas elas tamb�m s�o dinheiro. Fazem parte da renda e podem contribuir bastante para a realiza��o de um sonho, por exemplo", destaca Reinaldo Domingos, presidente da DSOP.
A professora Nanci Fran�a, 55 anos, sabe bem disso. Desde crian�a, ela tem o h�bito de valorizar cada centavo. E a pr�tica de deposit�-los na poupan�a rendeu frutos. Em quatro anos, Nanci conseguiu juntar R$ 50 mil, dinheiro com o qual construiu uma casa. "Quem valoriza o pouco, no fim, tem muito", afirma. A docente conta que j� at� brigou em uma loja porque fez quest�o do troco de R$ 0,05. "A funcion�ria do estabelecimento fez cara feia, como se eu estivesse pedindo um favor. Se estivesse faltando o mesmo valor para comprar o produto, certamente n�o iriam me deixar lev�-lo", reclama.
A servidora p�blica Cristiane Oliveira, 54, tamb�m n�o deixa os centavos para tr�s. Nem que para isso tenha de chamar o gerente do estabelecimento. Para ela, receber bala como troco � inaceit�vel. "Meu dinheiro tem valor e eu cobro mesmo." E n�o adianta o varejista argumentar que n�o tem os n�queis para dar, ressalta. "Uma vez, no supermercado, exigi os R$ 0,05 que estavam faltando. Briguei, e eles vieram com um pacote de moedas. Como n�o tem?", insiste.
Na an�lise de Domingos, esses centavinhos fazem a diferen�a na hora de planejar o or�amento familiar. Para isso, explica ele, � importante que se estabele�a uma meta a atingir com eles, como viajar ou comprar um bem, por exemplo. "� mais f�cil guardar R$ 1 do que R$ 100. No entanto, de pouco em pouco, esse R$ 1 pode se tornar R$ 200, R$ 300. A� � que est� a diferen�a", destaca.
A especialista em finan�as pessoais C�ssia D’Aquino ressalta a import�ncia de colocar as moedinhas em circula��o. "Assim como as c�dulas, elas precisam ser movimentadas. N�o podemos prend�-las em cofrinhos ou ignor�-las", diz. E a quem n�o gosta de carregar os n�queis na carteira ou na bolsa, por causa do peso, ela aconselha: "� poss�vel juntar um pouquinho e trocar por notas".
C�ssia lembra ainda que muitos consumidores n�o conseguem fazer circular as moedas porque as perdem, sobretudo dentro de casa. "Muita gente tem pregui�a de peg�-las, principalmente se forem de baixo valor, como as de R$ 0,01 ou de R$ 0,05", observa. Uma pesquisa do consultor financeiro Pedro Braggio comprova isso. O estudo dele mostra que 80% dos brasileiros fazem pouco caso ao perceberem que h� uma moeda no ch�o, seja na rua ou no domic�lio.
"Geralmente, esse comportamento � observado em pessoas mais jovens. As mais velhas costumam dar mais valor", avalia Braggio. Ele afirma que � comum ver os n�queis jogados em pontos tur�sticos por muitos anos, alguns at� em decomposi��o. "Eles est�o parados, perdidos e fazem falta no mercado. N�o se deve deix�-los de lado", argumenta.
CONSCI�NCIA A comerciante Maria Martins, 56, acredita que valorizar a renda � uma quest�o de cidadania e respeito com o pr�prio bolso. "Quando vejo uma moeda ca�da na rua, eu pego", conta. Al�m disso, ela exige cada centavo de troco quando necess�rio e n�o tem medo de cara feia. "Trabalho no com�rcio e sei que o meu dinheiro � suado." Maria conta que aprendeu a dar valor ao dinheiro depois da onda inflacion�ria dos anos 1980, quando o pre�o das mercadorias mudava de um segundo para o outro.
Hoje, apesar a instabilidade do real, a comerciante controla tudo o que entra e o que sai do or�amento. "Por isso, tenho que cobrar todos os trocos poss�veis, pois juntando tudo que d� para comprar outra coisa ou pagar uma conta." O consultor financeiro Pedro Braggio diz que todos os consumidores deveriam se espelhar em Maria. "A popula��o precisa ter consci�ncia do valor e do que se perde ao ignorar aquele R$ 0,01 ou R$ 0,03 no mercado, na padaria."
Para fazer bom uso das moedinhas, os especialistas em finan�as pessoais orientam n�o desperdi�ar nem ignorar as de pequeno valor. A sugest�o � guard�-las e, � medida que se alcance uma quantia razo�vel, troc�-las por notas em bancos ou em estabelecimentos comerciais. Dessa maneira, segundo os economistas, os n�queis podem circular e garantir o troco de muitas pessoas.
Se guard�-las � um problema, a dica � que o consumidor se obrigue a usar as moedinhas todos os dias. "Vale lembrar-se delas na hora de comprar uma bala, o p�ozinho ou at� mesmo um pacote de arroz ou de feij�o. N�o se deve perder nada", enfatiza Braggio. (ACD)