Belo Horizonte e Bras�lia – A facilidade na hora das compras fez com que a advogada J. C. S., de 28 anos, adquirisse tr�s cart�es de cr�dito. O que ela n�o imaginava � que o descontrole de gastos com o cr�dito iria gerar custos cinco vezes maiores que sua renda mensal. “Fui gastando e quando a fatura chegou veio a surpresa: gastei R$ 5 mil a mais do que eu poderia. O problema � que nem sei com o qu�”, explica.
A situa��o da consumidora ilustra uma realidade que come�a a ficar frequente na vida de muitos dos brasileiros. As faturas dos cart�es de cr�dito est�o complicando ainda mais o or�amento dos endividados. De acordo com dados divulgados pelo Banco Central, a inadimpl�ncia com o cr�dito rotativo dos cart�es de cr�dito j� passou de 33,6% em junho para 34,8% em julho. � mais de quatro vezes que o registrado na inadimpl�ncia com outros tipos de financiamentos. Para ter ideia, o calote com o cheque especial ficou em 7,9%, o do empr�stimo pessoal (excluindo o consignado) foi de 7,6% e na aquisi��o de ve�culos se limitou a 6%, no mesmo per�odo.
No cen�rio atual, o brasileiro que embarcou no otimismo do governo entre 2010 e 2012 e assumiu pesadas d�vidas para financiar o carro zero quil�metro, a TV de tela plana e a m�quina de lavar pode, agora, ter uma surpresa ainda mais desagrad�vel no bolso. Com a alta de juros comandada pelo Banco Central (BC) desde abril, as taxas de empr�stimos que possam vir a ser assumidos tendem a ficar mais caras, uma consequ�ncia direta da eleva��o da taxa Selic da m�nima hist�rica, 7,25% ao ano, como estava at� mar�o, para os atuais 9%. Tradicionalmente, sempre que os juros sobem, bancos e financeiras repassam a alta, cedo ou tarde, para o bolso do consumidor.
Como a tend�ncia � que a Selic ultrapasse os 10% at� o fim do ano, significa uma preocupa��o a mais para quem ainda planeja tomar dinheiro emprestado ou usar mais o cart�o de cr�dito. Como lembra o economista Arnaldo Curvello, diretor de gest�o de recursos da Ativa Corretora, a situa��o � ainda mais dif�cil para quem j� est� com a corda no pesco�o por causa de d�vidas velhas, adquiridas quando o governo baixou o Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) de carros, m�veis e eletrodom�sticos para bombar o consumo interno.
Levantamento do BC mostra que at� junho, o �ltimo dado dispon�vel, o endividamento do brasileiro chegava a 44,82% da renda acumulada nos �ltimos 12 meses. Trocando em mi�dos significa dizer que uma pessoa que tenha acumulado, em um ano, R$ 100 mil em sal�rios e outras rendas passou a dever, ao fim do mesmo per�odo, o equivalente a R$ 44,8 mil ao banco. “Isso � muito preocupante, porque mostra que o brasileiro j� abre o m�s com quase metade da renda comprometida com d�vidas. Nesse caso, se a situa��o apertar, ele vai ter que recorrer a outro empr�stimo banc�rio. � uma bola de neve”, comparou Curvello.
Apesar do alto endividamento, a inadimpl�ncia geral do consumidor apresentou queda de 5,5% em agosto. Foi o terceiro recuo mensal consecutivo, de acordo com balan�o divulgado ontem pela Serasa Experian. No entanto, no acumulado de janeiro a agosto de 2013, o �ndice apresentou alta de 2,2% na compara��o com o mesmo per�odo do ano anterior.
O economista da Serasa Luiz Rabi explica que o cart�o de cr�dito sempre foi o recordista do calote por conta da natureza do neg�cio. “Descontrole e m� utiliza��o s�o os principais fatores que levam esse tipo de cr�dito para o topo do ranking”, completa. Ainda de acordo com ele, o ideal � sempre pagar a fatura integral, j� que a taxa de juro do cart�o � a mais alta entre as linhas de financiamento – 9,37% ao m�s e 192,94% ao ano –, o que pode dobrar o valor da d�vida em apenas seis meses.
Para n�o cair na armadilha, o consultor financeiro Erasmo Vieira alerta que o cart�o � uma excelente ferramenta de compra, mas tamb�m uma das principais formas de endividamento, quando n�o � usado corretamente. Segundo ele, o ideal � n�o parcelar as contas fixas mensais, como as dos supermercados, nos cart�es.